Conheço Pedrinho desde criança, na nossa querida Taquaral de Goiás, naquela época em que não havia perigo ao brincar até tarde na rua. Somos contemporâneos daquela inocente infância onde a felicidade era soltar pipa, pegar fruta no quintal do vizinho e tomar bronca do pai depois da peraltice. A vida simples, de muita pobreza e pouca comida no prato, não era impedimento para que os sonhos habitassem andares mais altos. O sonho da molecada era não trabalhar na roça, mas para isso era preciso estudar. O sonho do Pedrinho era ser doutor, assim como o meu.
A vida na roça é difícil para todo mundo. Para a família do Pedrinho não era diferente. Uma tragédia os marcou para sempre: o irmão mais velho morreu criança após um acidente. Por isso, mudaram-se da fazenda para a cidade. E porque não tinha emprego fixo, e quase nenhum dinheiro, aquela família morou em 24 casas em Taquaral: era o prazo de arrumar as coisas e acumular alguns meses de atraso no aluguel, a família tinha que deixar a casa. O dinheiro da costura da mãe dava para alguma despesa, mas não tudo. E Pedrinho queria ser doutor, igual aos doutores da cidade, David Dutra (advogado) e Sidney José Aratake (médico).
Já rapaz, Pedrinho, aos 14, conheceu o professor de datilografia, Zezinho, 17. Por motivos de poucos alunos, a escolinha de datilografia de Taquaral mudou-se para Itauçu. Pedrinho também seguiu para o município para estudar e morar com uma tia. Um ano depois, em 1985, a escolinha não ia bem das pernas novamente e o professor decidiu: era hora de tentar a vida na capital. Aproveitando a oportunidade, Pedrinho pediu para ir junto para Goiânia com a família do amigo, sem dinheiro no bolso mas com muitos sonhos na cabeça. Foram literalmente com a cara e a coragem.
Em Goiânia, muitos perrengues. Montaram a escola em um cômodo no Jardim América e, para vigiar as máquinas, Pedrinho e Zezinho dormiam ali no chão. A comida pouca era dividida entre eles mais a mãe, o padrasto e os quatro irmãos pequenos de Zezinho. Não raro, uma marmita tinha que dar para todo mundo. O dia de fartura era quando iam almoçar, aos domingos, na casa do tio Ananias. A mãe de Pedrinho costurava em Taquaral e mandava um troquinho para que o filho comprasse a mistura para ajudar a família que o acolhera, além de comprar suas parcas coisas. O auxílio de dona Angélica foi essencial no caminho de Pedrinho.
Numa sala abandonada e cedida no prédio São Judas Tadeu, na Avenida Goiás, foi a segunda sede da escolinha de datilografia que mantinha aquelas oito pessoas em Goiânia. Assim, de dia trabalhavam na escolinha, e à noite, Pedrinho e Zezinho estudavam no Colégio Estadual Rui Barbosa. Pedrinho já estava com 17 anos e quando podia, passava o dia na biblioteca da praça universitária revisando a matéria, pois o objetivo era ser doutor.
A aprovação no vestibular de engenharia civil aconteceu na faculdade de Alfenas, em Minas Gerais. Pedrinho mudou-se para fazer o curso quando soube que passara em segunda chamada na Católica de Goiás. Voltou imediatamente. Mas aqui ele precisava de um avalista para o crédito estudantil. O advogado doutor Davi Dutra foi o fiador. Zezinho, casado, tinha ido morar em Nerópolis e Pedrinho foi dividir casa com amigos em Goiânia.
Determinado, e com muitas contas pra pagar, Pedrinho cismou que tinha que arrumar estágio. Mas o problema é que ele ainda estava no primeiro período da faculdade. Pesquisou qual era a melhor empresa de engenharia e, com a sua roupa bem costurada pela sua querida mãe, foi lá pedir oportunidade. Deu de encontro com o mestre de obras, que nada podia fazer por ele, afinal, não tem estágio para iniciante de banco de faculdade. Mas naquela noite, o vigia noturno faltou, e para vigiar e observar a obra, Pedrinho ficou. E no final de semana que o patrão chegou à obra para vistoriá-la, Pedrinho o recepcionou. E naquele embaraço de ter um vigia novo e um estudante de engenharia interessado em aprender e necessitado de dinheiro, o patrão permitiu que ele ficasse aquele dia, aquele período, aquele ano. Pedrinho entrou vigia na construtora, saiu diretor-presidente anos depois.
A mãe e os três irmãos, após sua ascensão financeira, vieram para Goiânia quando Pedrinho pode dar-lhes uma vida melhor. O pai, Natalino, que era vaqueiro e depois foi vigia de banco e taxista, preferiu ficar em Taquaral. Com mais dois amigos de faculdade e o irmão Willis, Pedrinho abriu uma empresa em 1998, após deixar aquela primeira que tantas oportunidades lhe deu. Hoje, sua construtora possui obras em todo o país, inclusive no exterior, e Pedrinho ajuda a família, amigos, conhecidos e inclusive Zezinho, que foi trabalhar consigo como advogado na empresa, após Pedrinho custear seu curso de Direito.
Pedrinho, dia 29 de junho é seu aniversário, dia de São Pedro. Não por acaso você tem esse nome. Eu acompanhei sua trajetória e posso dizer com propriedade: sua história é nobre e você é um vencedor. A lição que fica é que um homem não deve abandonar seus sonhos. Determinação nunca te faltou, nem esperança de dias melhores. Te conheço por Pedrinho mas a grande parte da população te conhece por outro nome, Senador Wilder Pedro de Morais.
(Renato Pereira Sobrinho, geógrafo, cronista esportivo e cidadão do município de Taquaral de Goiás)