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OPINIÃO

Até breve, Porto Seguro! Bahia VII

Minh’alma explode de alegria, arrebenta-se, como semente germinada em solo fértil. Meio às sedutoras belezas naturais e humanas de Porto Seguro, brotam, em meu templo interior, esperança, amor e fé. Capítulo inicial da integração indígena, esta Terra Mãe acolhe com ternura o povo português, acolhe com ternura todos os povos que aqui florescem e dão frutos. Vale recordar, com dor e arrependimento, que, posteriormente ao encontro lusitano, o Brasil vivenciou vergonha incomum, ao trazer da África navios negreiros, para o duro, sofrido e humilhante trabalho escravo em suas terras. Na certeza de que a liberdade é o maior patrimônio da humanidade, pede-se perdão à História por seus capítulos de escravidão na Nação verde-amarela. Pela força da misericórdia, é uma honra afirmar que o povo brasileiro é fruto da miscigenação do português, do índio, do africano e de outros povos.

Véspera de meu retorno a Brasília e a Goiás. Véspera de meu retorno ao Centro-Oeste brasileiro. Após duas semanas e meia num singular recanto da Bahia, como mestiça feliz, respiro um ar gostoso de brasilidade, e saboreio um clima tropical, na residência de Benigno Ramos de Souza, carinhosamente tratado de Niguinho, desde sua infância. Nasceu em 18 de março de 1930. Viúvo de Vivalda de Souza, não possui filhos; todavia, após a morte de sua esposa, adotou sobrinhos e alguns funcionários, como filhos do coração. Cidadão expressivo e humilde de Porto, Niguinho é profundamente solidário e ama dividir com as pessoas, consanguíneos ou não, o que  possui material e  afetivamente. É proprietário de um valioso imóvel, cujo piso superior é arrendado a gaúchos, onde funciona um hotel de 20 quartos e outros cômodos para administração; o piso térreo é arrendado a mineiros, que administram o Restaurante Sabor de Minas, recomendado pelos frequentadores.

De sensibilidade acentuada, marceneiro, Niguinho construiu seus próprios móveis, com bonitos entalhes na madeira; sempre teve admiração pela arte sacra e, por isso, durante anos, trabalhou com compra e venda de preciosas imagens de santos. Conserva como lembrança de seu antiquário, uma imagem de Nossa Senhora do Brasil, avaliada em RS150.000,00, expressão da história da arte de Porto Seguro. É um admirável poeta popular. Publicou dois livros: Retratos de Porto Seguro e Antologia. Raul de Oliveira, prefaciador de seu segundo livro, afirma: o tio Benigno é um paradigma para todos os baianos. Tenho feito de seu hotel meu “Quartel General”. Minhas sucessivas viagens a Porto Seguro são devidas à magia do tratamento que sempre recebi do tio Benigno. Faz as seguintes alusões a seus livros: quem ler o segundo livro, vai querer ler o primeiro. Um levará o leitor para o outro. O tio foi infestado por um vírus que o deixa indefeso contra a vontade de escrever outros livros. Fui presenteada com sua Antologia. Aplaudo-a e transcrevo ao leitor um fragmento lírico de seu belo poema Natureza em Versos:

Quero cantar ao lado da cascata,

ouvir o murmúrio do seu leito.

Provar desta água cristalina,

participar ao seu lado do meu jeito;

banhar-me no seu tombo,

sentir sua batida no meu peito.

De volta pra casa, somando-se aos outros seis ilustres entrevistados anteriormente, e publicados em Crônicas de Viagem, o Niguinho é hóspede de meu coração; levo comigo também Fausto Rodrigues de Almeida, autor do livro Descubra Porto Seguro, interessante e valioso trabalho de pesquisa histórico cultural. Não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente, mas o recebi como presente de Soraia, Superintendente Cultural de Porto. Lembrando um harmonioso encontro na praia Pitinga  do Arraial D’Ajuda, acolho a sete chaves mãe e filha, de São Luis/MA, Ana Maria e Juliana. São habitantes de meu peito também as duas meninas, encontradas no “Esquina do Mundo”, bar restaurante, na Passarela do Álcool, mina de descobertas inesquecíveis: a professora Maria Elizabete Peixoto Porto  de BH e a advogada Luciana Francisca de Mucuri/BA.  _A noite corria, à procura da alvorada. Uma belíssima voz, saída de um banquinho altiplano, uniu-me às duas presenças discretas nesse bar, para um forte aplauso ao delicioso momento musical; só, após muitas palmas e sorrisos de comunhão, revelamos nossos nomes. A voz e o violão, gostosos de ouvir, hipnotizaram-nos: Luana Britto, hoje, habitante de mim.

_Porto Seguro é musa, diuturnamente acordada, inspirando a prosa, o verso, a expressão plástica, a expressão cênica e a canção. Sento falta de outras publicações da terra, embora, com sede de enriquecimento cultural, procurasse aí insistentemente livrarias e bancas com edições de autores locais e regionais; numa das poucas bancas de revistas encontradas, adquiri os Jornais de pouca circulação: Jornal do Sol e o Sollo. Por isso, insisto em explicitar às autoridades locais, que, com muita simpatia, me acolheram, o interesse do Centro de Cultura da Região Centro-Oeste/CECULCO em tornar-se parceiro cultural de Porto Seguro. A presente crônica reforça propostas, que lhes foram verbalizadas, em encontros anteriores: 1. Intermediar parcerias entre Bahia, o Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, favorecendo a organização de uma Biblioteca multiregional  em Porto Seguro/BA; 2. Promover círculos de estudos e pesquisas para a Escola e a Comunidade, com participação de autores do Nordeste e do Brasil Central.

_Ao finalizar essa sétima crônica de viagem à Bahia/2017, quero buscar uma chave da Cidade para anunciar meu “Até breve, Porto Seguro!”. Trata-se de um convite da Secretaria de Turismo e Cultura de Porto Seguro para a Festa da Padroeira, Nossa Senhora da Pena, a acontecer, nessa Cidade, em setembro próximo. _Trata-se, de modo especial, de Ivone Ramos Santos. É aquela senhora, até então desconhecida, minha companheira de banco na Igreja Nossa Senhora do Brasil, e que, carinhosamente, me falou ao ouvido: “Vai lá em casa, tomar um cafezinho!...” Daí, surgiram, meio às orações, simpáticos retalhos de conversa. Cheguei à Rua Pero Vaz de Caminha, perto da Cesta do Povo, com cinco minutos para um abraço e uma xícara de café. _Sabe o que aconteceu, no dia de meu retorno ao outro ninho? _ Um almoço, sobremesa e uma xícara de café. _Não resisto: até breve, Porto Seguro!...

(Sonia Ferreira. É escritora, Presidente do Centro de Cultura da Região Centro-Oeste/CECULCO e Membro da Associação Nacional de Escritores/ANE/DF. Pertence a diversa instituições Culturais de Goiás. E-mail: [email protected])

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