Desenvolveu a mais profunda e arrasadora análise histórico-crítica acerca do capitalismo que o mundo já viu; devassou, esmiuçou das menores partículas ou unidades constitutivas do capital às suas macro-dinâmicas de ordem planetária e que operam na contemporaneidade visando, evidentemente, apropriar-se do tempo e do futuro.
Lançou luzes profundas sobre o lugar do trabalho e dos trabalhadores no processo de produção da vida, sobretudo, da vida social. Em original e irrepreensível formato metodológico soube harmoniosamente, pontuar em delicado e sofisticado movimento teórico e dialético o mais elevado da abstração científica com a concretude carnal e sanguínea da história.
Tirou de cena superstições, crendices e a fantasmagoria que rondava determinada cientificidade adensada de tipologias ideais sumamente burguesas e que, ao fim, escondia a materialidade contraditória da vida, tornando-a finalmente, compreensível para pobres e miseráveis.
Deu forma, carne e ossatura para a definitiva categoria do trabalho inquietando perpetuamente a tranquilidade e o sossego de ricos e poderosos; fez mais, alçou trabalhadores do planeta, independente da profundidade da sua miséria ou pauperismo, ao píncaro mais elevado de ativa categoria política e universal; a esse respeito, o indefectível e muito ameaçador arremate do Manifesto do Partido Comunista (1848) é irreparável: “Trabalhadores do mundo [do mundo!], uni-vos!”
Carlos Marques criou por fim, um pensamento articulado, vibrante, sistematizado e totalizante; uma ideologia para o trabalho; uma essência política eternamente internalizada no espírito e na história das classes do trabalho e que, finalmente, passaram a enxergar e se descobriram aviltadas e escravizadas.
Saiba, por fim, meu caro, que desde então... Todas as lutas por libertação, todas as resistências dos povos oprimidos do mundo; levantes do sindicato, bairro ou tribo; do retiro, da margem, periferia ou gueto; do burgo, cidadela, região, nação ou conjunto de nações, onde olhos rebeldes ou revolucionários se levantarem por uma vida de justiça, igualdade e liberdade, ali, precisamente ali... Haverá um abrasivo e flamejante fio da barba de Carlos Marques.
(Ângelo Cavalcante, economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara)