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OPINIÃO

O fundamentalismo religioso e o atentado ao patrimônio cultural

O Estado Islâmico, grupo radical sunita, liderado pelo misterioso Abu Bakr al-Baghdadi, buscando instaurar um califado – uma forma de governo monárquico e totalitário comandado pela sharia - a barbárie parece mesmo não ter limites. Já não bastassem as atrocidades cometidas contra crianças, mulheres, decapitações como a dos jornalistas japoneses Kenji Goto e Haruna Yukawa, enforcamentos, fuzilamentos coletivos; incineram inocentes vivos, como o piloto jordaniano Muath al-Kasaesbeh. Agora, a insanidade dos extremistas, em nome do fundamentalismo islâmico é levantar recursos – peças arqueológicas milenares, são vendidas no mercado negro e para colecionadores particulares - para financiar ações insanas, atacando e saqueando ruínas de cidades históricas e museus.
Segundo os dogmáticos islâmicos, buscam afirmar sua superioridade religiosa, destruindo qualquer vestígio de outras civilizações e culturas, aniquilando sítios arqueológicos históricos de civilizações e religiões antigas. Numa inacreditável e pavorosa onda de terror, o mundo tem assistido perplexo a ação arrasadora, covarde e injustificável, dos ataques do ISIS a ruínas arqueológicas de mais de 2 mil anos, como recentemente ocorreu na cidade síria de Palmira. Usando tratores, explosivos e outras ferramentas, demoliram o Templo de Baal-Shamin, erguido no século II a. C. Patrimônio Mundial da Humanidade da UNESCO, que classificou o ataque como um gravíssimo crime de guerra.
Segundo a revista Galileu, já são 13 locais históricos destruídos, em pouco mais de 6 anos de combate, os militantes do ISIS foram responsáveis pela destruição de uma considerável parte do passado da Síria e do Iraque, região da antiga Mesopotâmia.
O “modismo” dos extremistas de ataques a grandes símbolos culturais e artísticos, museus e etc. já é uma prática recorrente. Como a ação dos Talibãs em 2001, quando numa ação que deixou a humanidade estupefata, dinamitaram os Budas de Bamiyan. Segundo o filósofo alemão Nietzsche, “o fanatismo é a única forma de vontade que pode ser incutida nos fracos e nos tímidos”.
A 240 km da cidade de Cabul, capital do Afeganistão, local que contém diversos testemunhos culturais do Reino da Báctria, dos séculos I a XIII, nomeadamente da corrente Gandara. Na região havia vários mosteiros budistas e próspero centro para religião, filosofia e arte Budista. Foi um local religioso Budista do século II, até a época da invasão Islâmica no século XIX.
As duas estátuas mais proeminentes eram os dois Budas, medindo 55 e 38 metros de altura, os maiores exemplares de Budas em pé esculpidos no mundo. Em março de 2001, por ordem do governo fundamentalista Talibã, foram destruídas as gigantescas estátuas dos Budas de Bamiyan, que haviam sido escavadas em nichos na rocha, por volta do século V. Bem como afirmou o iluminista Denis Diderot, “do fanatismo à barbárie não há mais que um passo”.
Da mesma forma e sob os mesmos argumentos, destruir quaisquer resquícios de culturas e religiões que não seja o Islamismo, tanto o Talibã, Al-Qaeda, como o Estado Islâmico, percorre o mesmo caminho e comungam da mesma insanidade.
Agora o apocalipse já desponta no horizonte. O Boko Haram jurou fidelidade ao Estado Islâmico, tornando-se as maiores organizações terroristas islâmicas da atualidade. Classificam “a educação ocidental ou não islâmica como um pecado” e busca a imposição da Sharia no norte da Nigéria. Oficialmente o Boko Haram alega que luta pelo combate a corrupção do governo, a falta de pudor das mulheres, a prostituição e outros vícios. Segundo eles, os culpados por esses males são os cristãos, a cultura ocidental e a tentativa de ensinar algo a mulheres e meninas. Ou seja, “a religião é um subproduto do medo. Na maior parte da história humana, ela pode ter sido um mal necessário, mas por que ela foi mais má do que o necessário? Matar pessoas em nome de Deus não é uma boa definição de insanidade?”, afirmou Arthur C. Clarke.
Agora, 2015, militantes Estado Islâmico saquearam e danificaram uma cidade milenar no Iraque, antiga cidade de Hatra, no noroeste do país. Antigo sítio arqueológico de 2 mil anos, localizado a 110 km a sudoeste de Mossul, também patrimônio da UNESCO, desde 1987.
Hatra foi uma grande cidade fortificada durante o Império Parta – 247 a.C. – 224 d.C. – e capital do primeiro reino Árabe. Para a UNESCO, as ações nesse sítio arqueológico foram um “ato de limpeza cultural que equivale a um crime de guerra”.
A história se repete e vergonhosamente, diante de uma comunidade internacional letárgica e omissa. Parte da riqueza arqueológica e histórica, tombado pela UNESCO como Patrimônio Cultural e Histórico da Humanidade, está sendo destruída na região da antiga Mesopotâmia. Numa explícita demonstração de insanidade e intolerância, invadiram o Museu da Civilização, na cidade de Mossul, ao Norte do atual Iraque – região dominada pelo Estado Islâmico - saquearam e destruíram esculturas milenares, artefatos assírios e helenísticos.
Caminhamos a passos largos rumo à bestialidade generalizada, cegueira dogmática que se sobrepõe ao caráter e a “banalização do mal”, num lamentável processo de desumanização do homem. Fazendo – por alguns - desesperada e equivocadamente, uso das religiões em busca da redenção suprema e o paraíso eterno, afrontando a civilização, a razão e constrangendo o verdadeiro sagrado. Ruminantes fartando-se da ignorância, fomentando e vociferando intolerância, ódio e sofrimento. Resta-nos a grandeza de Mandela, que “devemos promover a coragem onde há medo, promover o acordo onde existe conflito e inspirar a esperança onde há desespero”, amém!
O Estado Islâmico, que governa um autoproclamado califado em partes da Síria e do Iraque, promove uma interpretação amplamente purista do islamismo sunita que se inspira nos primórdios da história islâmica. A facção rejeita santuários religiosos de qualquer tipo e classifica a maioria xiita do Iraque de herege. Ou seja, “a estupidez e o fanatismo do homem não os permite perceber que Deus não tem religião”, afirmou Ary Souza.

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