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OPINIÃO

A efetivação do papel social, cultural e político da mulher goiana

A participação feminina no processo de desenvolvimento social e cultural em Goiás sempre foi relevante. Desde o século XIX, com a fundação do jornal A Matutina Meiapontense em Pirenópolis em 1830, a mulher demonstrou interesse pelas perquirições intelectuais no legado de Honorata Minelvina Carneiro de Mendonça, que sob o pseudônimo de “A Apaixonada”, abriu campo para a voz feminina até então apagada de uma maneira geral.

O magistério foi outra atuação notável da mulher na Província de Goiás que, desde 1842 com a nomeação de Maria Romana da Purificação Araújo como professora primária efetivada, também propiciou o florescer de um trabalho de mérito, prosseguido por Silvina Hermelinda Xavier de Brito, Pacífica Josefina de Castro, Rita Sérgio Lacerda dos Santos, Maria Henriqueta Pèclat, Colombina Caiado de Castro, para lembrar apenas as mais famosas da Capital do Estado, então, Cidade de Goiás, ao passo que, no interior, outras tantas fizeram história e se perpetuaram no tempo.

Nesse período, final do século XIX, o significado de cultura e de requinte foi influenciado no Brasil e em Goiás pelos elementos que marcaram de forma profunda a sociedade burguesa europeia e sua vivência peculiar.

A necessidade premente na pós-república de uma consciência desvendante de si mesma, a sociedade buscava firmar-se no padrão de beleza e de finesse, de glamour e de elegância, evidentemente copiados do modelo francês no falar, no vestir, no escrever, no pensar e no agir. A sociedade – e principalmente a mulher – tornou-se alma plena de afetação e distanciamento com a realidade brasileira, como o caso do jornal A Rosa e O Lar.

Na literatura do fin-de-siècle eivada pelo simbolismo de inspiração notadamente francesa, ajustou-se aos fundamentos da bèlle èpoque, surgida após a grande depressão do alcunhado decadentismo.

Fruto de um capitalismo ocidental, a bèlle èpoque primava pela sofisticação artística e intelectual, espécie de emblema do status social a que o escritor – geralmente um pequeno burguês – afidalgava-se aos olhos do público. E com a mulher mais ainda, pois a escrita dava-lhe um requinte e ao mesmo tempo um reconhecimento.

Assim, chegava ao Brasil os reflexos da bèlle èpoque, marcando o prenúncio de uma consciência de vida social calcada nas possibilidades geradas pela modernidade (telefone, telégrafo, energia elétrica) e uma retomada do tradicionalismo arraigado à força dos nomes de famílias, hábitos aristocráticos de um grupo diminuto, porém, detentor da hegemonia política, social e cultural, frequentador dos salões com seus saraus, tertúlias, conferências, chás e jantares, formando a noblesse citadina, no mais fino requinte à francesa. Mesmo na antiga capital de Goiás, perdida entre as cordilheiras em pleno coração geográfico do Brasil tal fato aconteceu.

Sobrepondo-se à linguagem corriqueira da casa, as mulheres goianas encontraram nos distantes dias de 1907, no jornal A Rosa um meio para a expressão das ideias que o espaço doméstico não lhes permitia discutir.

Apesar do meio e do tempo adverso ao florescer das jovens inteligências femininas, três mocinhas se destacaram em 1905 na produção de jornais manuscritos na velha capital do Estado: Maria Paula Fleury de Godoy (O Baumann); Anica Jardim (O coração) e Josefina Pinheiro de Lemos Mendes (O Fígado); sendo que o primeiro jornal manuscrito de Maria Paula Fleury aparece ao final desse projeto no original de mais de cem anos.

Em 1907, passou a circular na Cidade de Goiás o hebdomadário A Rosa, essencialmente literário e com boa qualidade gráfica em papel cor-de-rosa.

O jornal nasceu do sonho do jovem Heitor de Morais Fleury (1889-1972), que mais tarde viria a ser o primeiro Juiz de Direito de Goiânia, um dos mais ferrenhos pioneiros da nova capital do Estado, juntamente com sua esposa Josefina Caiado Fleury.

