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Café com prosa no Sesc de Caldas Novas

Prosa, segundo o Dicionário Aurélio, é “a maneira natural de falar ou de escrever, sem forma retórica ou métrica. Aquilo que é vulgar, trivial ou material. Astúcia, lábia, conversa fiada. Indivíduo proseador”. Prosa são momentos onde dispomos de tempo livre, que nos dedicamos aos amigos e às atividades de lazer.

Caldas Novas é uma cidade internacionalmente conhecida por ser uma estância de águas termais, localizada no Estado de Goiás, que em tempos normais tem uma população aproximada de 100 mil habitantes, mas em tempos de férias ou feriados prolongados, multiplica em várias vezes esse quantitativo, recebendo turistas dos mais variados lugares do Brasil e do exterior. Suas águas quentes constituem uma atração indescritível, que proporciona via pousadas e hotéis, localizados por toda cidade e interior do município, um descanso revigorante que deixa saudades em quem a visita.

Lá em Caldas Novas, o comerciário tem um espaço de aproximadamente de 200 mil metros quadrados, constituídos por blocos de apartamentos, extenso lago e verdejante em sua extensão.

O Sesc – Serviço Social do Comercio, criado em 13 de setembro de 1946, nasceu com o objetivo de contribuir para o bem-estar e melhoria da qualidade de vida dos comerciários e de suas famílias e para o aperfeiçoamento moral e cívico da coletividade. Instituição de natureza assistencial e de direito privado, mantida e administrada pelos empresários do comércio de bens, serviços e turismo. O Sesc-Goiás é presidido por José Evaristo dos Santos, maçom da Loja “Asilo da Acácia”, de Goiânia e Conselheiro Federal do Grande Oriente do Brasil, seu diretor regional é outro maçom, Giuglio Settimi Cysneiros, da Loja “Estrela da Serrinha”.

Ponto marcante das atividades culturais, aprendizagem das crianças para o manuseio de argila e comemorações de datas especiais, é uma casa restaurada, cercada de árvores centenárias e que tem sua identificação em uma porteira de entrada, placa com os dizeres: “Serviço Social do Comércio – Em 1778, Martinho Coelho de Siqueira, o descobridor das águas termais de Caldas Novas, construiu esta casa. A primeira da cidade.”

Nesta casa em 26 de março último, passei horas esquecido do mundo estressante em que vivemos, retornei à minha infância, recordei minhas origens, sob a sombra de frondosas árvores, participando do Café com Prosa no Sesc de Caldas Novas, que acontece todas as tardes de sábados a partir das 15 horas.

Presente grande número de comerciários e suas famílias, que ao sabor de um café servido em xícara esmaltada, acrescido de uma peta muito caseira, ouvimos a poetisa Sônia Maria Santos, esposa do presidente da Fecomércio – Goiás, José Evaristo dos Santos, iniciar a conversa com o poema “Café com Prosa”.

“Saudações cordiais aos senhores e senhoras do Estado de Goiás e desse Brasil afora. Nesse pedaço de hora vamos ouvir e cantar, como canta o passarinho, a água, o vento, o pomar.

Sob a casa e seus beirais, casa aberta, casa de roça, segue cantando o violeiro com a magia das suas cordas. E seguem os fusos e rocas, os teares, as tecedeiras; mãos suaves e perfeitas vindas de um tempo afora.

O gerente, que é boa gente, também canta e toca viola, do seu Toninho, o proseado, e bem contado como ele gosta. A todos que aqui se encontram, frequentadores do Sesc, com bolo e cafezinho quente, o Café com Prosa agradece.”

Sônia Maria Santos é poetisa premiada nacionalmente pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro e pela Academia Goiana de Letras, recebendo os prêmios Francisco da Silva Nobre e Colemar Natal e Silva. Também destaque cultural de 2012, com o Trofeu Santuário da Arte e a Comenda Berenice Teixeira Artiaga.

Reunidos ali ouvimos músicas do passado, causos e mais causos, proseamos muito com o seu Toninho cantando e executando seu violão, Marcos Faria no bandolim, Inácio, animador da prosa no “cajon”, instrumento de origem peruana, na sanfona, o garoto Gabriel, que já tem CD gravado, com o gerente Marlos cantando e tocando viola.

No Caderno de Músicas entregue aos presentes, constavam dezenas com suas letras, que de uma forma muito descontraída eram solicitadas e por todos cantadas.

Músicas como “Velho candeeiro”, “Boiadeiro errante”, “Cabecinha no ombro”, “Colcha de retalhos”, “Destinos iguais”, “Cabelo loiro”, “Disco voador”, “Flor mamãe”, “Luar do sertão”, “Moreninha linda”, “Beijinho doce”, “Reino encantado”, “Flor do cafezal”, “Serenô”, “Coração da pátria”, “Beicinho vermelho”, “O menino da porteira”, “Pedaço da minha vida”, “Tristeza do Jeca”, “Meu primeiro amor”, “Índia”, “Cabocla Teresa”, “Rio de lágrimas”, “Assum preto”, “Caminhemos”, “Último adeus”, “Ipê e o prisioneiro”, “Filho pródigo”, “Saberei sofrer”, “Noite cheia de estrelas”, “Última Inspiração”, “Capricho cigano”, “Chão de estrelas, “Noites goianas”, “E o destino desfolhou”, “Casinha pequenina”, “Saudades de Matão”, finalizando com “Meus tempos de criança”, que trouxe emoção e lágrimas, no recordar para os presentes: “Eu daria tudo que tivesse pra voltar aos tempos de criança. Eu não sei porque que a gente cresce. Se não sai da mente essa lembrança.”

Uma senhora emocionada disse ao final: “Voltei aos meus tempos felizes, recordei o meu passado e a minha gente, saio daqui muito melhor do que cheguei.”

Desejo neste artigo cumprimentar o gerente Marlos, cantor de voz afinada e animador; seu Toninho, músico e contador das coisas da terra de Caldas Novas; Max Faria, exímio no bandolim; Gabriel, na sanfona, e Inácio, sempre organizando o Café com Prosa, no “cajon”. O encerramento, após cantorias, causos e muita descontração, teve um poema no linguajar sertanejo, antecedendo a “Oração da Família”. Este poema, trova popular, foi interpretado pelo presidente da Fecomércio, José Evaristo dos Santos.

“Esse negócio de gosta e bem querê. É difícir de arresorver. Gosto das muié de olhos castanhos, de olhos verdes e de qualquer cor que seja. Umas tem as perna grossa, outras as perna fina. Oh meu Deus! Se eu pudesse levava tudinhas para minha roça.

Se a gente com 20 muié se casasse, mas não. É uma só que dói. A nosso Sinhô Jesus Cristo. Um pedido eu te faço. Arruma as muié tudinha numa só, ou me divide em pedaços.”

Café com Prosa no Sesc de Caldas Novas, todos os sábados à tarde, é para não perder!

(Barbosa Nunes, advogado, ex-radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil - [email protected])

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