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OPINIÃO

Pelos sertões

Recebo sempre originais de livros pedindo prefácios, mas raramente algum com tema sertanejo autêntico, escrito por quem conhece a vida sertaneja de vivência, como o que me enviou o escritor Edvaldo Nepomuceno, PELOS SERTÕES.

Não vamos falar aqui sobre o livro de Affonso Ariños, PELO SERTÃO, nem OS SERTÕES, de Euclides da Cunha, mas do PELOS SERTÕES, de Edvaldo Nepomuceno, escritor residente em Rialma. Affonso Ariños foi o iniciador dos escritores ficcionistas sertanejos, e Euclides da Cunha, o grande sociólogo. Estava fazendo falta um livro sobre sertão, no mercado. O sertão se modernizou e daqui a uns tempos ninguém mais vai saber  o que se passou naqueles tempos, como era a vida sertaneja. Hoje as máquinas agrícolas, as grandes colhedeiras estão expulsando os homens do campo inchando as cidades, aumentando o desemprego.

Estivemos neste sábado, com o Dr. Juarez de Souza, dono de um importante museu sobre Folias de Reis na sua estância em Senador Canêdo e a historiadora Izabel Signoreli, presidente da Comissão Goiana de Folclore, também o mestre Zé do Acordeon, assistindo ao giro de uma Folia do Rosário nas Lages, em  Itapuranga, comandada pelo antropólogo da UFG, vice-presidente da CGF, Jadir de Morais Pessoa, e não vimos nenhum cavaleiro, somente motociclistas. Nada de carro de tração animal, mas, sim, possantes caminhonetes a Diesel. Mocinhas bem trajadas, calças Lee e botinhas, cabelos-de-escova, em motos e com celulares. Algumas com instrumentos e fazendo parte das cantorias. As casas das fazendas todas ajardinadas, pomares ordenados, reformadas com materiais modernos, celulares, televisores planos, postes com fios elétricos se comunicando.

O casal anfitrião da última visita, Divino & Edna, onde foi cantado o Bendito, agradecimento de mesa,  tirado por Jadir com acompanhamento pelos foliões. A bandeira de Nossa Senhora do Rosário, que rodou a folia foi pintada pela artista multi-cultura, Maria Júlia Franco. Estavam presentes o diretor da UEG de Itapuranga, Professor Valtuir Moreira da Silva, o Professor Edson e o professor veterano, com mais de 50 anos de magistratura, Sebastião Gontijo.

Mas o caso nosso aqui hoje é o livro do Edvaldo, que foi me enviando os contos, de um a um até perfazerem nove, todos inspirados nos sertões: Branquinha, Uma vaquinha feita de fé, O caso de um mistério inexplicável, A vingança da amante, Pé de Nuvem, Fantasmas da Casa Branca, Iacyonça, Boi Solto e O caso de uma vingança.

O autor se revela, nestes contos bem escritos, um autêntico regionalista, muito seguro na sua linguagem, conhecedor dos vocábulos sertanejos com achados poéticos, metáforas ricas, o instinto dos animais, como em “Boi Solto”; alguns como até membros das famílias, os usos e costumes, as ingratidões dos patrões com os seus agregados, como no caso do “Uma vaquinha feita de fé”, quando o fazendeiro doa uma novilha leiteira para o filho do vaqueiro, que se afeiçoa à família, e depois manda o capataz matá-la para um churrasco de festa. O mal que a riqueza proporciona, a miséria que reina nas choupanas humildes, o desconforto de uns e a riqueza de outros, chegando até ao conto fantasmagórico, fantasioso, mas preservando o ambiente, a crendice, as almas penadas dos proprietários que se foram e ficam assombrando, como no conto “Fantasmas da Casa Branca”. Amores sertanejos proibidos, à moda antiga, resultando até em tragédias, como no “O caso de uma vingança”. E vai por  aí. Parabéns, Edvaldo! Afinal, PELOS SERTÕES será um livro prazeroso para se ler. Macktub!

(Bariani Ortencio, [email protected])

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