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OPINIÃO

A importância de Maquiavel para compreendermos a política dos tempos de hoje

Na carta que enviou quinhentos anos atrás ao seu amigo Francesco Vettori, em 10 de dezembro de 1513, Maquiavel menciona pela primeira vez uma “pequena obra” que ele estava escrevendo sobre política. Esta obra era, sem dúvida, seu livro O Príncipe. Nessa época, ele mal havia recebido a tarefa de supervisionar a política externa e a defesa da cidade natal, quando a família Médici voltou ao poder e o tirou do cargo. Os novos governantes suspeitavam que Maquiavel maquinava contra eles e queriam ouvir o que ele tinha a dizer. Maquiavel se orgulhava de não ter aberto a boca. Ele pode muito bem ter poupado as palavras para o “Príncipe”, dedicado a um integrante da família que ordenou sua tortura, Lourenço de Médico. Com o livro, Maquiavel buscava convencer de que era um amigo, cuja a experiência política e o conhecimento das antiguidades o tornavam um conselheiro inestimável.
A história não nos diz se Lourenço deu ao trabalho de ler o livro, mas se o fez, aprenderia com o suposto amigo que, na verdade, não existem amigos na política. O príncipe é um manual para quem deseja ganhar e manter o poder. O Renascimento estava repleto de guias desse gênero, mas o de Maquiavel era diferente. Sem dúvida, ele aconselha um príncipe a como agir diante dos inimigos, usando a força e a fraude na guerra. A grande novidade, no entanto, se encontra em como deveríamos pensar a respeito dos amigos. É no cerne do livro, no capítulo dedicado a essa questão, que Maquiavel proclama a sua originalidade.
Deixe de lado o que você gostaria de imaginar sobre política – escreve Maquiavel – e em vez disso vá direto à verdade de como as coisas funcionam na realidade. É aquilo que ele chama de “verdade efetiva”. Você verá que os aliados na política, tanto interna quanto externamente, não são amigos. Maquiavel adverte que quem imaginar que os aliados são amigos, assegura a ruína e não sua preservação. A exemplo dos moralizadores políticos que Maquiavel busca subverter, nós ainda acreditamos que um líder deveria ser virtuoso, generoso, misericordioso, honesto e fiel.
Entretanto, Maquiavel ensina que em um mundo onde tantos não são bons, é preciso aprender a não ser bom. A força do leão e a astúcia da raposa – essas são as qualidades que um líder deve utilizar para preservar a república. Para um líder desse gênero, aliados são amigos quando é do seu interesse. Além disso, Maquiavel afirma que os líderes devem às vezes inspirar medo não apenas nos inimigos, mas também nos aliados – e até mesmo em seus ministros.
Há muito tampo Maquiavel tem sido chamado de professor do mal, mas o autor do livro O Príncipe nunca pregou o mal pelo mal. O objetivo correto de um líder é manter seu Estado (e, não a propósito, seu posto). A política é uma arena onde perseguir a virtude costuma levar à ruína de um Estado, enquanto correr atrás do que parece um vício resulta em segurança e bem-estar. Em resumo, nunca existem escolhas fáceis, e a prudência consiste em saber reconhecer as qualidades das decisões difíceis que se tem à frente e escolher a menos pior como a melhor. Se os ensinamentos de Maquiavel acerca de amigos e aliados na política são muito desconcertantes, é porque vão de encontro ao cerne de nossas convicções religiosas e convenções morais. Isso explica por que ele continua sendo tanto vilipendiado hoje em dia como quando em sua própria época.

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