Home / Opinião

OPINIÃO

La la land - cantando estações

O gênero musical no cinema está enraizado na cultura norte-americana desde o início da indústria cinematográfica nas terras do tio Sam. Foram eles que começaram e ainda cultivam este gênero cuja fantasia de colocar pessoas cantando e dançando serve para expressar um desejo humano de fugir dos problemas cotidianos, ou enfrentar tais revezes, utilizando a música como ferramenta de desabafo da alma.

Ao longo dos anos, os filmes musicais nunca deixaram de existir em Hollywood. E se o tempo mudou e o cinema também, os musicais foram se adaptando aos novos moldes de público e gosto. Mas nunca sumiram, seja no teatro com a Broadway, ou no próprio cinema.

“La La Land” resgata a nostalgia da era de ouro dos musicais, quando atores como Gene Kelly, Fred Astaire, Ginger Rogers, Judy Garland, Julie Andrews e inúmeros outros artistas fizeram seus respectivos nomes no cinema dentro do formato que originou clássicos atemporais como “Cantando na Chuva”, “O Mágico de Oz”, “Minha Bela Dama”, “A Noviça Rebelde”, “Mary Poppins” e “Amor Sublime Amor”, por exemplo.

Mas “La La Land” surpreende por conseguir ir além da homenagem e do mero musical. Sim, a música existe e ela é importante para o contexto da obra, porém, o diretor Damien Chazelle – do excepcional “Whiplash – Em Busca da Perfeição” – e também responsável pelo roteiro, não utiliza a música como obrigação por se tratar de um musical, mas a usa como apoio narrativo, e emocional, sempre em momentos oportunos e de forma comedida.

O filme tem pouquíssimas sequências musicais, a grande maioria durante a primeira metade da história, e depois acabam. E quando acontecem, elas não interferem no andamento da história, pelo contrário, ajudam a contá-la e deixar o filme mais poético, lúdico e sensível. O roteiro prioriza os personagens e seus conflitos.

Desde a abertura, “La La Land” é um filme que fala do sonho de se trabalhar com cinema e desta cultura tão vívida e presente na cidade que mais respira a sétima arte: Los Angeles. Primeiro, conhecemos Mia (Emma Stone), uma garota que trabalha como atendente em uma cafeteria e que aspira ser uma atriz de cinema. Depois conhecemos Sebastian (Ryan Gosling), um músico sem trabalho fixo que sonha em ser dono de um clube de jazz.

Com dois protagonistas distintos e apaixonados, “La La Land” vai falar de sonhos, e como o caminho para alcançá-los é árduo e cheio de sacrifícios. Mesmo sem criar uma história original em suas temáticas, Chazelle acerta ao contá-la com originalidade fugindo de resoluções fáceis e clichês, e longe do drama novelesco e forçado. A trama é desenvolvida com maturidade, sensibilidade e sutileza, e no fim, temos uma história de amor emocionante por ser real, e que nos mostra a importância, e o peso, das nossas escolhas nesta existência que chamamos de vida.

A escolha de Ryan Gosling e Emma Stone é perfeita. A química já comprovada em outro filme chamado “Amor A Toda Prova” possui uma importância muito maior e significativa aqui. O jeito “malandro” de conversar e andar de Gosling, mesclado com a pureza e beleza de Stone, faz do casal Mia e Sebastian um dos melhores dos últimos anos. Nós torcemos por eles, queremos vê-los juntos, e isso é fundamental na trajetória de cada um, seja individual ou juntos.

Damien Chazelle cria ao mesmo tempo uma homenagem poética aos clássicos musicais da era de ouro de Hollywood, como também faz um filme que não se sustenta em tais homenagens, mas foca nos dilemas e conflitos dentro da relação dos protagonistas, de um jeito que leva o público numa jornada de amor emocionante, lírica e inesquecível, onde o lado musical vira mero coadjuvante.

O resultado? Um filme para se guardar no coração e digno de todos os prêmios e elogios que vêm recebendo. É o favorito para ganhar o Oscar de Melhor Filme este ano e quer saber? Merece mesmo! Precisamos de mais obras assim, recheadas de pureza, encanto, poesia e cenas repletas de significado. Ao menos para mim, “La La Land–Cantando Estações” já é um clássico absoluto!

(Matthew Vilela é jornalista e comentarista de cinema no “Blog do Matthew”)

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias