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OPINIÃO

Uma defesa psiquiátrica dos corruptos da Lava Jato

Esta não é uma daquelas psiquiátricas “compradas” para alegar que os réus são doentes mentais; seria banal demais. É uma defesa onde vou tentar  mostrar como a psicologia do povo e do Estado brasileiro está estruturada de modo a tornar a corrupção “inevitável” em nosso meio.

Como todos sabem, na formação do brasileiro estão imiscuídas três “raças”, a negra, indígena e a branca. Esta última traz em sua constituição psicológica uma espécie de revolta e uma espécie de  “espera de um futuro menos sofrido”. Os povos arianos-indo-europeus (brancos) vagavam da Índia à Mesopotâmia, depois para Rússia e para Europa, como desesperados errantes em busca de um “lugar melhor”, que, aliás, segundo sua concepção, “nunca achavam” (ver “Caminho da Luz”, Ed. Feb). Sua “revolta interior” fez com que não crescem  em um “Deus bom e misericordioso” e, em decorrência disto, não respeitavam “autoridades individuais” (até do monoteísmo eles fugiam, seus deuses eram vários, guerreiros, antropomorfizados). Os indo-europeus, nesta fase, eram seres errantes, desesperançados, agressivos e, em decorrência da agressividade, paranoicos (ver, “The indoeuropeans, M. Gimbutas”). A paranoia, apesar de patológica, é um tipo de “razão” (“noos”, “noia”, em grego, remete à “razão), é um tipo de auto-afirmação: “Querem me destruir porque eu tenho vontade própria, firme, orgulho, ação, e não abro mão deles.” O inteligente, o racional,  de certo modo, é poderoso, altivo, e preocupado.

Por outro lado, na península ibérica (aí incluso Portugal, nosso berço), os indo-europeus – basicamente um composto de povos latinos e germânicos visigodos – sofreram a influência contrária dos muçulmanos invasores, povo dado ao monoteísmo, autoritarismo institucional e à doce vida da família, dos amigos e do círculo circunvizinho (cf. dados de S.B.Hollanda - Raizes do Brasil) . Os “mouros” tornaram os ibérico-arianos mais “família” e mais obedientes/dependentes do Estado autocrático. Esta última  característica tornou relativamente fácil a assimilação entre os portugueses e as culturas negra e indígena, pouco racionalizadas, e, portanto, mais voltadas para o afeto familiar-comunitário-tribal-amical.

Isso tudo fez de nossa constituição psicossocial brasileira algo “bipolar”: por um lado, uma casta dominante, orgulhosa, racional, poderosa, dinheirista e, por outro lado, uma população amigável, pacificada, passiva, família, mais voltada para a agregação , mais voltada para o aqui  e o agora  do que para o futuro, para a “preocupação”. O grupo mais “racional”, em nome do poder, do dinheiro, sacrifica aquelas coisas caras à população “amigável”: família, afeto, dia a dia amistoso e comunitário. Observem, por exemplo, as raras vezes que vemos políticos poderosos em shoppings ou atividades abertas com a família.

Não é por serem amigáveis que mouros, negros, índios, deixavam de brigar, pelo contrário: a falta de respeito à uma lei coletiva, racional, preocupada com o futuro, torna estes povos muito sujeitos a brigas entre eles, confusões e desorganizações intergrupais (não é à toa que o Brasil é campeão mundial em “justiça com as próprias mãos”, homicídios [dados OMS]). Como são passivas, e por isto pouco racionais-futurizadas-organizadas, estas populações são facilmente vítimas do discurso dos poderosos: “Vamos organizar vocês.” E, de fatoo, organizam, mesmo que de modo muito precário, engambelativo e patrimonial (aproppriam-se do patrimônio de todos). A casta racional, evidentemente diz que “vai organizar o meio de campo”, assenhorando-se do Estado. Cria-se, então, um Estado  que extrapola, e muito , suas funções regulatórias, sua função de “contrato social”, tornando-se um Estado que funciona mal e para o benefício de poucos.

As “castas inferiores” – sobretudo aqueles que vão se europeizando pouco a pouco – começam a reclamar. O estamento dominante arruma um jeito de calar-lhes a boca: empregos no Estado. Cria-se, assim,  uma burocracia estatal, burocracia esta que vai evoluindo e ficando mais poderosa (vide os conceitos da burocracia estatal em M. Weber, Economia y Sociedad, Ed. FCE).

Esta burocracia, neste estágio do desenvolvimento da nação, ainda não  ameça a alta cúpula estatal (os “político-governantes”, a mais alta casta governamental), mas já começa mostrar um poder e colocar as garrinhas de fora: criam leis e mais leis, dizendo que estão regulando os povos não-racionalizados e também leis para o próprio benefício (p.ex., aumentando seus poderes, salários, benesses, regalias previdenciárias, etc).

Esta “casta burocrática”, logo entrará em combate com a “elite político-governamental superior” (aquela dos “votos” e entourage circunjacente ) – começamos a ver isso no Brasil de hoje.

Esta “casta superior” político-governamental, aquela que desde os primórdios domina o Estado, também tem uma ramificação na Sociedade Civil: cria o alto empresariado, aquele que, apesar de não estar no Estado, alimenta o Estado e é alimentado por ele. Este alto empresariado, que tem o Estado sempre a seu lado, em muitas ocasiões tenta derrubar a concorrência comercial-industrial pertencente aos menos aquinhoados fazendo e estimulando leis que irão asfixiar os pequenos/médios. Usam destas leis quando lhes são favoráveis, p.ex., um grande grupo hospitalar, que queira derrubar outros menores, induz seus legisladores-teleguiados (de preferência algum que também tenha interesse pessoal ou personalístico – parentes, amigos, empresas – na área) a criarem leis, normas, regulações, que ajudem a derrubar a concorrência. Exemplos deste tipo de “leis” são vários: exigência que cada hospital, mesmo minúsculo, daqueles que só consomem mesmo enfermeiras e médicos, tenha leitos de UTI, farmácia hospitalar, cozinha hospitalar, lavanderia hospitalar, e que tenha “tantos e tantos farmacêuticos, nutricionistas, fonoaudiólogos (para UTI e outros locais), psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, etc”.

Se um administrador do hospital particular diz que, na prática, só precisa mesmo de enfermeiros e médicos para funcionar, os criadores das leis corporativas dizem que é possível, sim, ter tanta gente, pois o Governo tem. Só esquecem de dizer que o Governo tem bilhões nossos para torrar, podem construir torres de marfim e contratar um harém para não fazer nada, e além de tudo, não é fiscalizado, cobrado, punido, judicializado, como o são os particulares. Ele detêm, sim, os melhores prédios, as melhores e mais numerosas equipes, pena que tudo funcione tão mal, ou não funcione de jeito nenhum.

Esse tipo de lei relatada acima, desnecessária, irreal, asfixiante, vai crescendo e virando uma mortal bola de neve, tão mortal que só  Goiás fechou 20 hospitais nos últimos cinco anos.

Em síntese, leis feitas para os cabides de emprego e torres de marfim do Governo, mas que são aplicadas na já pauperizada iniciativa privada.  Tantas leis e mais leis que, se forem aplicadas de fato, asfixiam o país, pois quase ninguém consegue cumpri-las.

Continuaremos essa discussão no próximo artigo, terça-feira, acessível em dmdigital.com.br

(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra, artigos as terças, sextas, domingos)

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