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Tributo a Cora Coralina para homenagear todas as mulheres

A passagem de 8 de março, quando o mundo celebra o Dia Internacional da Mulher é boa oportunidade para lembrar de uma das maiores da sua geração e que nasceu em Goiás: Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas ou, Cora Coralina e com sua história homenagear a todas as mulheres.
Gênio que agradou paladares com doces tradicionais da cozinha goiana e perturbou mentes com versos impares e eternos. A vida dessa mulher a faz diferenciada em todos os sentidos. Nasceu na cidade de Goiás, em 20 de agosto de 1889 – 45 dias antes da Proclamação da República e pouco mais de um ano após a Libertação dos Escravos: “Pertenço a uma geração ponte, entre a libertação dos escravos e o trabalho livre.//Entre a monarquia caída e a República que se instalava” – escreveu ela no poema Cora Coralina, Quem é você? E ela foi realmente ponte entre os extremos dessas duas margens da história.
Seus primeiros versos são datados de 1903, quando tinha 14 anos. Em 1908, aos 19 anos, cria o Jornal de Poemas Femininos, com outras duas moças de Vila Boa. Numa época em que moças que liam não eram bem vistas, dá para imaginar o conceito das que escreviam: “Nasci para escrever, mas, o meio, o tempo, as criaturas e fatores outros, contra-marcaram minha vida” – denuncia ela no mesmo poema. E foi para não expor a família que Ana ficou identificando apenas a doceira.
A poetisa se auto batizou Cora Coralina e com esse nome teve seu primeiro conto, “Tragédia na Roça”, publicado no Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás, em 1910. Foi à primeira publicação literária assinada por uma mulher, que Anuário publicou. Em 1911 a família descobre que “Aninha” escondia um romance com o advogado Cantídio Tolentino Bretas, separado de uma índia, com quem tinha uma filha e proíbe o relacionamento. Ela foge com ele em lombo de burro, levando a filha – seis anos depois a família fica sabendo que os dois estão casados, na cidade de Jaboticabal (SP). Lá Ana teve seus cinco filhos: Paraguaçu, Enéias e Cantídio, Isis e Vicência, que se juntaram a Jacintha, a filha da índia, criada como sendo sua: “Vive dentro de mim a mulher roceira – enxerto da terra, meio casmurra.// Trabalhadeira.// Madrugadeira.// Analfabeta.// De pé no chão.// Bem parideira. bem criadeira” – confessa a poetisa no poema “Todas as Vidas”.
Enquanto Ana paria, criava e fazia doce, Cora escrevia versos, que chegaram as mãos de Monteiro Lobato e esse fez questão de procurar a poetisa para participar da Semana de Arte Moderna de 1922. O marido não deixou. Em 1932 se oferece para ser enfermeira voluntária durante as batalhas da Revolução Liberal. O marido Cantídio morre em 1934. Viúva, Cora vai vender livros na Editora José Olímpio, na Capital Paulista.
Em 1956, com os filhos já adultos e com os pais mortos, decide voltar para a cidade de Goiás, uma vez que herdou a casa da família, que chamava de “Casa Velha da Ponte”. Tinha 67 e intensifica a produção literária. O primeiro livro, “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”, só foi lançado em 1965, aos 74 anos.
Em 1976 publica “Meu Livro de Cordel”. 1980, Carlos Drummond de Andrade lê os originais de “Vintém de Cobre – Meias Confissões de Aninha” e rasga elogios a poetisa. O prestígio nacional chega enfim. Cora Coralina tinha 91 anos.
Em 10 de abril de 1985, aos 95 anos, morre, em um hospital de Goiânia, a “ponte” que ligou uma forma da mulher agir a outra. Cora Coralina está sepultada no Hospital São Miguel, na cidade de Goiás. Foi sem dúvida uma das maiores mulheres do seu tempo e é sem dúvida um dos maiores vultos históricos goianos, que pode ser inserido entre os maiores do Brasil.

(Alcides Ribeiro Filho, professor, empresário)

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