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OPINIÃO

O empreiteiro que comia gente

Por razões que a história justifica, a sociedade brasileira passou a ter urticária com a ineficiência crônica do Estado, acreditando que todas as mazelas sociais podem ser resolvidas apenas cedendo espaço à iniciativa privada. Uma concepção simplista que, se de um lado sana vícios importantes, de outro é mais uma ilusão. Artigos que se tornaram luxo ao sul do equador, como ética e honestidade no trato com a coisa pública, não podem ser equacionados entregando o caldo de bandeja a empresários e outros articulistas fora do espectro governamental.

Vale lembrar, e a maioria está se esquecendo disso, que a mais nefasta estrutura de corrupção do País, sem parâmetro no mundo, foi idealizada, mantida e alimentada por um pool de empresas, tendo a Odebrecht e o seu executivo Marcelo como maestros da afinada quadrilha, todos alicerçados na iniciativa privada.

Homens que se especializaram em engolir gente em grotesco canibalismo. Não só compraram Deus e todo mundo, como sugaram dinheiro do povão, via bandalheira em moldes industriais, sem o menor pudor, escrúpulo ou consciência pesada. Foram eles, os tais executivos sem mandato, os mentores da monumental farsa.

Não entraram em concurso público, jamais se candidataram a cargos no legislativo ou executivo e mal sabem dizer o que é um palanque de eleições. Como se fosse um feirão qualquer, compravam Senadores, Deputados, Governadores, Prefeitos e, na maior facilidade, a Presidência da República.

São gângsteres elaborados que, agora com o caldo entornado, dão ares de uma participação forçada num esquema impossível de ser barrado. Hipocrisia. Eles que fizeram o esboço e viabilizaram propinas capazes de garantir negociatas.

Esse lodaçal em megaoperações que burlam normas e princípios da boa conduta humana, é uma regra – e não exceção – em todo o território nacional. A pirâmide da roubalheira envolve empresários locais que aceitam o jogo dos sujos no poder. Almas que se lixam com a qualidade de vida da população e, na maior naturalidade, fazem conchavos com os poderosos de plantão. Ou alguém acha que, ao nosso lado na terrinha, foram apenas políticos corruptos que detonaram a cidade?

No arremate é simples: honestidade ou desonestidade é um tópico mais amplo do que a divisão simplória entre governo, que se imagina sempre corrupto, e a iniciativa privada, sempre capaz e correta. Fosse assim estava fácil. O buraco é mais embaixo.

Rosenwal Ferreira, jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal

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