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OPINIÃO

Quando a consciência habita mais do mesmo - I

“A cultura é uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo escravo” (A. L. Antunes).

Aconselha a análise não tendenciosa e histórica dos pecados (des) humanos que um povo não deve ter sua condição cultural dissolvida no calor do caldeirão das ambições e escravidão antigas tão modernas. Ainda, que não se condiciona a vida laboriosa à expropriação de direitos, ao pago de patacas e respiro da vida no vapor das liberdades, ou, pelas vias da exclusão como falácia da promessa de participação. As reivindicações da plebe, corriqueiras, em sua grande maioria não incluem o ato de ler dos papagaios de pirata em retratos amarelados que expõem movimentos sociais absorvidos pelo tempo. Os estratos sociais perderam-se enquanto sujeitos no emaranhado irracional de uma história erguida a partir das relações humanas presas ao nefasto mundo capitalista que arma sua armadilha a partir das teias multiculturais.

E como o tempo e os segundos voam, a foto do ontem espelha a urbanidade em retalhos do hoje, a manobra mental é coletivizada a partir de mentiras articuladas nas redes sociais, fora delas e desenham um povo em desalinho, violentado e só, que tem acesso a materiais da doutrina alinhavada com o fio de uma elite que manipula, há séculos, a massa. A escravatura da moda traveste-se no emprego terceirizado, globalizada, é cega e anda numa perna só, sustenta o exército de loucos pós-modernos amamentados na fome do emprego, do efêmero, da virtude banal. A certeza mais que incerta da sociedade leiga resume-se na fé de conveniência. São poucas as certezas expostas no poder da linguagem múltipla vivenciada a agruras e descobertas que alcançam a liberdade expressa na certeza fria do sujeito sobre sua realidade, a mesma de Goethe que afirma: “Eu sou o espírito que tudo nega! E assim é, pois tudo o que existe merece perecer miseravelmente” (in Berman, 1986, p. 48).

No corredor da morte o Brasil dos filósofos e cientistas sociais de plantão em boteco copo sujo segue gerenciado por teólogos, geólogos, assistentes sociais formados a distância em cursos que duram um final de semana, alienados ao exército industrial de reserva. O País “vai bem” desde que obrigado à gestão da corrupção e hipocrisia, guiado pela elite golpista e financiado a lucro extorsivo dos bancos que enganam. A partir do engodo ou discurso dos coronéis, na promessa das velhas virgens entregues aos coroinhas de plantão a promessa de vaga e salário de fome dão o mote do êxtase nos braços da prostituição instalada no Estado que abriga seus plutocratas em aquários sociais. A reza de um olho só é ração minguada do trabalhador solapado por propostas de partidos anões que recebem grandes malas. A mídia do retrocesso alardeia a universidade em desconstrução forjada por pelegos que carimbam processos e perpetuam as primeiras-damas. O Brasil vai bem, desde que obrigado à cultura disforme e infeliz na discussão da agenda cultural que salta ao cerco de conchavos estaduais, atenta com migalhas ao terceiro alvo ou confraria municipal. Segundo Geertz: “Cultura é um conjunto de mecanismos de controle - planos, receitas, regras, instruções (o que os engenheiros da computação chamam de programas) - para governar o comportamento” (1989, p.56). Se o que vale da vida são os amigos que se tornam irmãos, o ocaso do mundo sabe que ninguém é mais odiado do que aquele que fala a verdade.

O País legalizado não mais surpreende por suas segundas intenções, tanto por parte de um colegiado golpista que trabalha bastidores do poder, quanto o faz de conta midiático-financeiro que desenterra santos do retrocesso e teima em lançar nomes à Presidência de uma Nação assustada com sua certeza volátil de que existem na Capitania de Cabral mais especialistas em prisão que ‘reeducandos’ isolados pelo Estado em situação jurídico-institucional de restrição da liberdade. São 650 mil sujeitos sem face acuados no funil das dignidades, arena na qual a consciência indaga ao senso comum: “Quantos olhos você têm pra me falar, quantas bocas você diz a me olhar?” (Zé Ramalho).

Questão de mercado e moeda perene a democracia transformada em gelatina estabelece o conta-gotas da inclusão social a partir da divisão dos juros extorsivos praticados por bancos transnacionais. A pífia criação de empregos temporários terceirizados, despidos de quaisquer garantias de direitos, arranha a sangue o legado de lutas históricas que deram luz ao Estado de Direito, ao Estatuto do Trabalho, à CLT. Essa conjuntura e realidade histórico-cultural, segundo Gabriel Nascente, líder da ANPG “denuncia o habitat natural do cientista não é mais só o laboratório ou a universidade, é a vida, onde a teoria passa a existir nas e das práticas, quebrando pouco a pouco a branca epistemologia ocidental que vem promovendo o maior genocídio cultural da história estampado no silêncio”.

Atestam os magos da biblioteca midiática acessada no ‘Google’ o que Paulo Coelho soube, há tempos, “todos os dias a consciência nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um ‘sim’ ou um ”não’ pode mudar toda a nossa existência” (s/d). Em meio à loucura em que a humanidade mal convive o editor do jornal ‘Diário da Manhã’, Welliton Carlos afirma: “Estávamos nas cavernas”. Mas será que deixamos as cavernas a partir da fuga iluminada pelo trote de Platão? A verdade que o iPhone representa dá o tom da liberdade galgada nos condomínios fechados que escondem os ricos do pobre por medo da razão? A notícia da velha prisão em novíssima revoltosa denuncia o controle social pré-histórico que transformou a luta pela sobrevivência em guerra pós-moderna?

O Homem preso no aquário dos fetiches cumpre sua velha caminhada rumo ao último ato da própria existência. A conjuntura é irmã gêmea da cena final da série ‘O Planeta dos Macacos’, quando o bem torcia por Cornelius na luta contra Urco e seu cajado do mal. Ali a verdade contou da mentira do homem que busca a si mesmo no umbral, pensando estar perdido na imensidão das galáxias, sem nunca ter saído de seu próprio quintal.

E o pulso, ainda pulsa!

(Antônio Lopes, escritor, filósofo,mestre em Serviço Social, pesquisador em Ciências da Religião/PUC-Goiás;aluno-ouvinte em Direitos Humanos/UFG)

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