A maneira mais adequada de se avaliar um governo como sendo bom ou ruim é através do mais sábio dos juízes: a história. É inserido na dinâmica do longo prazo do processo histórico que a reputação dos governos vai se solidificando. Bons governos são aqueles que visam o bem comum e não o bem próprio. Boas ações de governo são aquelas que visam atender a sociedade como um todo e não uma parte dela. O que aparenta ser bom na imobilidade do curto-prazo pode não ser na dinamicidade do longo prazo. É como profetiza o consagrado cantor Caetano Veloso: “O que geralmente vai para as paradas de sucesso são os nossos fracassos.” Vejamos alguns exemplos.
O Estado tecnocrático construído no Brasil nos tempos dos militares foi decisivo para o considerável crescimento da economia brasileira nos anos 1970. A euforia do crescimento econômico de um olhar no curto prazo escondia algo terrível revelado em longo prazo pela história: a tortura implementada nos porões do Estado Brasileiro. Fatos como esse foram decisivos para diminuir a dimensão do Estado Brasileiro nos tempos da ditadura. As areias do tempo reduziram o regime militar a um patamar inferior ao por esse regime obtido no otimismo de curto prazo dos anos 1970.
Outro exemplo: passados mais de 60 anos do suicídio de Getúlio Vargas sua estatura política se mantem viva na memória dos brasileiros. A figura do ditador não se apequenou ante ao legado deixado ao país pela era Vargas. A imagem de construtor do Brasil moderno falou mais alto que os eventuais pecados cometidos pelo presidente nos tempos do Estado novo. Além disso, a era Vargas trouxe dignidade a uma classe que vivia a margem da sociedade desde os tempos da chama República Velha: a dos trabalhadores. Entre perdas e ganhos, a história alçou Getúlio Vargas ao patamar de Estadista.
Cá entre nós, o desenvolvimento político goiano conduziu Pedro Ludovico Teixeira ao mesmo patamar. A imagem de grande homem público prevaleceu sobre aquela do médico rodeado de jagunços. (Estes certamente foram necessários numa época em que as paixões políticas eram resolvidas na bala).
Dos tempos em que Pedro Ludovico mandava em Goiás para os dias de hoje, é oportuna a seguinte indagação: que patamar terá na história os governos Maguito Vilela e Marconi Perillo?
Vamos a resposta. Tanto um quanto o outro foram seduzidas pelo canto das sereias do imediatismo do curto prazo. Aos fatos. A quem serviu os sobredimencionamentos dos programas de eletrificação rural e irrigação implementados no governo Maguito. Ao todo, a sociedade; ou as partes, integradas pelos empreiteiros e prestadores de serviço? A quem serviu o contrato de compra de energia a preços 53% maior do que os praticados pelo mercado ao todo, empresa pública ou a parte, o comprador da usina? Do governo Maguito ao governo de Marconi Perillo mudou-se para continuar tudo igual como era antes. Embora de uma maneira mais sofisticada, Goiás continuou a perder patrimônio. O canto das sereias desse governo passou a se chamar “modernização” acompanhada de todos os malefícios que essa prática representa quando não se tem um plano de governo a seguir. Posto isso volto a indagar: a quem serviu os pacotes tecnológicos que se tornaram verdadeiros elefantes brancos a fulminar o de há muito combalido patrimônio da falida Celg, ao todo, a empresa pública Celg, ou a parte, a sociedade?
A quem serviu os inúmeros contratos de eternas “consultorias” contratadas para implementar projetos que nunca saíram do papel ao todo, a empresa pública, ou as partes os “consultores” e seus contratantes? A quem serviu a contratação milionária de serviços advocatícios externos quando na época a empresa dispunha em seus quadros de dezenas de advogados, ao todo empresa pública ou as partes advogado e seus contratantes?
Os governos Maguito e Marconi são duas fases da mesma moeda. Se o primeiro levou a empresa ao empobrecimento manifestado na perda da Usina Hidroelétrica de Cachoeira Dourada e ao maldito contrato de compra de energia; o segundo virou as costas para o principal instrumento gerencial que certamente retiraria a empresa do estado pré-falimentar que vivia desde os anos 1990: o Planejamento estratégico. Planejamento é a racionalidade que constrói a verdadeira modernidade. Nesse sentido, a “modernização” do governo Marconi desprovido de estratégias de desenvolvimento sempre foi um gigante com os pés de barro. Que o diga a privatização da Celg.
É oportuno lembrar que nenhum nem outro desses governos implementaram o contrato gestão reivindicado enfaticamente pelo senador Ronaldo Caiado. O canto das sereias do uso político da empresa no curto prazo falou mais alto do que as ações estratégicas de longo. Estas, se implantadas, certamente apontaria um rumo a seguir para que o navio Celg chegasse a porto seguro.
Encerro estes escritos como comecei: que julgamento fará a história dos governos Maguito e Marconi? Foram bons ou maus governos? Serviram ao todo ou as partes do sistema político? A história dirá. Por ora, as duas faces da moeda evidenciam, ante a brutal perda de ativos que teve o patrimônio público goiano, um significativo empobrecimento do Estado empresário.
Ronaldo Caiado, com seus mais de 30 anos de vida pública, é o novo na política a se eleger governador de Goiás. Assim espero!
(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outros livros, de A Construção de Goiás – E-mail: salatielcorreia1@hotmail.com)