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OPINIÃO

História do futuro

Enquanto leio um livro, tenho na mão direita um marcador de textos. Vou lendo e marcando títulos, parágrafos, expressões e destaques identificados pela minha crítica. Ao concluir, inicio a releitura que me traz a possibilidade de uma análise mais compreendida.

Assim fiz com o livro da Editora Intrínseca, “Míriam Leitão – História do Futuro: O Horizonte do Brasil no Século XXI”. Li e agora relendo.

Míriam Leitão, exerce a profissão de jornalista há 40 anos, atuando em diversos e mais importantes órgãos de comunicação no jornalismo, rádio e televisão. Nascida em Caratinga, Minas Gerais, foi, em estado de gravidez, presa e torturada, física e psicologicamente pelo Regime Militar no Brasil. Desde 1991 integra as Organizações Globo. Comentarista econômica muito franca e de competência para dialogar com os mais famosos economistas, conduzindo e apresentando o “Programa Míriam Leitão”, no canal fechado Globo News. Não poupa, fustiga e vai fundo, questionando os entrevistados, porem elegantemente. Para o jornalista econômico Carlos Alberto Sardemberg “ela nunca se contentou com as explicações oficiais”. Tem fama de “brigona”, mas presta um grande serviço à comunidade e aos seus telespectadores e leitores, em grande número.

O livro que releio e dá título a este artigo 298, indico como leitura leve, atraente, oportunidade de conhecer tendências que não podem ser ignoradas em áreas como meio ambiente, demografia, educação, economia, política, saúde e tecnologia. “A história do futuro contada, deixa claro que o Brasil dispõe dos recursos para garantir a nossos filhos um país bem melhor. E este futuro começa com decisões tomadas hoje”.

É implacável quando afirma em sua obra: “A corrupção virou um modelo de negócios no Brasil. Não é correto achar que apenas uma pessoa se corrompeu. Se considerarmos que foi uma pessoa só, então é uma maçã podre num cesto de frutas boas. É mais amplo que isso. A corrupção é um crime racional, não é passional. Quem o comete avalia custos e benefícios.”

Com relação a Sérgio Moro fala que “ele mostra e profere decisões emblemáticas no combate a corrupção, ao afirmar: “Nada disso é trabalho de um homem só e que não deve se influenciar pelas palmas”.

Diz ela ainda: “O país passará por reformas políticas. Não uma. Várias. Não há uma reforma que acabe com todos os defeitos da democracia brasileira. O esgotamento do modelo atual ficou claro. O modelo de governança tem deficiências graves. O trabalho incessante dos próximos anos e décadas será o de mudar tanto o sistema eleitoral, quanto o político para aumentar a confiança do cidadão na democracia. “O país tem o sistema eleitoral mais fragmentado do mundo. Ninguém tem tantos partidos com presença no Congresso como o Brasil. Virou uma jabuticaba”.

“De todos os setores da vida social, o mais atrasado é a política. A urna eletrônica e a rapidez da contagem dos votos parecem contrariar tal afirmação. O problema é que, assim que acaba a apuração, o Brasil se depara com as velharias do sistema de representação. Há práticas no parlamento que são intoleráveis. Há hoje entre o representante e o representado, um divórcio”.

“Nas próximas décadas, as rupturas tecnológicas terão forte impacto na política. O Congresso não poderá continuar em conchavos intramuros nem o governo encastelado em palácios e burocracias. No século XXI, os brasileiros vão continuar dedicados a tarefa de tornar a democracia mais forte, ampla, eficiente e moderna. Esse trabalho não tem fim. Entretanto, a escolha mais decisiva já foi feita pelos brasileiros. A de viver numa sociedade democrática”.

Embora para muitos, o presente parece sem dúvida uma sucessão interminável de desastres, Miriam não é pessimista em seu livro. Mapeia as virtudes, esperanças e oportunidades que podem fazer o país sair da crise. Escrito com base em entrevistas, viagens, análises de dados e departamento de especialistas, colhidos em 4 anos de pesquisas, “História do Futuro”, investiga a situação e aponta os caminhos que precisamos seguir caso não queiramos enfrentar um futuro implacável. No livro não prevalece uma visão pessimista, ao contrário, quando Miriam Leitão responde que: “O Brasil tem uma soma tão grande de chances e virtudes que isso dá ânimo. Não será fácil corrigir, sobretudo erros recentes, mas não é impossível”.

“A corrupção aumentou o custo de obras, viciou o setor público, provocou um desperdício brutal de investimentos que já são escassos. Aumentou a desconfiança ao Brasil. O efeito em cascata da corrupção é até difícil de medir. Mas esta crise também tem outras causas. O governo tomou decisões erradas na área econômica, ignorou os alertas, e o custo está sendo alto. O Brasil está prisioneiro do imediato”.

O livro é uma reportagem sobre o horizonte do país, por isso ele se chama “História do Futuro”. Diz a jornalista que há projetos em andamento que podem dar certo. Há riscos aos quais estamos desatentos. Há vantagens não exploradas. O livro não é de futurologia. O exercício é o de olhar o tempo.

Míriam Leitão declara: “Estamos aqui de passagem. É breve o tempo que temos. O país era antes de nós e continuará sendo depois de nós. O Brasil, como o conhecemos tem uma história intensa. Há erros trágicos e acertos animadores”.

“Vivemos momento, por um lado de refundação da democracia como escolha definitiva, mas diante de uma grandiosa, monstruosa inimiga, a corrupção que parece invencível. Um monstro de mil cabeças, mas está sendo enfrentada. A política está confusa. Os cidadãos não tem mais confiança nos partidos. Mas vamos continuar a pressão sobre os políticos, porque cada pessoa tem mais capacidade de acompanhar a vida parlamentar, as decisões partidárias. Quem quiser ser representante terá que prestar contas ao representado, quem quiser governar terá que ser transparente”.

“Nenhuma das travessias que fizemos foi fácil. Mas tendo sido feitas, infundem confiança de que será possível fazer as próximas”.

Concluindo, o livro “não veio para estimular voluntarismo ou ufanismo. O esforço que temos de fazer é olhar o horizonte. Que nos apressemos. Há muito a fazer. O futuro está sendo escrito”.

(Barbosa Nunes, advogado, ex-radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil - [email protected])

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