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OPINIÃO

A árvore da vida XXII

Desde que o acima exposto foi escrito, perpetrou-se uma imbecilidade ainda mais grosseira e bem menos desculpável. Alguns membros de uma famosa sociedade de pesquisas se convenceram de que era inadiável expor a magia em todos os seus ramos, demonstrar que não possuía qualquer realidade, e, imbuídos desse nobilíssimo objetivo, tomaram providências para realizar uma cerimônia com base nas instruções deturpadas de um certo engrimanço no alto de uma colina no continente. As conjurações foram devidamente recitadas em conformidade com as ditas instruções por uma virgem de manto branco junto a um bode, o qual segundo promessa do engrimanço seria transformado num jovem da mais arrebatadora beleza. Essa transformação, é claro, não ocorreu, e muita publicidade foi feita em torno dessa cerimônia cujo fito era pôr um fim a todas as cerimônias. Hordas de pessoas curiosas afluíram ao alto da montanha, a qual durante o rito estava inflamada de luzes de arco voltaico de alta potência! Faz-nos lembrar de certo modo do simplório que depois de encher o bule e colocá-lo sobre um dos bicos de gás do fogão se esquece, contudo, de usar um fósforo para ligar o gás; quando, após uma hora, ele constata não haver nenhum sinal de um bule com água fervente, declara com suma indignação e não pouco desprezo que essas geringonças modernas não servem para nada.

Não acredito que essa cerimônia farsesca requeira muito comentário. Mostra o tipo extraordinário de inteligência que não é capaz de distinguir entre um livro tolo de feitiçaria e a genuína magia teléstica; e também incapaz de compreender a verdade da injunção segundo a qual é o pensamento, a vontade e a intenção que atuam de maneira preponderante na operação mágica cerimonial, os símbolos e sigillae externos sendo secundários e tendo menos importância. O Magus de Barrett, em todo caso, propõe para a consideração desses pesquisadores "científicos que" a razão de exorcismos, sortilégios, encantamentos, etc. às vezes não atingirem o efeito desejado é a mente ou espírito não excitado do exorcista tornar as palavras fátuas e ineficazes.

Eis então numa curta frase o segredo do sucesso. Os Oráculos caldeus afirmam que se deve "invocar com frequência! Abramelin, o Mago, aconselha que se deve "inflamar-se com oração. A chave está implícita nessas afirmações concisas. Invocar frequentemente denota um certo grau de persistência e entusiasmo, e o princípio no qual criam os antigos magos era que se um homem orar ou invocar o tempo suficiente com seus lábios pode acontecer que encontrará a si mesmo um dia proferindo sua invocação de todo coração. Sucesso implica acima de tudo entusiasmo. E o entusiasmo que o mago deve cultivar é uma espécie indescritível de excitação ou arrebatamento, por meio dos quais ele é transportado completamente para fora de si e além de si. Trata-se de uma qualidade inteiramente incompreensível e, por conseguinte, indefinível. O mago deve inflamar a si mesmo, o que é hislahabus ou autointoxicação, o que os cabalistas conceberam como sendo o próprio cálice da graça e o vinho da vida. Cada nervo, cada fibra do indivíduo, físico, astral, mental; cada átomo em seja qual for departamento da constituição humana deve ser estimulado a um clímax febril e todas as faculdades da alma exaltadas ao máximo. Tal como o artista – o poeta, o dançarino, o próprio amante – é arrastado numa loucura de paixão inflamada, um frenesi de criatividade, o mesmo deve suceder com o mago.

Deve ser impulsionado em sua cerimônia por um entusiasmo mântico que embora nele presente e uma parte necessária das forças que o compõem, não é de modo algum aquilo que ele normalmente inclui em seu Ruach. Não participa do ego mundano do estado de vigília embora exalte esse ego numa crista de bem-aventurança, de maneira que toda consciência de sua existência é transcendida, sofrendo um novo nascimento com um horizonte maior e mais amplo.

