O suicídio do pastor da Assembléia de Deus, Júlio César Silva, tem sido bastante comentado nas mídias sociais e na internet. Sem dúvida, saber que alguém se matou nos comove, mas quando se trata de um líder espiritual, a notícia abala aos seguidores como um terremoto. Geralmente, os membros de igrejas-sejam elas católicas ou protestantes- transferem para o pastor ou padre, de modo inconsciente, certos sentimentos, como amor, confiança, respeito. Esses líderes passam a ser autoridade , figuras que inspiram a caminhada no mundo. Quando, porém, a notícia daquele que era considerado como um pai (ou um modelo a se seguir) tira a própria vida, elas ficam confusas, perdidas, tal como uma criança que acabou de perder um pai. Elas pensam: por que ele fez isso? Por que tirou a própria vida e nos deixou órfãos ?
Acredito que, por meio de um ato de violência contra si mesmo, o suicida está dizendo para a sociedade: “quero encontrar uma vida com sentido.” Em outras palavras, o suicida quer viver, não morrer. Viktor Frankl, em seu livro “O homem em busca de sentido”, firmou que aquele que tem um porquê viver pode suportar qualquer como. Segundo Viktor, quando estava nos campos de concentração nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, viu muitos prisioneiros “entregar os pontos”. Essas pessoas, como afirmou, perderam o sentido na vida. Não viam mais razão para continuar existindo. Por isso, não se levantavam da cama, para se apresentar diante dos soldados nazistas, como de costume. Como consequência, elas levavam um tiro na cabeça. Quando um líder religioso decide se matar por falta de sentido na vida, a sociedade fica perplexa!
O problema é que a “solução” que o suicida encontra- matar a si mesmo- “resolve” o problema da dor dele, mas perpetua a própria dor nos antes queridos que ficaram. Eu poderia até mesmo dizer que, ao colocar um ponto final na própria história, o suicida coloca um ponto de interrogação na história daqueles que o amam. Certa vez ouvi um professor de teologia dizer que o suicida é um grande egoísta( narcisista). Eles querem encontrar alívio para a dor deles, mas não pensam na dor que deixarão na vida dos outros. Nesse sentido, o suicídio é um ato egoísta. Com isso , não me refiro àqueles que se mataram para proteger a alguém, ou se jogaram de um prédio em chamas, por não suportar o calor do fogo. Refiro-me aos homens e mulheres que , diante da dor existencial, decidem se jogar nos braços da morte.
Por que , então, alguns se jogam nos braços da morte? O fazem porque a vida é injusta, há pessoas más, traidoras, mentirosas. Aqueles a quem amamos morrem, nossos planos ,muitas vezes, fracassam; estudamos, trabalhamos, amamos e depois viramos comida de vermes. Para quem pensa assim, a vida é um absurdo.
Tenho, no entanto, um porquê viver. Acredito que há outra realidade a qual não vemos. Um outro mundo, como dizia C. S. Lewis. Para conhecer a esse mundo, basta olhar para a vida, se quiser conhece-lo. Por exemplo: se o mundo é injusto, é porque há um mundo justo. Se sentimos tristezas, deve haver um lugar há plena felicidade. Quando percebo que nenhuma experiência desse mundo pode me dar uma vida com sentido, isso significa que não fui feito para ele. Por causa do mundo que há de vir, suporto qualquer infelicidade que há neste mundo. Infelizmente, alguns líderes perdem a fé no mundo de lá.
(Edomm Hezrom, jornalista, teólogo, autor do livro: “O Senhor é o meu psicólogo, nada me faltará”)