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OPINIÃO

Esporte Clube Rio Verde

O Esporte Clube Rio Verde foi campeão da Série B de 2016 e quase foi rebaixado na Série A de 2017 do campeonato goiano. O atacante Aleilson, do Aparecidense, foi campeão na Série B pelo Rio Verde.  Pelo histórico do Clube se recorda que em 2013 foi investido quase 7 milhões de reais (talvez mais que o investimento dos times da capital) e assim mesmo foi rebaixado. São alegrias e contrastes de uma cidade com 2010 mil habitantes e sem lazer popular. O prefeito Paulo do Vale, acertadamente, decidiu não investir no futebol profissional. O seu compromisso é com as categorias de base, e a equipe do Sub-19 já treina e joga na sua categoria. O ex- técnico Regis Amarante brilhou como jogador em grandes clubes como Internacional, São Paulo, Fluminense e Cruzeiro e a sua meta é ter como técnico o mesmo sucesso que teve como jogador. Questionado sobre a sua tática de treinar só um período do dia ele explicou que faz tudo na sequência, aplicando os sistemas tático, técnico e físico. Afirmou que treinar em dois turnos só se justifica na pré-temporada. Regis já jogou com Maldonado, Fred, Fábio,  Mauro Galvão, e marcou até o artilheiro Túlio Maravilha nos embates de Vila Nova e Goiás, já que ele foi zagueiro do Vila. Futebol é investimento, lazer, alienação, dedão no chão, campinho de terra, revelação, esporte bretão, craques, gols de letra, contratos de risco, temporada, Primeira Divisão, rebaixamento, patrocínios, impedimento e tudo aquilo que faz parte do teatro encenado em 90 minutos de uma partida. Em 2017 o clube de Rio Verde passou por momentos vergonhosos, faltando o mínimo para a sua sobrevivência dos jogadores fora de campo.