Afirma Jâmblico: "...a energia entusiástica, entretanto, não é o trabalho seja do corpo seja da alma, ou de ambos conjugados. É impossível formular regras teóricas para a indução desse frenesi, para a aquisição desse estímulo, para a produção desse espasmo mântico. De povo para povo os fatores variarão para produzir o estímulo e a excitação. Para um indivíduo, poderá vir através de invocações prolongadas e reiteradas feitas durante um período de várias semanas ou meses. Um aprendiz pode ficar tão impressionado pelo puro mistério e sugestão, por assim dizer, de dada cerimônia, que é possível que o resultado seja incluído. Um outro pode ser curiosamente comovido e alegrado pelo estilo lírico no qual as invocações estão escritas, por suas imprecações e comemorações, ou mesmo pelos nomes estranhos e bárbaros de evocação, não importando quão ininteligíveis possam ser para seu ego consciente. É possível que a despeito de um excelente conhecimento intelectual da Cabala, tenha lhe escapado uma interpretação adequada ou satisfatória de alguma dessas palavras misteriosas; quando de repente, durante o desenrolar de uma cerimônia, sua significação lampeja arrebatadoramente sobre ele com um fulgor escarlate, um fulgor de júbilo, e assim excitado ele é transportado com sua descoberta na onda crescente de êxtase. Talvez o cheiro de um perfume em particular, a psicologia dos deslumbrantes mantos de seda e coberturas de cabeça, até mesmo o esgotamento físico que é a consequência da dança – essas são possíveis causas daquela exaltação que o mago tem que cultivar. No que diz respeito ao mago habilidoso, todos esses fatores estarão contribuindo para a finalidade, produzindo assim um arrebatamento exuberante, vasto como o mais vasto dos mares e tão elevado e abrangente quanto os ventos que sopram dos polos. E então, como brota a rosa vermelha da terra negra, crescerá da natureza amorfa do homem da terra, sob a luz daquela exuberância, a flor de muitas pétalas da alma restaurada. Gradativa e lentamente se manifestarão os poderes espirituais e as faculdades latentes como pétalas que procedem do interior. Tal como as flores brancas como neve que florescem na acácia se desenvolvem até que toda a árvore da regeneração seja coberta e dobrada sob o peso de muitas flores, do mesmo modo da raiz do êxtase é desenvolvida a visão e o perfume. Como na lenda rosa cruciana a vida dos filhotes de pelicano é mantida pelo recurso de sacrifício da mãe, as forças exteriores do mago são alimentadas quando o ego sucumbe à intoxicação, tanto a partir do espírito interior quanto a partir de seu senhor feudal, os deuses que são invocados de cima.

Que nunca se esqueça que o segredo da invocação e de todo ato mágico é "Inflame-se com oração e "Invoque com frequência!

Há vários aspectos do procedimento mágico no trabalho cerimonial que é preciso considerar. Que o som, por exemplo, detém um poder criativo ou formativo, isto é há muito reconhecido e conhecido pela maior parte da humanidade. O mantra dos hindus e seus efeitos sobre o cérebro bem como sobre as ramificações nervosas do corpo têm sido o assunto reiterado de considerável quantidade de experimentos científicos e leigos. Uma teoria racional referente ao mantra sagrado sustenta que sua ação no cérebro pode ser comparada à de uma roda que gira celeremente e por cujos raios nenhum objeto pode passar. Afirma-se que quando o mantra é firmemente estabelecido e o cérebro tenha absorvido automaticamente sua tonalidade fluida, todos os pensamentos, até mesmo o do mantra, são projetados para fora, e na mente esvaziada de todo conteúdo a experiência mística pode acontecer. Há uma outra teoria sustentada por outras escolas de ocultismo que afirma que a vibração estabelecida por um mantra possui um efeito purificador sobre toda a constituição humana; que por meio de sua ação vibratória os elementos mais grosseiros do corpo são gradativamente expelidos, um processo de purificação que ocorre e afeta não apenas o corpo de carne, sangue, cérebro e terminais nervosos como também tanto o corpo de luz quanto a completa estrutura mental dentro da esfera de sua ação. Na admirável biografia de Milarepa, o iogue budista, publicada pela Oxford University Press, existe a seguinte nota de pé de página: “De acordo com a escola Mantrayana está associada a cada objeto e elemento da natureza... uma taxa particular de vibração. Se essa for conhecida, formulada num mantra e utilizada habilmente por um iogue aprimorada, como era Milarepa, afirma-se ser capaz de impelir as divindades menores e elementais à aparição e as divindades superiores a emitir telepaticamente sua divina influência em raios de graça.”

