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OPINIÃO

O Sebrae e o pacto de Niquelândia

Nesta sexta, 29 de abril, está previsto o lançamento oficial do Pacto de Cooperação pelo Desenvolvimento de Niquelândia, o município da região norte de Goiás que abriga o maior manancial do níquel (daí o nome Niquelândia), até agora explorado pela Votorantim Metais, que ali se instalou há cerca de 40 anos.

Com a anunciada suspensão, pela Votorantim, de suas atividades no mesmo município e a consequente demissão de cerca de 800 trabalhadores locais, Niquelândia entrou em pânico. A prefeitura municipal, em clima de tensão, vem lamentando a perda dos royalites e as micros e pequenas empresas fornecedoras, lamentavelmente vêm fechando suas portas. É a crise que vem do mercado internacional, invadindo o território nacional e já desaguando nas fronteiras municipais.

Certamente essa inquietação agita as associações de classes, os sindicatos de trabalhadores e mobiliza os líderes locais na busca de soluções para conter ou contemporizar a crise. Por estranho que pareça, é da crise que nasce a prosperidade, quando congrega esforços coletivos em nome da solidariedade, que se vale da criatividade como fazem os tripulantes que não querem ver soçobrar o barco furado.

Por trás dessas avalanches sociais que decorrem de crises econômicas, está um parceiro salvador de barcos agitados em águas revoltas: referimo-nos ao Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) em Goiás, que tem por timoneiro o doutor Wanderlan Portugal, e por trás do Sebrae em Goiás, está a figura de um dos criadores de pactos no Brasil, mais precisamente no Ceará e na Paraíba, que é o consultor Cícero Sousa, sobre cujas ações este escriba já se ocupou em dois artigos publicados neste mesmo veículo.

A ideia do pacto

A serviço do Sebrae, o advogado Cícero Sousa esteve em Niquelândia no dia 22 de fevereiro, onde proferiu palestra e participou, como ouvinte, de reuniões entre os líderes locais e os representantes da Votorantim Metais: aqueles impondo suas reivindicações e estes resistindo aos supostos exageros, embora admitindo sua responsabilidade social no impacto provocado com as demissões anunciadas. Estava criado um impasse de difícil solução, não fosse a intermediação e apresentação pelo guru do Sebrae no sentido da criação do Pacto de Niquelândia.

Mas vale ressaltar que da parte dos interlocutores, também o Sebrae encontrou em Niquelândia terreno fértil para a conciliação dos interesses opostos. Nestas ações, o Sebrae “está sempre a cumprir a sua missão de oferecer soluções, promovendo o empreendedorismo e o desenvolvimento”, é o que reconhecem os demais parceiros chamados à composição, assim acolhendo as alternativas e os projeto orientados pelo já mencionado diretor técnico do Sebrae em Goiás, Wanderlan Portugal.

Desde março, o primeiro passo foi dirimir os conflitos de natureza político-partidária. Desta vez, importantes líderes locais, que se digladiavam entre si, entenderam que pacificar e participar de iniciativas em conjunto, era condição sine qua non para a existência de um pacto. Hoje todos integram o movimento que já se avoluma em acordos e apoios importantes como os do Sebrae e do governo do Estado.

A cultura do pacto

Vale lembrar que um pacto assim realizado nos mesmos moldes como de outras regiões do País, gera poder e autossuficiência para a sociedade, que resgata a autoestima e estabelece uma nova mentalidade e uma nova cultura, a de que todos os munícipes são corresponsáveis pelos destinos de sua cidade. O movimento deflagrado em Niquelândia já conseguiu abrir os olhos da população para o impressionante manancial de riquezas naturais esbanjadas pelo município, além dos já conhecidos recursos minerais, inclusive com enorme potencial econômico para o agronegócio e o ecoturismo.

Neste mês de abril Niquelândia iniciou uma maratona cidadã: cinco grupos de voluntários reunidos por áreas – de infraestrutura e meio ambiente, de relações com o poder público, de justiça e direitos do consumidor, de desenvolvimento social e de desenvolvimento econômico – sob a coordenação do competente consultor do Sebrae, mapearam as vocações econômicas do município. O produto dessa atividade participativa integrará um plano participativo de desenvolvimento estratégico a ser consolidado com o Pacto de Cooperação para o Desenvolvimento de Niquelândia.

O grupo gestor do Pacto, que vem liderando o processo de sua construção, tem como representantes, o advogado Paulo Martins, o professor Fainy Rodrigues, da UEG, e os jovens empresários Lucas Souza e Ronaldo Fernandes, todos motivados pelo amor à sua comunidade. O prefeito Teixeira envolveu todo o seu staff com o movimento, líderes religiosos abriram seus templos e as escolas por sua vez ouviram palestras motivadoras do porta-voz do Sebrae. Enfim, toda a comunidade local, mobilizada, está deslumbrando as luzes de um novo amanhecer nos horizontes de Niquelândia.

A saída da Votorantim já não representa uma catástrofe, mas uma nova oportunidade para a cidade redescobrir seu potencial humano que estava escondido por trás das placas de níquel. O Pacto de Niquelândia poderá representar um exemplo a ser seguido por outras comunidades goianas que saberão como tirar proveito da crise, que vem de fora, desafiando a invenção da prosperidade, que vem de dentro.

(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa. E-mail: [email protected])

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