Home / Opinião

OPINIÃO

Marrequinho voou alto rumo ao céu

Por nome registrado em Campo Formoso (Orizona) Francisco Ricardo de Souza e nacionalmente conhecido por Marrequinho, nos deixou aos 75 anos, depois de uma luta desigual com a doença da moda AVC (antigo derrame cerebral). Músico, compositor, cantor e escritor.

Fiz o prefácio do seu livro, Marrequinho – O menino de Campo Formoso, trabalho autobiográfico e registro antológico da nossa música caipira e sertaneja. Relata sua vinda para Goiânia, suas realizações na arte de compor e de cantar. Ninguém poderá pesquisar a música tida como Caipira sem consultar este magnífico compêndio, de linguagem primorosa, registrando, desde o advento de Goiânia, os pioneiros do rádio e do disco, primeiros a enfrentarem um microfone de Rádio: Zé Micuim, (Jorge Batista Ribeiro-meu compadre), Chico Onça (Rosalvo), Tiburtino (Henrique Cezar da Veiga Jardim) e Tiburneco, indo até os que vieram depois, Crystian & Ralf, Leandro & Leonardo, Zezé Di Camargo & Luciano, Bruno & Marrone...

São cinquenta capítulos vivos, bem narrados, a música sertaneja goiana abrindo o seu caminho glorioso para as gravadoras paulistas. Apresentadores famosos, como Moraes Cezar e Claudino Silveira, com os programas Nossa Fazenda e No Moerão da Porteira (Radio Anhanguera e Rádio Difusora). O fenômeno Goiá (Gerson Coutinho da Silva), quebrando a norma das letras caipiras, para o Português correto. Goiá chegou de Minas (Coromandel) com o nome artístico de Rouxinol, e formou o Trio da Amizade, com Zé Micuim e Goiazinho (José Ignácio), os primeiros a gravarem discos sertanejos (Columbia do Brasil), pelo Bazar Paulistinha.

Marrequinho, como gostava de ser chamado, fala dos seus sucessos, principalmente, a guarânia Pranto do Adeus, com sucessivas gravações e por grandes duplas e cantores-solo. Faz, também, trajetória dos violeiros, cantadores sertanejos que elegeram São Paulo, o paraíso da música sertaneja. Quem quisesse se realizar, fazer sucesso, teria que se bandear para a capital paulista, sendo o ponto tradicional de encontros, o Café Caboclo, no Largo Paissandu, esquina com a Avenida São João. Suas várias parcerias, mormente com um dos mais famosos compositores populares, Ubirajara Moreira, de Uruana. Todas as folias gravadas por Melrinho & Belguinha e demais foliões, tiveram, como embaixador, o Marrequinho, algumas vezes, o Adolfinho (das Velhas). Possuía uma voz grave, forte.

No capítulo XV conta a sua passagem pelo nosso Bazar Paulistinha, por quatro anos, onde foi secretário particular, auxiliar de escritório, motorista da família, e “testador” de candidatos a gravarem discos em São Paulo, inclusive o Lindomar Cabral (Castilho).

Diz que, num ato impensado, pediu demissão, que foi concedido, prontamente. Acontece que eu nunca segurei e nem seguro empregado que pede demissão, porque nunca será o mesmo.

O único Long-playing gravado fora do eixo Rio-São Paulo, foi dirigido por ele, na Rádio São Francisco de Anápolis, patrocinado também pelo Bazar Paulistinha: Show Sertanejo, gravadora RGE (São Paulo): Sinval & Dalmy, Adolfinho & Urso Negro, Duo Brasília, Ferreira & Tianinha, Reizão & Zé Rezende, Melrinho & Belguina, Nuvem Negra & Correinha e Loló.

Discute, ainda, a evolução ou deturpação da música caipira, passando por Sertaneja Raiz, Sertaneja Urbana, Urbaneja, Sertaneja Universitária, Sertaneja Popular Brasileira, seus compositores e intérpretes. Na Campininha, os primeiros pontos de encontros: Nosso Bar, Pensão da Brasilina e o Bazar Paulistinha. Os seus vinte anos afastado da música e motorista-entregador na firma Alô Brasil.

Amoroso, apaixonado, suas frustrações nos casamentos, que constam em várias de suas composições, sendo a mais importante delas, Pranto do Adeus: “Vais partir agora, os meus olhos choram ao te ver sair...”

Fez dupla com Marreco (José Onofre Leite) e gravou na RCA Victor. Tem como herdeiro artístico o filho Chico Júnior que, com o parceiro Fabrício, fazem sucesso nas noites goianas.

Em 1999 foi homenageado pela AGEPEL, com um livro e um CD – “Projeto Marrequinho – Uma Vida, Uma História”, dirigido pelo maestro José Eduardo Moraes. O seu outro trabalho: Marrequinho – 50 anos de Música – 1958/2008.

O autor orizonense tem conterrâneos ilustres na área da cultura, sendo alguns, entre outros, Dom Antônio Ribeiro de Oliveira, Benedito Silva (FGV), Sônia Maria Ferreira (Seculco), Terezinha Miranda (Tê Miranda-prosadora e poetisa), Geraldo Vale (jornalista e poeta), José Pereira da Costa (Zequinha da Costa), o fidedigno gramático que deve estar se revirando no túmulo devido a nova reforma ortográfica...

Macktub!

(Bariani Ortencio, escritor - [email protected])

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias