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OPINIÃO

Adolescente, sexo, tecnologia e exposição

Num dia desses assistir a uma matéria na televisão que abordava o tema sexualidade desenfreada e a geração digital. Segundo psicólogos convidados para opinar no programa, crianças e adolescentes que convivem no mundo virtual vão, de modo progressivo, confundindo os seus limites com o mundo real.

Não estão errados não. Presentemente, com o advento e uso das novas tecnologias, as crianças e os adolescentes vivem em dois mundos: um, o mundo real que todos nós conhecemos, e outro, o mundo virtual, isto é, o digital, que, por mais incrível que pareça ser para nós adultos, para as outras duas classes aparenta muito mais atraente e admirável, proporcionando entretenimento, aventura e velocidade na comunicação. Com isso, é no ambiente cibernético, “mundo vivo” que as crianças e os adolescentes se encontram, descobrem, aprendem, jogam, brincam etc.

É também através da internet que, hoje em dia, o comportamento e a forma de se relacionar com a família, com os amigos e com as novas possibilidades de viajar pelo mundo sem sair de casa que as crianças e os adolescentes vão sendo transformados.

Porém, o mesmo ambiente cibernético que atraem os adolescentes ao aprendizado imediato, também, oferecem grandes armadilhas à geração do mundo virtual, da era digital, desde o excesso de tempo gasto com o uso do computador, atingindo a deficiência de sono, os hábitos sedentários, a queda do rendimento escolar, a pornografia e a pedofilia. No mesmo patamar estão a exposição e os riscos para o desenvolvimento da sexualidade saudável, de modo que, a precocidade em relação ao sexo é uma realidade em todo o Brasil, comprovada pelas pesquisas que indicam que as meninas brasileiras estão tendo a primeira relação sexual cada vez mais cedo.

Para que se tenha uma ideia dessa precocidade, nos anos 70, a idade era entre 17 e 16 anos da primeira relação sexual, nos anos 80, já era entre 15 e 16 anos e, agora, a primeira relação sexual está começando entre 14 e 15 anos ou até menos. Além disso, o tempo em que um adolescente demora até chegar ao sexo diminuiu, ou seja, nos anos 70 era quase dois anos, nos anos 80 já havia reduzido para um ano e, atualmente, excluindo a banalização do sexo, podemos dizer que nos primeiros três meses de um relacionamento afetivo acontece a primeira relação sexual de um adolescente.

No Brasil, as questões que envolvem sexo e a sexualidade juvenil têm sido foco de inúmeras investigações e de reformulação de políticas públicas, porém, não tem sido freio na velocidade, com a qual, os adolescentes, cada vez mais novos, vêm praticando sexo. Verdade que, a partir de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional tenha exigido que as instituições de ensino tenham por função a orientação sexual como um tema transversal no ensino fundamental e médio, lamentavelmente, na prática, esse processo tem se revelado de difícil implementação, uma vez que os conteúdos explorados de forma vertical e normativa, sob a perspectiva do paradigma médico-higienista, sem uma vinculação ao contexto de vida dos adolescentes são limitadores à aplicação dos conteúdos e à aprendizagem dos alunos.

Essa falta de conhecimento que leva os adolescentes a iniciar sua vida sexual cada vez mais prematuros e também os leva à própria exposição, de tal forma que não são raras as cenas feitas em ambiente escolar, por alunos, através de celulares, postadas e compartilhadas nas redes sociais de adolescentes praticando sexo. Realmente, parece que virou moda, colocar vídeos na internet expondo a intimidade de crianças e de adolescentes. Todavia, para alguém normal, não se sabe o que é pior, entre ver o vídeo, sabendo que ali são adolescentes (ou, às vezes, até crianças) fazendo sexo na escola, ou a exposição deles na internet para todo o mundo.

O problema está nesta sociedade discursista, em que não há dúvidas, o exibicionismo dos jovens é puro reflexo do que os adultos fazem, isto é, quase sempre, o adulto diz para não fazer tal coisa, entretanto, quando o adolescente navega pela internet todos os adultos estão fazendo o que disseram para o adolescente não fazer. Isso confunde o adolescente.

Verdade seja dita, se você é pai, ou mãe, procure conversar com seus filhos, procure saber o que eles realmente andam fazendo na escola ou diante do computador, se é para estudar ou outros fins. Numa sociedade mais consciente não era para ser a realidade do que acontece nas escolas do Brasil, adolescentes permitir ser filmados fazendo sexo na escola e, mesmo sabendo da gravação, nada os incomodarem! Pais, professores e educadores, precisam urgentemente rever a posição de cada um na sociedade, caso não queira transformar as gerações vindouras num inocente protagonismo da banalização do sexo sem limites e sem idade, ora, o desenvolvimento pleno das crianças e dos adolescentes como oportunidades para todos poderem usufruir melhor dos benefícios das novas tecnologias somente dependem de quem os educam.

(Gilson Vasco. Escritor)

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