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POLÍTICA

“Brasil vive, hoje, estado de exceção”

 Membro do CC do PCdoB aponta que Manuela D’Ávila despontaria, hoje, como uma expressão nítida da necessária renovação da política brasileira Jornalista vê desrespeito à Constituição Federal, pisoteio de preceitos basilares como a presunção da inoc

  •  Membro do CC do PCdoB aponta que Manuela D’Ávila despontaria, hoje, como uma expressão nítida da necessária renovação da política brasileira
  • Jornalista vê desrespeito à Constituição Federal, pisoteio de preceitos basilares como a presunção da inocência e o respeito ao devido processo legal
  • Ele diz que, com Executivo chefiado por um presidente da República ilegítimo, um Legislativo conservador, irrompeu-se a tutela da toga e a farda se inquieta
  • Analista de cenário afirma que Judiciário, Ministério Público e aparato policial do Estado se partidarizaram e se contaminaram por interesses políticos

Com a violação da Carta Magna promulgada em 5 de outubro de 1988, a destruição de preceitos basilares como a presunção da inocência e o respeito ao devido processo legal, o Brasil vive, hoje, sob um estado de exceção. É o que afir­ma, com exclusividade ao jor­nal Diário da Manhã, Adalberto Monteiro, 60 anos, jornalista, gra­duado na Universidade Federal de Goiás, e poeta, radicado em São Paulo, capital. É editor da re­vista Princípios. Mais: membro da direção nacional do PCdoB. O Partido Comunista do Brasil, legenda da foice e do martelo nascida em fevereiro de 1962, de uma dissidência do PCB, o Partidão, à época sob controle do reformista Cavaleiro da Es­perança, Luiz Carlos Prestes, um colecionador de derrotas, como em 1935, 1947, 1964 e 1980. O pe­riodista é ainda secretário-geral da Fundação Maurício Grabois.

– Desde a escalada reacionária, que resultou no golpe de agosto de 2016, o estado democrático de di­reito é sufocado pelo estado de ex­ceção capitaneado pela Lava Jato.

LEIA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

Diário da Manhã – O Brasil vive, hoje, sob um estado de exceção?

Adalberto Monteiro – Desde a escalada reacionária que resul­tou no golpe de agosto de 2016, o estado democrático de direito é crescentemente sufocado pelo estado de exceção capitaneado pela Lava Jato. O combate rigoro­so à corrupção é uma necessidade permanente e justa aspiração do povo. Este combate, todavia, deve ser feito com as armas e os instru­mentos do estado de direito. Os cidadãos e cidadãs que, hoje, co­memoraram as exorbitâncias de setores do Judiciário amanhã po­derão ser, também, vítimas desse estado de exceção que se expande.

DM – Quais as características de um estado de exceção?

Adalberto Monteiro – É o que ocorre hoje: se desres­peita a Constituição Federal, sepisoteia preceitos basi­lares como a presunção da ino­cência, o respeito ao devido pro­cesso legal. Setores do Judiciário, do Ministério Público e mesmo do aparato policial do Estado se partidarizaram, se contamina­ram por interesses políticos e pas­saram a agir, deliberadamente, de modo seletivo, poupando uns, prote­gendo outros. Geraldo Alckmin, candidatodos tucanos, acaba de ser poupado pela Procura­doria-Geral da Repú­blica, enquanto o ex­-presidente Lula está numa cela, por uma condenação injusta e infame.

DM – Qual sua análise sobre as ameaças do general Eduardo Villas Boas?

Adalberto Montei­ro – O pronunciamen­to foi afrontoso à Carta Magna. O Brasil precisa de Forças Arma­das robustas, dado as ameaças externas que só se elevam. Toda­via, elas devem, rigorosamente, atuar tão somente dentro do fi­xado pela Constituição: defender a soberania nacional. O golpe de Estado, de tipo novo, que depôs a presidenta Dilma Rousseff, abriu a caixa de Pandora. Rompeu­-se o equilíbrio entre os poderes da Repú­blica. Diante de um Executivo chefia­do por um presi­dente da Repú­blica ilegítimo, de um Legislati­vo conservador e subserviente a um fétido Palá­cio do Planalto, ir­rompeu-se a tutela da toga. Depois da toga, agora, é a far­da que se inquieta.

DM – Michel Temer defendeu o direito de expressão?

