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OPINIÃO

Namora-se por amor e mata-se por amor

Lenda ou alegoria, o certo é que a concepção divina do homem é alguma coisa sublime. A narrativa simbólica do Éden está na consciência coletiva das pessoas. Pouco importa a religião e o Deus professado. O mais significativo e simbólico é aceitar que um ser onisciente e onipotente deu início a tudo, transformando o caos primitivo em toda essa obra prodigiosa que é o nosso universo. É bom lembrar que podem existir outros universos. Seriam então os multiversos. Em se tratando de Deus tudo é possível.

Como se deduz logo, a relação do homem com a mulher é uma verdade ontológica, filogenética, criacionista e evolucionista. Qualquer que seja a teoria, esse vínculo , esse liame dos dois sexos sempre existirá. A questão maior aqui abordada volta-se para a perturbação, os conflitos dessa aliança, que deveria ser de puro afeto, amor, carinho, zelo de um pelo outro; mas não é assim dantes, agora e sempre.

Diz então a narração da criação (Gênesis) que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. E viu então que essa criação resultou bela e perfeita. Mas, faltava alguma coisa, a mulher, aquela companhia e oposta sexual do Adão. O diabo é que a Eva, meio displicente e muito curiosa se deixou ser ludibriada pela sagaz serpente e sabemos o resultado do enredo, ela não resistiu e mordiscou a fruto proibido, fazendo irromper a ira do senhor.

Enfim são questões alegóricas e religiosas apenas para lembrar as relações conjugais daqueles e de nossos tempos.

Revendo e assistindo às relações humanas de nossos tempos ficamos a pensar, como o espírito de satanás continua a permear e martirizar os laços conjugais das pessoas. A história shakespeariana de Romeu e Julieta, e algumas outras de amor eterno, de juras e cumprimento de amor único , do começo ao fim, soa hoje, algo utópico e puro delírio ou ilusão, tais são as desavenças e conflitos dos casais.

A banalização e violência na vida dos casais de hoje atingiram características e níveis inauditos. Primeiro a questão da banalização. O que seria o ideal e excelência numa relação a dois? Que esse contato e interesse pelo outro fossem regidos pelo respeito, pela generosidade, cuidado e proteção. Pouco desses atributos e virtudes é praticado pelo homem e pela mulher. Todo namoro e casamento ou a chamada união estável dos casais( homem /mulher) deveriam ser cultivados por esses princípios iniciais e durar o quanto fosse bom, agradável e produtivo para os dois. Se chegou a um ponto, não deu certo, não queira torturar, maldizer ou matar o outro. Cada um tem o direito de uma 2ª chance à felicidade a dois.

É intrigante e curioso constatar o quanto esses valores de humanização nas relações têm perdido o seu sentido nessa era da internet e das tão massivas redes sociais. Cada vez mais nossos jovens vêm perdendo os vínculos afetivos, a prática do amor, da generosidade e cuidado de seu cônjuge. Cada dia mais se vê a perda de identidade nas “relações amorosas”. A regra vigente e da moda é o “ficar”, os encontros fortuitos, sem compromisso afetivo sério.

Uma segunda questão seriíssima que tem dominado as cenas de nossa sociedade e das manchetes de jornais refere-se a violência contra a mulher nas relações. O adjetivo conjugal aqui se revela até como força de expressão, dada a superficialidade das relações . “Contra a mulher” também encerra uma expressão emblemática por ser ela (mulher) a principal vítima. O homem, minoritariamente, também é vítima nas relações a dois. Se o feminicídio prepondera, de vez em quando vimos ocorrer também o “ hominicído”.

Uma das explicações do agressor ser o homem é o senso coletivo e ancestral do machismo, do domínio do mais forte sobre o mais frágil (mulher) e uma certa cultura de menos-valia, servilismo e submissão da mulher em relação ao homem. Sensação algo retrógrada e inaceitável nos dias de hoje, no estágio de cultura e desenvolvimento no qual nos encontramos.

Quando visitamos detidamente a história e as relações do homem com a mulher, temos a oportunidade de constatar que a violência, a agressão, a exploração da mulher sempre existiram. Tal violência aqui diz respeito ao foco na mulher como objeto de satisfação carnal, em uso sexual e exploração nos mais variados níveis de desejos e instintos.

O que se presencia hoje perpassa muito os limites da razoabilidade, do sensato e do afeto nas relações a dois. Assistimos, diariamente, aos referidos crimes passionais e casos em que diante de um término de um namoro ou separação o sujeito( o homem em geral ) inicia uma perseguição, ameaças, agressão moral e física e assassinatos. E não são poucas as vítimas desses sociopatas e predadores. E o que tem sido pior, a justiça e a lei Maria da Penha pouco têm feito para proteger as vítimas desses diabólicos agressores.

(João Joaquim de Oliveira, médico e cronista do DM Goiânia Go  www.drjoaojoaquim.com [email protected])

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