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OPINIÃO

Joaquim Motta, escritor

Joaquim Motta Júnior, nosso velho e querido amigo, agora virou escritor. Puxando ao pai, foi um dos comerciantes mais fortes de Goiás, com a sua rede de lojas General Novilar e filiais em vários Estados. Foi também, além de outras atividades, o presidente-fundador do nosso saudoso Clube dos Cascateiros. Super animado, contador de “causos”, dizia para ele transformar seus “causos” em contos, publicando em livro. E agora saíram não um, mas dois: “Narrativas Familiar” e “Contos Leves”.

Quando disse puxando ao pai, é porque neste Narrativas-Familiar o autor trata exclusivamente da biografia da sua família, o pai, Francisco José da Motta e os 14 filhos, sendo o seu Francisco um “tremendo” comerciante, pois, natural de Catalão, comercializou em Mazargão, Santa Cruz de Goiás, Ubatã, Ouvidor, Araguari, Morrinhos, Pontalina, Cristalina, São João da Aliança, Guapó e, finalmente, Goiânia.

Contos Leves – Neste livro de 10 contos está “A lenda do forasteiro Amaro da Lage”, que ele havia me contado e consta no meu livro “Meu tio-avô e o Diabo”. Os contos são longos, muito bem engendrados, bom vocabulário, alguns poéticos, assuntos regionalmente colocados. Mas, como não poderia deixar de ser, em se tratando de um “principiante”, faltou o “toque do escritor”, que se adquiri com o tempo, mas valeu pela imaginação e correção perfeita dos textos, tornando o livro de agradável leitura.

Sempre que faço palestras em escolas uso contar estórias que tenham um cunho de ensinamento e neste livro do amigo Joaquim Motta encontrei um que vou resumir para contar aos alunos. É o conto Caolho, apelido maldoso do Elias, um dos 11 filhos de um agricultor extremamente pobre. Ninguém chamava Elias pelo nome, mas pelo apelido de Caolho, que o humilhava bastante. Pois bem, o rapazinho de 13 anos, não suportando mais a humilhação, resolveu fugir de casa, e fugiu. Passou por um acampamento cigano, onde foi bem recebido e depois pegou carona em um caminhão transportando cereais. Ajudou o motorista a descarregar a carga em uma arrozeira e o dono da indústria gostou em vê-lo prestigioso e ofereceu-lhe emprego. Ali trabalhou e estudou em uma escola noturna. Acabou sendo gerente da indústria e depois, proprietário, assim que o dono morreu. Mandou buscar os irmãos para trabalhar com ele, pois se formara advogado, operara o estrabismo, ficara rico e chegou a ser grande na política.

Mas qual a finalidade, a moral da estória? É que se ele não tivesse aquele defeito físico, estaria puxando o cabo do guatambu até hoje na roça do seu pai.

Saudosando – Clube dos Cascateiros – Criado em 1981, com 11 casais de comerciantes goianienses, participantes das Convenções do CDL - Clube de Diretores Lojistas por esse Brasil afora e até pescarias no Araguaia. Os casais do Clube: Joaquim Motta (presidente) e Alzira; Geovar Pereira e Selma; Luiz Aguirre e Lurdinha; Gilberto Rodarte e Lurdinha; Célio da Jóia e Lurdinha; Eurípedes dos Santos e Yone; Sebastião Peixoto (Risada) e Regina; Evaristo José dos Santos e Sônia; Rêmulo e Nirlene; Kalil e Vécia; e Waldomiro e Leuza.

Em nossas reuniões-jantares era proibido levar crianças, mas o casal Sebastião Peixoto e Regina levava os seus três filhos, alegando que não tinham com quem deixar, sendo um deles, o Bruno, atual deputado estadual.

No Clube a gente bebia, comia, cantava, rezava e... contava “cascatas”. Eram reuniões sem falar em coisa séria, principalmente, negócios. Os jantares, sempre simples, que o regulamento proibia ostentação. Os homens, ao chegarem, erguiam as suas doses de tequila (cachaça, limão e sal), batiam o pé e todos gritavam, Tequila! E, ao ingerirem as doses, tinham que recitar uma quadrinha: “A pinga é minha madrinha, meu padrinho, o garrafão. Padrinho traz a madrinha que eu quero tomar bênção.” As mulheres ficavam separadas dos homens. Cantorias e declamações, com velhas valsas e modinhas. Mas a coisa só ficava boa mesmo quando o Geovar pegava o violão e dava entrada: “Tenho uma viola que retiro da parede...” e declamava as sentimentais poesias da Sônia Maria.

Tivemos noites memoráveis, como em Caxias do Sul, quando o churrasco a nós ofertado foi servido por médicos e damas da sociedade. Também a noite de vinhos e queijos oferecida pela Colônia Italiana foi sem precedentes. Já em Recife, os sócios invadiram o Clube e acabaram com o nosso “bródio” que havíamos pago. Em compensação nos ofereceram uma representação da Paixão de Cristo em Nova Jerusalém, o maior espetáculo do mundo ao ar livre. Também foi lá em Recife que dentro do ônibus compus a música: “Você me pede qualquer coisa” e, com o Geovar: “Balança o saco meu bem... de confete e serpentina. ‘Tá todo mundo dando... meia volta no salão. Eu vou meter o dedo... nas cordas do violão. E vou cair de língua... num sorvete de limão!

Que Deus o conserve sempre alegre e prosador, amigo Joaquim Motta.

Macktub!

(Bariani Ortencio, escritor - [email protected])

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