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Neurociência da mudança: como isso pode impactar a rotina das equipes

Você sabe o impacto que as mudanças têm sobre o trabalho na sua empresa? Mesmo as pequenas mudanças - como a aquisição de mesas novas ou do tipo de papel utilizado - podem causar efeitos no dia a dia do colaborador. Às vezes, pequenas mudanças, que parecem insignificantes sozinhas, são sobrepostas umas às outras e podem causar um efeito psicológico grave no colaborador, que passa a render menos por estar utilizando o seu tempo para lidar com o novo.

O mais interessante, na minha opinião, é que é possível monitorar a quantidade de efeitos (ou cansaço) causados por essas mudanças. Quem explica isso é a PhD em Psicologia e Especialista em aprendizagem, liderança e gestão, Britt Andreatta. Tive a oportunidade de participar recentemente de uma de suas palestras e saí impressionado com o tema. Para Britt, é impossível ser um líder hoje e não trabalhar com inteligência emocional. Ela defende também (e eu concordo plenamente) que a Neurociência precisa fazer parte da rotina dos grandes líderes, já que nas empresas eles não trabalham com móveis, softwares ou qualquer que seja o produto vendido, ele trabalha com pessoas. Parece óbvio falando assim, mas essa é uma verdade que nem todos entendem.

Hoje, principalmente com a evolução da tecnologia, as mudanças acontecem muito rápido. Elas podem ser classificadas em mudanças que causam mais ou menos impacto e mudanças que precisam de mais ou menos tempo para serem assimiladas. Nossa vida profissional e pessoal é, na verdade, uma sequência de mudanças, que podem apresentar ou não um espaço de tempo entre elas. Na maioria das vezes, as mudanças se sobrepõem e o que foi pensado para não causar grande impacto, acaba estressando e confundindo o colaborador por acontecer tudo de uma só vez.

A especialista explica que mudanças de baixo impacto e que precisam de pouco tempo para serem normalizadas na rotina da pessoa não causam um cansaço tão grande, no máximo um pequeno desconforto para acostumar com a novidade. Pode ser algo bem simples, como trocar de teclado com um colega e “apanhar” das novas teclas no primeiro dia de uso. Você tem um pequeno desconforto, erra algumas palavras, mas provavelmente no dia seguinte já estará bem adaptado. Agora, imagine que você, como líder, trocou a gerência de uma equipe, instalou um novo sistema operacional no computador deles e ainda fez a troca dos teclados. A nova forma de digitar continua sendo o menor dos problemas, mas frente a todas as novidades que essa equipe precisou assimilar, o novo teclado vai parecer o pior teclado do mundo.

Isso acontece, em parte, por culpa do nosso sistema nervoso. Somos naturalmente programados para resistir à mudança. O cérebro interpreta a mudança como uma grande oportunidade para erros e, por uma questão de preservação, tenta nos impedir de sair do caminho que ele já entende como seguro. É neste ponto que surgem diversas emoções como medo, raiva, ansiedade, frustração, etc.

John Fisher, psicólogo e especialista em liderança e processos de mudança nas organizações, estuda essas emoções e criou um diagrama com os vários estágios emocionais da mudança e suas diversas possibilidades. É interessante ver como as pessoas passam por um estado de ansiedade e felicidade para momentos de medo, raiva e culpa. O processo de mudança não é igual para todos, mas ele sempre mistura sentimentos e causa cansaço. A pessoa pode começar empolgada, passar por um estágio de medo e cair em negação. Ou então, passar pela raiva, se sentir ameaçada e acabar com uma desilusão. A ameaça pode gerar também culpa, depressão e, em casos mais graves, hostilidade. Apenas quem consegue passar por todas as etapas sem desviar o seu caminho, aceita gradualmente a mudança e consegue seguir em frente para um novo estado de tranquilidade.

As pessoas reagem de modos diferentes à mudança. Então o que pode ser muito estressante para uns, é fácil para os outros. A escala de “impacto que causa na rotina X quanto tempo precisa para ser assimilado” muda de pessoa para pessoa, e essa é uma ótima notícia.

Quando você precisar implantar algo novo, escolha com cuidado a equipe que passará primeiro por essa mudança. Tente mesclar profissionais que lidam bem com aquele tipo de novidade com os que não se adaptam tão bem, mas possuem habilidades necessárias na equipe. Em determinados momentos, a melhor estratégia é escolher pessoas que estão passando por poucas mudanças no momento para equilibrar com aquelas que estão enfrentando um número maior. O líder precisa ter inteligência emocional para entender esses tempos e conseguir coordenar as equipes e entender o que elas estão passando e como vão enfrentar e assimilar a nova realidade.

Vale ressaltar que as mudanças são percebidas de modo totalmente diferente quando estão atreladas a escolhas e desejos. Se a mudança é algo que a pessoa escolhe para si ou produz um resultado que ela deseja, ela terá um jeito totalmente diferente de lidar com ela. Mesmo que seja algo complicado para se acostumar, seu cérebro irá interpretar aquilo como um caminho para realizar algo bom, então a pessoa fica muito mais tolerante ao que está acontecendo.

Mudanças no ambiente de trabalho podem deixar os colaboradores confusos e cansados. Não permita que sua equipe precise atravessar mudanças muito bruscas em um curto espaço de tempo. Utilize a Neurociência a seu favor e fique atento ao estado emocional de seus colaboradores. A inteligência emocional é uma das principais ferramentas a serviço dos grandes líderes.

(Luiz Alexandre Castanha, administrador de empresas com especialização em Gestão de Conhecimento e Storytelling aplicado à Educação, atua em cargos executivos na área de Educação há mais de 10 anos)

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