Sustenta-se em magia que a vibração de certos nomes divinos conduz à produção de seus fenômenos psicológicos e espirituais. “Por quê?” pergunta Blavatsky em A doutrina secreta. Respondendo à sua própria pergunta ela afirma: “Porque a palavra falada possui uma potência desconhecida, insuspeita e desacreditada dos modernos ‘sábios’. Porque som e ritmo estão estreitamente relacionados aos quatro elementos dos antigos, e porque certamente esta ou aquela vibração no ar desperta poderes correspondentes, sendo que essa união produz bons ou maus resultados, dependendo do caso”.

A lenda que se refere ao Tetragrammaton hebraico é interessante. Aquele que conhece a pronúncia correta de YHVH, chamado S hem ha- Mephoresh, o Nome impronunciável, detém o meio de destruir o universo, seu próprio universo particular e arremessar essa consciência individual ao samadhi. Ademais, a teoria mágica assevera que a vibração estabelecida pela voz humana possui o poder não só de moldar a substância plástica da luz astral sob várias configurações e formas dependendo de seu tom e volume, como também de impulsionar a atenção de entidades e essências metafísicas para aquele molde.

O poder do som pode ser comprovado com absoluta facilidade por meio de alguns experimentos superficiais, mas sumamente interessantes. O proferir do monossílabo Om em voz alta e penetrante se sentirá, sem dúvida, vibrando de maneira notável tanto na garganta quanto no tórax.

Através da repetição, a capacidade de aumentar a potência ou frequência das vibrações e a área de sua detonação podem ser ampliadas de modo bastante considerável. Por meio de uma certa quantidade de prática criteriosa, sempre acompanhada do exercício da inteligência, o praticante se achará capacitado a vibrar uma única palavra de maneira a fazer o corpo todo estremecer e tremer sob o impacto do poder da palavra. Por outro lado, a prática também capacitará o aprendiza limitar, por exercício de sua vontade, a vibração a uma certa área ou localidade de seu corpo. Desnecessário dizer que se deve ter sempre um enorme cuidado, pois não se requer nessa prática que o corpo seja fragmentado ou despedaçado por vibrações catastróficas.

Há famosos exemplos do poder destrutivo do som causado pela ribombar do trovão ou a explosão de granadas. Temos a história amiúde repetida, e que vale bem a pena mencionar aqui, de um truque realizado por um grande cantor. Ele dá uma pancadinha de leve com a unha do dedo num copo de vinho de modo a fazê-lo retinir; em seguida, captando a nota com sua voz entoa a mesma nota com sua boca precisamente acima do copo. Passado um momento, estando sua voz vibrando em uníssono com a nota emitida pelo copo, ele bruscamente substitui a nota por uma mais alta, e o copo inesperadamente cai despedaçado. Ele está brincando com a lei da vibração, pois todas coisas, visíveis e invisíveis, adentram sua esfera, e todo objeto concebível existe num plano definido, possuindo uma taxa de vibração diferente. Toda massa orgânica e inorgânica é composta de uma multidão de centros de energia infinitamente pequenos que, a fim de se aderirem entre si, têm que vibrar conjuntamente. A mudança desta vibração ou destrói a forma ou produz mutações e alterações de forma.

(George Oliveira, jornalista)

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