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OPINIÃO

Moisés, Cristo e os espíritos

Temos falado de uma terceira revelação surgida com o Espiritismo, segundo Allan Kardec, sendo que a primeira foi personificada em Moisés e a segunda, em Cristo. As duas primeiras foram de caráter individual e fruto do ensino pessoal, sendo a terceira de caráter coletivo, protagonizada pelos Espíritos que se manifestaram simultaneamente em diversas partes e se tornaram focos de irradiação em diferentes pontos do globo.
1 – Por que, necessariamente, a tríade Moisés-Cristo-Espiritismo? Moisés conduziu a Cristo? E Cristo conduziu ao Espiritismo?
– Não, no sentido conceitual. Sim, no sentido histórico. Moisés representa a visão religiosa de um passado histórico, centrado na ideia de salvação e condenação. Cristo representa a visão da vida futura, centrada na ideia de redenção e bem-aventurança. As figuras de Moisés e Cristo se distinguem por suas individualidades marcantes no processo evolutivo da humanidade. O Espiritismo veio como desdobramento do Cristianismo, não estando centrado em um representante único, tipo profeta ou messias. Se de um lado a doutrina de Moisés não atingiu todos os espaços da Terra, a doutrina de Cristo ecoou por todo o universo e está insculpida na consciência de todos os seres humanos.
O Espiritismo retoma as revelações crísticas tornando-as compreensíveis à luz da lógica e elucidando as verdades reveladas por Cristo, em linguagem às vezes simbólica. Assim contribuiu para a interpretação dos ensinamentos de Cristo. Segundo Kardec, se Cristo não disse tudo quanto poderia dizer, é que julgou conveniente deixar certas verdades na sombra, até que os homens chegassem ao estado de compreendê-las. Kardec explica, em “A Gênese”, o papel desempenhado pelos Espíritos no sentido de uma terceira revelação que veio complementar, explicitar e desenvolver os ensinamentos de Cristo, ao longo da evolução histórica da humanidade.
2 – E que diferença pode se estabelecer entre a doutrina de Moisés e a de Cristo?
– A mesma que se estabelece entre as ciências antigas e modernas. Moisés falava de um Deus temível e implacável, que castigava seu povo, não perdoando sequer os que poupassem as vítimas inocentes. Cristo trouxe a revelação da vida futura e falava de um Deus misericordioso e clemente, que perdoa os pecadores arrependidos e os avalia segundo suas próprias obras.
3 – E os homens têm o direito de atualizar as Escrituras sagradas?
– Quanto à sua interpretação, sim. Não quanto à sua gênese. Sempre restaram pontos obscuros sobre os Textos sagrados. Mesmo os estudiosos e teólogos mais esclarecidos só puderam explicar as Escrituras com o auxilio do que sabiam e das noções falsas ou incompletas que tinham sobre as leis da natureza, mais tarde reveladas pela ciência. Se a ciência tornou conhecidas algumas leis e o espiritismo revelou outras, todas são indispensáveis à inteligência dos Textos sagrados – enfatiza Kardec – desde Confúcio e Buda até o Cristianismo.
4 – E quais são as leis reveladas ou atualizadas pelo Espiritismo?
– O Espiritismo partiu das palavras próprias do Cristo e as atualizou como verdades reveladas. Podemos sintetizar alguns exemplos. 1 – A existência da vida futura (a morte não é o fim) e a existência de um mundo invisível que nos rodeia povoando o espaço sideral. 2 – A definição dos laços que unem a alma ao corpo, com a clara compreensão das razões do nascimento e da morte, bem como da pluralidade das vidas pela reencarnação. 3 – A certeza de que a alma progride incessantemente ao longo de existências sucessivas, até alcançar o grau de aperfeiçoamento que a aproxima de Deus. 4 – O livre-arbítrio de que Deus dotou os seres humanos para decidirem seu próprio destino, podendo todos alcançar os mesmos objetivos, sem exceções nem privilégios, eis que todos são iguais perante as leis divinas. 5 – Cada qual é avaliado segundo suas obras, sendo que depende de cada um o esforço do autoaperfeiçoamento, podendo abreviar ou prolongar seus sofrimentos ou recompensas, bem como alcançar a felicidade ou desdita na vida espiritual.
5 – E como provar a existência da alma antes da existência do corpo?
– Segundo Kardec, sem a preexistência da alma, a doutrina do pecado original seria inconciliável com a justiça de Deus. Ora, não seriam os homens responsáveis pelas faltas uns dos outros. Com a preexistência da alma, resta claro que o ser humano, ao nascer ou renascer, traz o gérmen de suas imperfeições, bem como de suas virtudes, podendo desenvolver certos instintos naturais, bem como adquirir novos conhecimentos. Ao renascer, os homens podem desenvolver suas qualidades naturais, progredindo moralmente e intelectualmente. Assim desenvolvem suas tendências positivas e combatem suas tendências negativas. A isso poderíamos chamar a virtude ou o pecado original, tanto no campo dos valores morais quanto no campo das ideias inatas.
6 – Isso explica a definição dos laços que unem a alma ao corpo?
– Segundo Kardec, o espiritismo experimental estudou as propriedades dos fluidos espirituais e a ação deles sobre a matéria. Afirma que o espiritismo demonstrou a existência do perispírito, como corpo espiritual, ou seja, corpo fluídico da alma que sobrevive à destruição do corpo tangível. Literalmente: “Sabe-se hoje que esse invólucro é inseparável da alma, forma um dos elementos constitutivos do ser humano, é o veículo da transmissão do pensamento e, durante a vida do corpo, serve de laço entre o espírito e a matéria”. E conclui Kardec que o perispírito representa importantíssimo papel no organismo e numa multidão de afecções que se ligam tanto à fisiologia quanto à psicologia. Voltaremos a este assunto.

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