Adalberto Montei­ro – Desmoralizado, fraco, ostentando índi­ces gigantes de impopu­laridade, Temer decretou a intervenção federal, mi­litar, na Segurança Pública do Rio de Janeiro. Fez uso poli­tiqueiro do poder constitucional de comandante das Forças Ar­madas. Especialistas, e mes­mo o alto escalão das For­ças, reiteradas vezes já afirmaram que é ina­propriado o uso de­las para desempe­nhar o papel de polícia. Para tentar chegar atéofinaldo mandato que usurpou, Te­merjádependiadecumprir as ordens do chamado mercado; agora, terá de bater continência aos generais.

DM – Daniel Aarão Reis Filho diz que a Carta Magna de 1988 mantém tutela das Forças Armadas sobre a República. A análise possui fundamento?

Adalberto Monteiro – A Car­ta Magna de 1998 é resultado de uma dada correlação de forças que emoldurou um pacto social­-político. Apesar de suas limita­ções, foi uma conquista razoável decorrente da épica jornada que redemocratizou o País. De 1985 para cá, as Forças Armadas, progressivamente, voltaram para o lugar de onde nunca deveriam ter saído: os quar­téis. Essa turbulência recente não foi em decorrência de la­cunas da Carta Magna. Decor­reu do que já disse acima: crise institucional que o golpe de Es­tado instaurou.

DM – Tiros à caravana petista, morte da vereadora do PSol no Rio, prisão de Lula...

Adalberto Monteiro – Isso vem da nova ordem ultraliberal, neo­colonial e autoritária que está sen­do implantada pelo governo de Michel Temer. Para cortar histó­ricos direitos trabalhistas, para restringir o acesso aos direitos so­ciais, para entregar o patrimônio nacional, como é caso da riqueza do Pré-sal e a tentativa de priva­tizar a Eletrobras, é preciso repri­mir, criminalizar os movimentos sociais. Autoritarismo, a violên­cia jurídica e política, e mesmo a violência física, na história da Re­pública, sempre foram expedien­tes de governos carrascos do povo e traidores da pátria.

DM – O que propõe o manifesto de Manuela D’Ávila?

Adalberto Monteiro – A pré-can­didata do PCdoB à Presidência da República Manuela D’Ávila des­ponta como expressão da neces­sária renovação da política bra­sileira. Seu manifesto proclama que, apesar das adversidades, as forças progressistas podem, sim, vencer as eleições pre­sidenciais de outubro. Para isto, é preciso duas ques­tões bási­cas: ideias e propostas que apon­tem saídas para a cri­se. Manuela D´Ávila tem dito que impõe-se um novo projeto nacional de desenvolvimento, so­berano, que promova um novo ci­clo de democracia, prosperidade e progresso social. Manuela D’Ávi­la defende as liberdades, os direi­tos civis, os direitos e o ‘empodera­mento’ das mulheres. Ela defende a libertação imediata do ex-presi­dente Lula e a preservação de seu legítimo direito de ser candidato.

DM – É possível uma unidade entre PCdoB, PT, PSol, PCO, PCB e PCR, já que com PDT e PSB é difícil?

Adalberto Monteiro – Desde João Amazonas, o PCdoB procla­ma que “a unidade é a bandeira da esperança”. E agora não será diferente. O campo da Nação e da classe da trabalhadora, da esquer­da e das forças progressistas terá que percorrer um imperativo ca­minho de conver­gência programáti­ca e de entendimento eleitoral. Haverá uma pressão de baixo para cima para que isso ocorra. Quando a direita começar a fazer suas composições, visando o segundo turno, a esquerda também será impelida a empreender um pac­to eleitoral. O manifesto da fun­dações do PT, PDT, PSol e PCdoB, divulgado recentemente, repre­sentou um começo. Como disse Manuela D’Ávila, “a esquerda tem o dever de vencer essas eleições”. E para tal terá que ter responsabi­lidade e sabedoria para se unir.

DM – Solidariedade: triste o final da carreira de Aldo Rebelo, não?

Adalberto Monteiro – Quan­do Aldo Rebelo, depois de quaren­ta anos de militância, se desfiliou do PCdoB para ir para o PSB, nos­sa direção nacional emitiu uma nota apontando que uma relação de respeito recíproco, de convivên­cia democrática, passaria a rea­gir as relações com esse destaca­do quadro da política brasileira. E assim, tem sido de parte a parte. Agora, muito recentemente, ele fez um novo giro nas suas escolhas po­líticas. É muito cedo para opinar.

  A unidade é a bandeira da esperança Adalberto Monteiro Legislativo conservador e subserviente a um fétido Palácio do Planalto Adalberto Monteiro