Eram colaboradoras de A Rosa: Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (Cora Coralina), Alice Augusta de Sant´Anna Coutinho, Rosa Santarém Godinho Bello, Leodegária de Jesus, Illydia Maria Perillo Caiado e Judite Fleury. A maioria delas se escondia sob pseudônimo; por pudor ou receio do julgamento público. Seguindo o costume da época, esses pseudônimos eram, em sua maioria, franceses.

Tendo por redator chefe o intelectual Josias Santana (Yoiô), A Rosa possuía boa qualidade gráfica, com vinhetas sugestivas. Seu título, em manuscrito, era emoldurado por rosas variadas.   Havia colaborações de literatos da época como Luiz do Couto, Eugênio Leal da Costa Campos, José Hermano, João d’Oliveira, J. Antunes, João Nascimento e até colaborações do Rio de Janeiro, como João de Lima, correspondente do Estado da Guanabara.

Mesmo assim, o jornal A Rosa circulou, conforme diário deixado por seu fundador, apenas em 23 números em 23 meses, de fevereiro de 1907 a janeiro de 1909, marcando o fim do governo de Xavier de Almeida, pois logo aconteceria a Revolução Branca, em que teria início o caiadismo. Portanto, o Jornal A Rosa foi emblemático de uma era que se findou nos sertões do Brasil Central.

Nos anos de 1910 a 1920 não houve imprensa essencialmente feminina no Estado de Goiás, apenas algumas participações de mulheres vilaboenses na Revista Feminina de São Paulo como Maria Paula Fleury de Godoy, Mariana Augusta Fleury Curado e Maria Adalgisa de Amorim Caiado, ou mesmo, alguns artigos publicados no Jornal O Democrata por Jacinta Luiza do Couto Brandão Peixoto e Illydia Maria Perillo Caiado (Zizi) sobre o ambiente bucólico da Cidade de Goiás.

Merece destaque no alvorecer do século XX, a luta das mulheres para a criação de uma Academia de Direito, que ocorreu em 24 de fevereiro de 1903, conforme o grupo que propiciou apoio e fez questão de, juntas, assinarem a ata histórica: Rosa Santarém Godinho Bello, Noemi Lisboa de Castro, Ana Augusta de Morais, Iraídes de Oliveira Lisboa, Cândida Geraldina Bonsolhos, Augusta Sócrates Gomes Pinto, Rosa Macedo, Aquilina Gama, Cornélia Ouekinghaus, Virgínia da Luz Vieira, Ermelinda Brom, Araci Monteiro Artiaga, Erotildes Bonsolhos, Maria Geraldina Gonzaga, Rosa Britto e Nicoleta Bonsolhos.

O mesmo aconteceu treze anos depois quando se fundou a Faculdade Livre de Direito de Goiás instalada em 01 de julho de 1916 com a participação de mulheres pioneiras como Angélica Reis, Esmeralda dos Reis, Maria dos Reis Araújo, Maria Ayres do Couto, Mariana Pèclat, Maria Von Bentzen, Ana Maria Jácomo, Hebe Brandão, Maria Angélica da Costa Brandão, Diana Brandão, Maria da Glória Costa Oliveira, Carlota Ramos Jubé, Anita Perillo, Maria Martins Marques, Angélica Pinheiro de Lemos, Araci Monteiro, Rosa Santarém Godinho Bello e Genezy de Castro.

No ano de 1925, um grupo de senhorinhas goianas, arregimentadas por Oscarlina Alves Pinto, a Calita, poeta residente no Largo do Chafariz da Cidade de Goiás, levaram adiante o sonho de se fazer um jornal feminino, sutil e delicado, sem ataques ou contestações ao regime da época, puramente literário, que se incumbisse ser um documento da inteligência da mulher goiana nas primeiras décadas do século 20.

Esse sonho concretizou-se com o surgimento de O Lar, cujo nome lembrava o ambiente doméstico, evidenciando que um jornal feminino falaria de coisas da casa, de “assunto de mulheres”.

Mas, muito esforço foi necessário da concepção à elaboração do jornal. Somente em setembro de 1926, é que teve inicio sua circulação na Cidade de Goiás, impresso na tipografia de Caetano Alves Pinto, também proprietário do Bar da Lapa. Caetano faleceu muito jovem e, depois de sua morte, sua irmã Oscarlina Alves Pinto (1885 – 1949) assumiu a tipografia e passou a produzir, ela mesma, o jornal.

Oscarlina era natural de Goiás, onde sempre viveu no antigo Largo do Chafariz. Era uma moça culta, refinada, “nostálgica e cismarenta” como foi definida pela escritora Célia Coutinho Seixo de Britto. Além de ser diretora e fundadora do jornal O Lar, Calita foi também cronista desse jornal, com muitas produções hoje esquecidas. Outra assídua colaboradora de O Lar foi Maria Ferreira de Azevedo Perillo (Lilia) que nasceu em 1906 e faleceu em 1994, também de tradicional família goiana, filha do professor Francisco Ferreira dos Santos Azevedo e Virginia de Araújo Godinho.

Como ela, Altair Camargo de Passos escreveu crônicas de grandes sensibilidades para O Lar, bastante louvadas por outros intelectuais da época. Foi ela uma das primeiras motoristas de automóvel na antiga capital, casada mais tarde com o vilaboense Luís Sabino de Passos. Uma testemunha dos tempos de O Lar foi Laila de Amorim, que nasceu em Goiás, em 1902 e faleceu em 1996 residindo toda a sua existência na mesma casa no Largo do Chafariz.

Floracy Artiaga Mendes, filha do historiador Zoroastro Artiaga e Araci Monteiro Artiaga, também foi cronista de O Lar, além de professora na Escola Normal Oficial e grande oradora em momentos cívicos de Goiás. Maria Carlota Guedes de Amorim (Neném Guedes) foi pioneira do colunismo social em Goiás.

Colandy Garcia, Lucila Loyola e Graciema Machado de Freitas (1905 – 1985), também foram grandes colaboradoras de O Lar. Graciema era natural de Jaraguá, e tornou-se uma das mulheres de maior destaque nas ciências, letras e artes nos anos 20, 30, 40, chegando a receber elogios do historiador Americano do Brasil e a ser noticiada nos grandes jornais do Rio e São Paulo. Gra

Outra mulher de grande destaque nas letras goianas, também colaboradora de O Lar foi Maria Paula Fleury de Godoy (1894 -1982) filha de Augusta de Faro Fleury Curado e Sebastião Fleury Curado, ambos escritores. Natural do Rio de Janeiro iniciou nas letras em 1907, aos 13 anos, com um jornal manuscrito intitulado O Baumann. Foi colaboradora do jornal Fon Fon e do Jornal das Moças, no Rio de Janeiro, e colaborou também na Revista Feminina, de São Paulo, com grande destaque na época.

Em 1926, seu poema Velha Casa foi recitado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro pela deceuse Eugênia Álvaro Moreyra, dando início ao modernismo goiano, ao lado do poeta Leo Lynce. Maria Paula foi à primeira mulher goiana a obter divulgação nacional. Em 1923 casou-se com o advogado e político Albatênio Caiado de Godoy tornando-se pioneira de Goiânia e, mais tarde, de Brasília. Deixou extensa obra: Sombras, Velha Casa, Suave Caminho, A Longa Viagem, A Viagem de Nancy e Realidade e Sonho.

Escritora de romances de costumes, a vilaboense Armênia Pinto de Souza, nascida em 1910 e falecida em 2004, também colaborou, quando jovem de 19 anos, nos números finais do jornal O Lar. Era filha de Augusta Sócrates Gomes Pinto e João Odilon Gomes Pinto. Pioneira de Goiânia, e membro da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, além de suas contribuições em jornais, tem os seguintes livros publicados: Mariana, uma História de Vida, A Saga dos Pioneiros, Um Anel de Esmeralda, A Estrela Cadente e O Romance de Elisa, O elo partido e O buriti do sereno.

Entre as colaboradoras de O Lar não pode ser esquecida a professora Ofélia Sócrates no Nascimento Monteiro (1900 – 1986). Formada pela Escola Normal do Brás, em São Paulo, publicou, em 1933, o primeiro livro didático autenticamente goiano – Goyaz, Coração do Brasil. Historiadora, também escreveu Como Nasceu Goiânia e Reminiscências. Professora, foi por muitos anos diretora da Escola Normal Oficial de Goiás, depois Instituto de Educação de Goiás. Pioneira de Brasília faleceu na capital federal e foi Sócia da AFLAG.

O quadro de colaboradores do jornal O Lar também contou, em seus primórdios, com Olga Sócrates do Nascimento. Ela morreu muito jovem, deixando filhos pequenos, que foram criados por sua irmã Ofélia.  Gés de Souza (corresponde de O Lar do Rio de Janeiro) e Lili Rossi, de Piracanjuba.

Genezy de Castro e Silva (1908-2006) foi um dos maiores destaques do Jornal O Lar. Assumiu a direção do jornal nos últimos anos e manteve acesa a chama do mesmo, integrando-se ainda aos 19 anos ao corpo de direção do hebdomadário, partilhando suas atividades com o Gabinete Literário Goiano na sua fase mais áurea em que teve apoio de Consuelo Ramos Caiado, Anita Fleury Perillo e Argentina Remígio Monteiro. Lamentável também que suas crônicas não tenham sido reunidas em livro, ficando seus trabalhos no ostracismo e desconhecidos do público de hoje.

Contando com grande número de colaboradoras esparsas como Ondina da Cunha Bastos Albernaz que, mais tarde publicou seu livro de memórias, O Lar constituiu-se no registro do pensamento feminino no final da República Velha em Goiás, período de grandes transformações em todo o país. Com suas oficinas gráficas instaladas na Rua Moretty Foggia, nº. 23, na velha capital, O Lar circulava em tamanho tablóide, com bela impressão devidamente corrigida.

Sua assinatura era de 10$000. Além da literatura e dos assuntos sociais, relatados por Neném Guedes, o jornal contava com a coluna Fora do Lar, dedicada a assuntos variados.

Literário e noticioso, O Lar não contestava. Era sutil e delicado. Em cada crônica ou poema havia sempre um halo de lirismo, uma sensibilidade aflorada e latente, demonstrando a alma nostálgica do vilaboense, amante da cultura e das artes, registrando em tempo de ilusões e de sonhos.

Apesar disso, O Lar retratou a ebulição social da velha capital do Estado, os carnavais, as tertúlias, os encontros, os saraus, as festas familiares, as soirées roses e os casamentos, os namoros, os famosos bailes da caridade encetados por Brasil di Ramos Caiado.

Em suas páginas foi registrada, também, a participação pioneira da mulher nos esportes em Goiás, quando se criou a Liga Feminina de Propaganda Esportiva, composta pelas jovens: Altair de Castro Caiado, Maria Carlota Guedes, Yêda Sócrates, Maria Augusta Rocha Lima, Altair Camargo, Armênia Sócrates e Floracy Artiaga.

O Lar estampou o pensamento feminino em ascensão nos anos 20, mais do que um simples jornal, foi, sobretudo, a coroação dos esforços de gerações e gerações de mulheres destemidas e arrojadas, fortes e resolutas que abrilhantaram os últimos anos da cidade de Goiás na condição de capital do Estado.

Foi o canto de cisne das mulheres pioneiras da antiga capital, cidade de vasta cultura, opulenta e progressista, que se perdeu no tempo, mas que marcou, naquela ditosa quadra, a pulsação da arte feminina sob o signo da sensibilidade.

Analisando a condição feminina na ocupação de seu espaço dentro da diversidade dos campos da atividade humana, verificamos, na exumação da história, que sempre houve uma luta desigual, exigindo um esforço hercúleo do chamado “sexo frágil” para remoção de tabus e preconceitos arcaicos.

Um campo mais árduo e difícil foi o da participação política e direitos de igualdade cívica. O nome pioneiro realmente cabe a Dra. Bertha Maria Julia Lutz, que, assistindo em Londres, em l9l2, a dura e difícil campanha das mulheres inglesas em prol de sua igualdade cívica, do direito do voto, tentou atitude similar no Brasil, trazendo no coração o entusiasmo que agitava a vida das inglesas sufragistas.

Antes dela, outros nomes pioneiros também se aventuraram nesse árduo caminho como Brittes Mendes de Albuquerque, que assumiu, em 1554, a Capitania Hereditária de Pernambuco depois da morte de seu esposo Duarte Coelho; Emiliana Vieira Emery que requereu seu direito de voto em 1929 no Espírito Santo; Alzira Soriano que em 1929 foi Prefeita de Lajes no Rio Grande do Norte, terra de mulheres destemidas como Nísia Floresta.

E sua voz quase única se ergueu em praça pública e nos centros femininos defendendo o direito de voto, publicando também inflamados artigos na famosa Revista Feminina de São Paulo, editada por Virgínia Salles e que trazia colaborações de mulheres do Brasil inteiro. Mas foi somente em l928 com a aquiescência do Senador Lauro Muller que foi reconhecido e aprovado um único voto feminino, o de Mietta Santiago que fundou a “Liga das Eleitoras Mineiras”. Em l933, a Dra. Bertha Lutz publicou o livro A nacionalidade da mulher casada em que defendeu os direitos das mulheres ao voto. Essa importante mulher na vida política brasileira foi Deputada Federal representando o Estado da Guanabara de 0l de agosto de l935 a 09 de novembro de l937, antecedida apenas por Carlota Pereira de Queiroz que representou na Câmara Federal o Estado de São Paulo e que exerceu o seu mandato de l5 de novembro de l933 a 30 de abril de l935, seguindo em segundo mandato de 03 de maio de l935 a 09 de novembro de l937.

De efetiva participação na política brasileira em tempos passados, nos difíceis momentos de aceitação da mulher não como passiva eleitora desde l936, destacamos também Adalgisa Nery (l906-l980) que além de escritora e poeta foi Deputada pelo Partido Socialista Brasileiro em l960; Maria Werneck de Castro, que em l935 participou da “União Universitária Feminina”, presa no pavilhão dos primários pela política de Felinto Muller, juntamente com Eugênia Álvaro Moreyra, Eneida de Morais, Olga Benário Prestes, Nize da Silveira e Beatriz Bandeira; Maria de Lourdes Prestes  Maia, alcunhada de “primeira operária”, oposicionista à política de Jânio Quadros; Ivete Vargas, dirigente trabalhista do PTB, herdeira dos ideais de Getúlio Vargas; Patrícia Rehder Galvão (Pagu l9l0-l962) militante de esquerda, participante da “Vanguarda Socialista”, candidata a Deputada em l950, jornalista e teatróloga; Julia Vaena Steinbruch que foi Deputada Federal representando o Rio de Janeiro pelo MDB de l967 a l969; Lygia Maria Lessa Barros que, pela ARENA foi Deputada Federal de l975 a l978; Maria Lucia Mello Araújo que representou o distante Estado do Acre pelo MDB na Câmara Federal de l967 a l969; Nysia Coimbra Flores Carone que, na condição de Deputada Federal representou o Estado de Minas Gerais de l967 a l969, além das conhecidas Marta Suplicy, Roseana Sarney, Emília Salles, Benedita da Silva, Luiza Erundina, Emília Salles e a desastrosa  atuação de Zélia Cardoso de Mello.

No coração do Brasil, a atuação política foi mais tardia por injunção da condição geográfica e histórica de nosso Estado. O pioneirismo na luta por voto cabe a Benedita Chaves Roriz Villa Real (l905-l990). Em Luziânia no ano de l927, esta pioneira já lutava pelo direito de voto e igualdade cívica da mulher, o mesmo ocorrendo com Almerinda Magalhães Arantes (l906 - l996), que militou na política Estadual.

A primeira mulher no Estado de Goiás a exercer um cargo político foi Julieta Fleury da Silva e Souza (l908-2002), como vereadora em Goiânia, a nova capital do Estado, de 06 de fevereiro de l947 a 30 de janeiro de l951 e em segundo mandato de 30 de janeiro de l951 a 30 de janeiro de l955 pelo PSD. Esta vilaboense ilustre era filha de Vicente Miguel da Silva Abreu e Eugênia Caiado Fleury. Foi normalista pelo Colégio Santana da Cidade de Goiás e primeira diretora do Grupo Escolar Modelo de Goiânia, hoje Colégio José Carlos de Almeida, no centro da Capital. Alcançando a longevidade, Julieta Fleury sempre participou da vida política de Goiás e estava inteirada dos acontecimentos nacionais e internacionais, em sua bela e histórica residência, cercada de flores na Rua 21, próximo ao Lyceu de Goiânia.

O pioneirismo político ainda é dividido com Ana Braga (l923), natural de Peixe, antigo Norte de Goiás, hoje Estado do Tocantins. Além de vereadora em Goiânia, de l947 a l951, Ana Braga também foi Deputada Estadual na quarta legislatura, de l959 a l963, quando já na Assembleia participavam a pioneira Berenice Artiaga (de l951 a l955 e de l959 a l963) e Almerinda Magalhães Arantes, como nos referimos anteriormente, e que se casou em Trindade em 1929. Ana Braga, além da participação política também se destacou na vida social e cultural do Estado de Goiás, fundando em l969, juntamente com Rosarita Fleury e Nelly Alves de Almeida a Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, hoje presidida pela escritora Augusta Faro Fleury de Mello e membro da Academia Trindadense de Letras, cujo Patrono é o historiador Wilde Lewergger.

Na Câmara Municipal de Goiânia ainda se destacaram Maria José de Oliveira (de l951 a l955 e de l955 a l959); Silene de Andrade (l920-l994), que foi bailarina e professora de dança pioneira em Goiânia, que ficou na Câmara de l963 a l967; Goianita Bessa (de l973 a l977); Maria da Conceição Gayer (de l983 a l989); Maria Dagmar Bezerra Miranda ( de l983 a l989 ); Denise carvalho ( de l989 a l993); Marina Santana (de l989 a l993 ) e Rose Cruvinel ( de l989 a l993), seguindo-se de Olívia Vieira ( de l993 a l996) , Vânia Santos ( de l993 a l996) e Raquel Azeredo.

Na Assembleia Legislativa de Goiás, desde o pioneirismo de Berenice Artiaga, Ana Braga e Almerinda Magalhães Arantes até a quinta legislatura em l967 sob a presidência de Almir Turisco de Araújo, houve um longo hiato, surgindo apenas na décima primeira legislatura, em l987, uma mulher novamente ocupando o cargo de Deputada Estadual, na figura de Cleuzita Antonia de Rezende Assis, do PFL, seguida mais tarde de outros nomes importantes como Maria da Conceição Gayer, Denise Carvalho, Vanda Lúcia Mello, Daria Alves Rodrigues, Mara Naves, Nelci Spadoni, Onaide Santillo, Lamis Cosac e Flávia Morais.

Três nomes importantes devem figurar como destaque na política feminina no Estado de Goiás, pois passaram de primeiras damas nas gestões de seus esposos a figuras ímpares de relevância e militância na política goiana em nível nacional: Maria Ribeiro Valadão, Lúcia Vânia Assis Costa e Íris de Araújo, mulheres que muito nos honram no cenário das discussões sociais em todos os tempos.

Também vários municípios goianos tiveram mulheres em suas direções como Telma Ortegal, já falecida, primeira prefeita de Abadia de Goiás; Magda Moffato, prefeita de caldas Novas; Maria Aparecida Andrade, prefeita de Amorinópolis; Francisca Almada, prefeita de Abadiânia; Maria Zelinda Pena, de Aporé; Ana Paula Gonzaga, de Aruanã; Silma Lemes Manzi, de Campestre de Goiás; Iraides das Graças de Deus, de Goianápolis; Orides Alves, de Hidrolina; Rita de Cássia Mendonça, de Itaberaí; Maria Virlene Moreira, de Itaguari; Maria Aparecida Ferreira, de Jandaia; Márcia Fonseca, de Jaraguá; Ivania Alves, de Matrinchã; Laci Machado, de Mineiros; Neusa  Alcino, de Nova Aurora, Sônia Chaves, de Novo Gama; Cida Tomazini de Pires do Rio; Sueli Guedes, de Santa Fé de Goiás; Laurita Reis, de São Domingos; Gilda Alves, de Silvânia, Ildete Gomes, de Simolândia e Marisa Santos, de Uruaçu. São esses, somados a outros, talvez esquecidos, nomes expressivos da participação feminina em Goiás no melindroso e difícil campo da atuação política. Num passado mais distante ainda, outras mulheres do alto sertão lutaram pela política como Antídia Coutinho, que foi vereadora em Registro do Araguaia, hoje Araguaiana, vencendo os preconceitos do interior do Brasil, num tempo de lutas bravias pela ocupação do território e pela busca do ouro.

No Estado de Goiás, destacaram-se os nomes de Íris de Araújo do PMDB que foi candidata a vice-presidente, Senadora, duas vezes primeira dama do Estado de Goiás, e Presidente do PMDB. Natural de Mato Grosso do Sul, fez-se politicamente pelo prestígio de Íris Rezende e pela sua atuação junto à camada mais pobre. Interessante um de seus cartazes que dizia: “Você que sempre votou no Íris, agora pode votar na Dona Iris”, demonstrando que seu nome está sempre unido ao ideário daquele que foi o “homem dos mutirões” e Prefeito de Goiânia.

Maria Valadão também se destacou como primeira dama, com intenso e pródigo trabalho social, de inegável valor. Alçou outros voos no campo  político dado o seu prestígio e carisma.

Também tem destaque a atuação da professora Raquel Teixeira do PSDB, Doutora em Letras e Linguística, inteligente mestra da UFG,  Secretária de Estado da Educação, Ex- Secretária de Ciência e Tecnologia, Deputada Federal reeleita, traz consigo o lema da Educação  e tem bastante arrojo para continuar a luta política a outros cargos que, sobremaneira, honram a mulher em Goiás e, como uma jovem senhora, dispõe de condições de luta para o futuro político que o Brasil almeja.

Destacaram-se ainda Adriete Elias, do PMDB, esposa do prefeito de Catalão, Betinha Tejota, do PSB, esposa de Sebastião Tejota, Mara Naves, em seu terceiro mandato, do PMDB, esposa do ex-prefeito de Goianésia, Cilene Guimarães, do PL, um novo nome que desponta; Isaura Lemos do PDT, em seu terceiro mandato e Vanusa Valadares do PSC, representando a bela cidade de Porangatu, como o foi no passado, o nome extraordinário de Ana Braga.  Outros nomes se destacam como Adriana Accorsi, Maria de Lourdes Abadia, Jaqueline e Liliane Roriz, Eliane Pinheiro, Célia Valadão, Cida Garcês, Dra Cristina. Rose Cruvinel.

Muitos nomes ainda faltaram, mas o desejo é ilustrar a caminhada feminina, desde os primórdios goianos, com seus romantismos tardios, até os desafios políticos do hoje, em que, ombreando com o homem as responsabilidades, o belo sexo goiano se destaca pela dedicação, alma feminina, coração de mulher!

(Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado, graduado em Literatura e Linguística pela UFG, pós-graduado em Literatura Comparada pela UFG, mestre em Literatura e Linguística pela UFG, mestre em Geografia pela UFG, doutor em Geografia pela UFG. [email protected])

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