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OPINIÃO

O bom Armando

Estava em Morrinhos, recém-saído de reunião em que se elegeu a nova diretoria da Academia Morrinhense de Letras, quando atendo telefonema de Valterli Guedes, presidente da nossa Associação Goiana de Imprensa. Comunicava-me o falecimento do confrade Armando Acioli e me informava que o sepultamento se daria às 20 horas no cemitério Jardins das Palmeiras. Não dava para eu chegar a Goiânia a tempo de presenciar o enterro do grande confrade, pois já passara das 18 horas e eu estava ainda no centro da cidade.

Causa-me pesar imenso a perda do amigo. Armando e eu nos iniciamos juntos no jornalismo em 1953, trabalhando em O Popular. No dia 8 de janeiro daquele ano dava eu início à minha trajetória de jornalista. Antes, participara amadoramente da redação de O liberal, jornal fundado em 1948 por José Antônio da Costa e Pedro Celestino da Silva Filho em Morrinhos. Em O Popular o aprendizado profissional teria a encaminhá-lo o talento, a experiência e a bondade de Eliezer José Penna que era o Redator-Chefe, uma das figuras humanas mais marcantes em minha vida.

Armando, após pouco tempo na revisão, passou para a redação quatro meses depois de mim. Foi-lhe confiada por Eliezer a cobertura dos fatos policiais. E ele se tornou o maior repórter policial da história da imprensa goiana. Lembro-me de que na coluna por ele assinada na última página do primeiro caderno manteve ele durante vários meses uma série de artigos sob o título “Quem matou o major?”. Tratava-se do trabalho investigativo do repórter sobre a morte do major Nóbrega, oficial do Exército, genro do marechal Henrique Duffles Teixeira Lott, que foi o ministro da Guerra autor do contragolpe militar de 11 de novembro de 1955, que assegurou a posse de Juscelino Kubitschek na presidência da República. Edna Lott, filha do marechal, era a esposa do major Nóbrega. Foi deputada federal.

A matéria assinada por Armando foi acompanhada com grande interesse do público, pois ele soube abordar o tema com enorme inteligência e grande brilho. Foi, talvez, a mais notável das suas produções jornalísticas como repórter policial.

Na década de 1960 Armando transferiu seu trabalho para a área política, naturalmente destacado pelo redator-chefe Eliezer Penna. Sua atividade de repórter político centrou-se nos trabalhos da Assembleia Legislativa. E ali, impressionado com a simpática personalidade do jovem alagoano que aqui se fez jornalista, o presidente daquela Casa, deputado Sidney Ferreira, o nomeou Consultor Jurídico, cargo em que Armando ficou até a sua aposentadoria.

Depois de aposentado, tanto na Assembleia Legislativa como em O Popular Armando passou a escrever artigos as mais das vezes de conteúdo político, chegando a produzir mais de mil sueltos, duas centenas dos quais coletâneadas para um livro que publicou há cerca de três anos mais ou menos.

Armando era pessoa muito sensível, emotiva e só construiu amizades, sobretudo entre os colegas de profissão. Foi um trabalhador infatigável, marido exemplar, cujo consórcio com a simpaticíssima e inteligente Martha Maria Conrado durou 48 anos. Pai amoroso, conviveu afetuosamente com seus seis filhos, nove netos e três bisnetos.

Se eu estivesse em Goiânia faria no seu sepultamento o discurso de despedida em nome de seus amigos e da AGI. Não tendo podido fazê-lo rendo-lhe com o presente artigo as homenagens de quantos tiveram a sorte de o conhecer e com ele conviver. Ele personificava a bondade, a humildade e a fidelidade.

(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às quartas e sextas-feiras – E-mail: [email protected])

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