Abrindo a caixa-preta do acidente esportivo e passional


Alguns depoimentos foram colhidos para explicar parte do insucesso do Verdão do Sudoeste. São as revelações de Regis Amarante, técnico; Roberto César, diretor de futebol e doutor José Walcio Guimarães, médico da equipe.
Regis Amarante – “A cidade precisa abraçar o time”.  A parte positiva é que mesmo com dificuldades vencemos Goiás, Atlético Goianiense e Goianésia. Faltou estrutura, pois com ela teríamos chegado mais longe. Eu não tinha peças de reposição. Joguei no Inter, Fluminense, São Paulo, Cruzeiro e sei que o dinheiro é essencial para comprar vitaminas, alimentação, fisioterapeuta, nutricionista. O senhor Luiz Cláudio, da LCM, fez a sua parte. Mas foi pouco. Precisava de mais parceiros. Treinei só um período só para poupar os jogadores. E não tinha estrutura para isso. Quem não é do ramo não entende esta filosofia de treinar.
O nosso elenco era muito bom, mas sem estrutura não se faz milagres. Um jogador perde até 3 quilos por jogo e ele precisa se condicionar, repor as energias.  É uma cadeia de ações, e quem recupera o jogador é o fisioterapeuta. Trabalhei com Osvaldo de Oliveira, Celso Roth, Valdir Spinoza  e aprendi com eles como comandar uma equipe, manter a motivação. Tive e tenho amigos no futebol como Athirson, Alessandro, Júnior Batista, Gonçalves. Tudo isso me levou a ter uma boa formação.  Como sempre digo, no futebol “o difícil é fazer o simples”.  Aqui o Rangel foi uma grata revelação, assim como outros jogadores. O futuro do time passa pelas categorias de base, assim como eu comecei no Internacional aos 15 anos. O torcedor fez a sua parte. Mas é preciso um planejamento maior. Agradeço ao senhor Luiz Cláudio, ao doutor José Wálcio e seu filho e diretor Roberto César, ao Mazinho, Luciano Leão. Todas  as pessoas com quem trabalhei. No futebol o craque decide, mas é um jogo coletivo. No futuro se o clube tiver estrutura pretendo voltar para treinar a equipe, pois gostei muito da cidade e das pessoas que aqui moram. Há potencial para fazer um time muito competitivo”.
Roberto César, diretor de Futebol –  “De ponto positivo ficou a vontade de disputar o campeonato. Vencer desafios, mesmo com salários atrasados. Todos os jogadores deram o melhor de suas forças, mas como  o técnico disse “a cidade precisa abraçar o time”. Nosso elenco era tão bom quanto o Goiás, mas faltou dinheiro para dar conforto e condicionamento aos atletas. Alguns patrocinadores nos abandonaram. O jogador não vai fazer uma jogada bonita ou um gol se a sua cabeça estiver pensando na falta de alimentos para a sua família.  A culpa é de todos nós, da cidade. Mas o acerto também pode ser nosso, com planejamento. Poderia falar sobre milhões de coisas que faltaram, mas sei que poderia ser mal entendido. Sou diretor, mas também sou um torcedor do Verdão. Vamos lutar por dias melhores em 2018, com planejamento.”
Doutor José Walcio, médico do Rio Verde. “ Faltou comando, transparência e credibilidade da presidência. Eu tenho um poder econômico respeitável, mas não teria coragem de pegar a presidência do Clube, pois sei que é muito difícil, com  cobranças e responsabilidades. Eu dessa vez não ganhei nada. Até gastei algum dinheiro, como 650 reais em Goianésia, onde paguei cerveja para os jogadores. Porque eles tinham  vencido um jogo heroico contra o Goianésia. Eu amo o Cruzeiro de Minas Gerais e o Rio Verde, mas para pegar a presidência é ato delicado. Nada pessoal contra o Nei, mas ele não tem condições financeiras para arcar os compromissos quando a situação aperta. O futebol empresa ainda não chegou a Rio Verde. Eu desejo que no futuro haja mais cooperação dos empresários e menos politicagem, pois o clube precisa de todos e não apenas de um partido. Eu doei milhares de remédios para os jogadores, paguei exames, jogadores fizeram até panorâmica nos dentes. E fiz  com toda boa vontade.  O próprio técnico Regis pagou um jantar para os jogadores na Churrascaria do Walmor, em Goiânia, embora alguns maliciosos tenham dito que os jogadores ficaram com fome naquela noite. A receita da mudança é trocar de presidente e contar com o apoio de todos. As pessoas de Rio Verde gostam de futebol, só precisam ser estimuladas a torcer, colaborar. O time do Iporá serve de reflexão, e nossa cidade é bem maior. Há mais de 20 anos sou um médico apaixonado pelo futebol. Mas sei que tem de pagar os jogadores, fazer um planejamento, tratar a coisa com mais seriedade. As pessoas da diretoria que estão desgastadas precisam sair, deixar o cargo para outras, que tenham credibilidade. Uma grande cidade merece um time à sua altura. Aquela emoção que senti na vitória de nosso time em Goianésia foi a maior de minha vida esportiva. Foi de arrepiar.   E se não pagar as dívidas não poderá nem participar do Goianão de 2018.  Apesar de tudo ainda creio que nosso futebol poderá ser melhor. O esporte é um canal de construção. Precisa misturar os meninos da base com a geração experiente. Mas o resumo é simples; trocar o presidente. Assim poderemos ter novos rumos. E rumos vitoriosos. Falo como médico e também torcedor do Verdão do Sudoeste. Devemos lutar não apenas para fugir do rebaixamento, mas sim para disputar o título, principalmente num futebol tão nivelado por baixo como o atual. A prova disso é que vencemos Goiás, Atlético e Goianésia, além de ter jogado muito bem contra o Vila Nova, tanto aqui como lá em Goiânia. A decisão é nossa. Filtrar as lições de 2017 e não errar mais em 2018. “Muitas cidades não tem um estádio do tamanho do nosso”, finalizou o médico e torcedor do Verdão do Sudoeste.
O futebol empresta sentido para a diversão e mesmo  alienação. O estádio Mozart Veloso do Carmo é conhecido como Campeão de Bilheteria, com um  público excelente em cada partida, principalmente contra os times da capital do estado. Também é coerente afirmar que  o poder público não deve patrocinar o futebol profissional, e apenas incentivar, como o prefeito Paulo do Vale está fazendo, com as categorias de base. O secretário de Esporte Fernando Cézar Pazotti está aberto ao diálogo com os atletas.  O futebol empresa precisa decolar em Rio Verde, para que a cidade do agronegócio volte a ser a alegria do povo no retângulo verde do Estádio Mozart Veloso do Carmo. Sai que é sua, goleiro Tom!

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