Um homem solitário estava deitado à sombra de um coqueiro. Nuvens oceânicas navegavam no azul límpido do céu. Uma menina feliz porque atraída anjos se aproximou dele sentindo compaixão:
– Bom-dia, pedacinho de gente! – disse o homem estendendo a mão para cumprimentá-la.
– Bom-dia! – respondeu a menina sentando-se ao lado de uma duna de areia.
O homem e a menina se entreolhavam sorrindo diante da vastidão do mar que trazia fortes ondas para orla da praia.
O homem respondeu meio distraído:
– Você está triste porque não tem amigos. Você quer ir ao piquenique que farei hoje? – perguntou a menina ansiosa num misto de espanto e preocupação.
– Por que ficar discutindo a cor da toalha, a qualidade da grama, se vai chover, se tem formigas e se queremos sanduíche ou bolachas? Interrogou o homem num ar de profundo desânimo – no final nem seremos felizes como poderemos ter sido.
A resposta foi pronta e contundente:
– Pois te desejo muita felicidade. Se você não for, mesmo assim sentirei-me feliz por ter conhecido hoje um homem singular.
– Obrigado, eu sou mesmo um só, único no mundo – agradeceu o homem num súbito ar de alegria. Eu desejo que você obtenha tudo o que ninguém pode te dar – acrescentou.
Após um momento de silêncio, num impasse total, a menina disse:
– Não é isso que eu desejo expressar. Eu só queria dizer que você é um amigo maravilhoso – insistiu a menina.
– É... deva ser porque eu gosto de cenouras, nuvens e batatas – respondeu novamente o homem sempre sorrindo para a menina.
– Mas eu não estou vendo você comer cenouras e nem batatas, nem sequer você está olhando para as nuvens – insistia a menina inconformada e perplexa.
A lembrança e a saudade entristeceu o homem:
– É que estou lembrando-me da casa que eu perdi, onde eu dava cenouras aos meus coelhos e vivia plantando batatas.
(Edvaldo Nepomuceno, escritor)