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Péssima condição da BR-163 preocupa produtores

Produtores liderados pelo próprio ministro da Agricultura, Blairo Maggi, demonstram preocupação com a interrupção do escoamento da soja em decorrência da péssima situação da BR-163. É interessante observar que as chuvas que contribuíram para a produção recorde de soja e milho na região Centro-Oeste estão agora impedindo os caminhões de chegarem até os portos de Belém (PA). A família de Blairo é uma das vítimas também do processo, já que constitui um modelo de produção agropecuária. E sente na pele o drama atual das rodovias brasileiras.

Oriundo de um Estado essencialmente agropecuário como Goiás, o senador Wilder Morais (PP-GO) demonstra preocupação com as condições das rodovias brasileiras nestes tempos de pesadas chuvas. A condição da BR-163, que une os estados do Mato Grosso e Pará e por onde transitam grande parte dos grãos produzidos na região Centro-Oeste, está em condição deplorável. “Os produtores sofrem com os graves prejuízos bem como os motoristas de caminhões, que estão perdendo dinheiro com o frete. Justamente num momento de econômica difícil”, resume o senador, membro do Fórum Empresarial de Goiás, na condição de empresário.

Justamente, o Fórum Empresarial, naturalmente liderado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e com o beneplácito da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), que tem apregoado a necessidade de se estabelecer uma condição logística de transportes integrados. Ou seja, ferrovia, rodovia, hidrovia e portos, para tornar o Brasil mais competitivo em relação a naturais concorrentes, como os Estados Unidos.

Obras e serviços realizados nos últimos dias nos atoleiros da BR-163, no interior do Pará, não foram ainda suficientes para liberar o fluxo de milhares de caminhões carregados com soja e de outros veículos, informaram a Polícia Rodoviária Federal e representantes da indústria de soja, segundo agências de notícias como a Reuters. Mas, no final da semana, os primeiros caminhões começaram a se deslocar a seus pontos de destino, graças ao apoio do Dinit com os tratores e motoniveladoras.

Chuvas fortes e atoleiros no trecho não asfaltado da BR-163 estão impedindo que a soja chegue aos portos do Norte do país, o que resulta em prejuízos de 400 mil dólares ao dia, com a impossibilidade de embarcar o produto, informou na sexta-feira a associação que representa as indústrias da oleaginosa no Brasil (Abiove).

Embora alguns veículos tenham sido liberados, por meio do uso de máquinas, ainda são cerca de três mil carretas impedidas de seguir viagem, informou a Polícia Rodoviária Federal de Santarém (PA).

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou na terça-feira que homens do Exército e da Polícia Rodoviária Federal chegaram no fim de semana aos pontos de retenção verificados na BR-163 e na BR-230 no Pará para a execução dos serviços de manutenção.

Os poucos caminhões que são liberados rumo aos terminais não são suficientes para garantir o fluxo de grãos esperado pelas empresas exportadoras, disse nesta quarta-feira o gerente de economia da Abiove, Daniel Furlan Amaral.

"Os terminais estão recebendo muito pouca soja. O estoque é baixo", disse ele, acrescentando que novos fretes não estão sendo contratados para esta rota.

"As empresas não estão mais colocando mais caminhões nessas condições. Nessas condições não faz sentido, até que haja perspectiva de cadência no tráfego. E por enquanto não há essa perspectiva", disse Amaral.

O Dnit disse que "desde a madrugada desta terça-feira, parte do tráfego foi liberada na BR-163 sentido Sul (para Mato Grosso). Caso as condições meteorológicas sejam favoráveis, a expectativa é de liberação total do tráfego até 3 de março, com a recuperação de pontos isolados em um segmento de aproximadamente 37 quilômetros."

Dados do serviço AgricultureWeatherDashboard, da Thomson Reuters, apontam, no entanto, que as chuvas devem continuar intensas nos próximos 15 dias, sem nenhuma trégua.

Dos 1.006 quilômetros da BR-163 no Pará, faltam 100 quilômetros para serem asfaltados, destacou o departamento.

"O trecho da BR-163 onde se verificaram os pontos críticos devido às chuvas será pavimentado este ano. A meta do Dnit é asfaltar 60 quilômetros da rodovia em 2017", afirmou o órgão. A previsão de conclusão do asfaltamento de toda a BR-163 no Pará é 2018.

A rodovia é um importante canal de escoamento da safra brasileira de grãos, ao fazer a ligação das regiões produtoras de Mato Grosso com terminais fluviais localizados às margens do rio Tapajós, no município de Itaituba (distrito de Miritituba).

Importantes empresas do agronegócio, como Bunge, Hidrovias do Brasil e Cargill, operam terminais na região Norte, servindo-se do carregamento de barcaças na bacia amazônica e da exportação por meio de terminais localizados principalmente na região Barcarena, perto de Belém (PA).

Segundo o Dnit, o ministro dos Transportes, Maurício Quintella, vai se reunir hoje com representantes de empresas exportadoras para definir uma estratégia logística que "garanta a manutenção da trafegabilidade ao longo da rodovia durante o chamado inverno amazônico e o consequente escoamento da produção agrícola".

Concluo pela necessidade inadiável de parar com as improvisações e atacar o problema de frente, acatando a sugestão das entidades classistas patronais, onde se inclui o Fórum Empresarial de Goiás.

(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histradut, em Tel Aviv, Israel, e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)

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