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OPINIÃO

A maior torcida do mundo

Vezes reiteradas, conforme os leitores verificaram no meu último artigo, tenho afirmado certo desencanto com o futebol, notadamente o brasileiro. De fato há muitos anos que vêm ocorrendo fatos que desabonam esse esporte nascido na Inglaterra em sua prática no Brasil. Temos um profissionalismo primário que se evidencia na fragilidade das gestões dos clubes, nas deficiências de organização da CBF, na falta de visão da grande maioria dos que têm a responsabilidade das administrações clubísticas. A essa mediocridade se junta a péssima formação moral e cultural da maioria das chamadas torcidas organizadas que chegam a praticar até homicídios, realidade que até na Inglaterra teve evidência até duas décadas atrás.

Mas anteontem tivemos os brasileiros, sobretudo a maior torcida do mundo que é a do Flamengo, de reviver os grandes momentos que o futebol proporciona. O espetáculo que os rubro-negros do Rio de Janeiro proporcionaram foi digno do maior palco futebolístico que é o Maracanã. Esse estádio, que foi construído no final da década de 1940 para a Copa do Mundo de 1950 constituí uma das provas mais entristecedoras da incompetência, que se agrega muitas vezes à falta de escrúpulos daqueles que têm a responsabilidade da gestão do nosso futebol. Na década de 1990 o Maracanã ficou mais de três anos sem poder servir aos clubes, em consequência de desleixo absoluto que exigiu reformas onerosíssimas. Nos tempos atuais acaba-se de assistir ao deplorabilíssimo abandono do estádio Mário Filho (nome oficial do Maracanã dado em homenagem ao grande jornalista fundador do jornal do Sports), desde a realização da Olimpíada sediada pelo Brasil.

Inegavelmente, o clube mais prejudicado pela ausência do Maracanã no campeonato carioca e no campeonato brasileiro, tem sido o Flamengo. Porque o clube carioca sempre teve no maior estádio do Brasil o seus momentos de glória maior. Na referida década de 1990 o “mais querido” viveu anos muito tristes para a sua torcida. No certame estadual o grande beneficiário da falta do Maracanã foi o Vasco da Gama, que tem o privilégio de há várias décadas contar com o estádio de São Januário com capacidade para 30 mil torcedores. Os demais clubes cariocas têm de se contentar com estádios que não abrigam mais de dez mil torcedores, vários deles muito distantes da capital fluminense, como são os casos de Volta Redonda, Macaé e Nova Friburgo.

Enfatizo: o espetáculo de anteontem no Maracanã foi memorável, constituindo-se no verdadeiro retrato das grandes torcidas brasileiras. Numa vibração incessante, cantando com um entusiasmo simplesmente empolgante, foi de arrepiar a visão e a audição que o telespectador teve na maiúscula vitória do Flamengo sobre o São Lorenzo da Argentina, clube da maior estima do Papa Francisco. Com um segundo tempo que fez esquecer o sofrível desempenho do primeiro, o Flamengo, cuja imensa torcida não parou de cantar um só momento desde antes do início do jogo, terminou por aplicar uma goleada de 4 a 0, com direito à perda de um pênalti pelo centroavante Paolo Guerrero. Foi emocionante ver crianças de dois a dez anos; milhares de adolescentes e adultos a cantar e a exibir com imensa alegria a camisa rubro-negra. Há muito que eu não via espetáculo igual. O meu Flamengo voltava a me proporcionar, a mim e, é claro, a não sei quantos milhões de brasileiros, a vivência dos grandes momentos de torcedor.

(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às quartas & sextas-feiras – E-mail: [email protected])

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