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POLÍTICA

Consciências surdas, artigo de Batista Custódio

Este artigo também pode ser lido no DM Online. O MUNDO dói aos meus olhos. Olho a natureza fora de jeito nos sossegos da vida. Vejo povos quebrarem fronteiras de nações em busca de caridade nas gentes das terras vizinhas. Contemplo pais olharem para trás

Este artigo também pode ser lido no DM Online.


O MUNDO dói aos meus olhos. Olho a natureza fora de jeito nos sossegos da vida. Vejo povos quebrarem fronteiras de nações em busca de caridade nas gentes das terras vizinhas. Contemplo pais olharem para trás nas estradas a saudade levá-los nos filhos que ficaram à sua espera no colo das mães. Avisto nas relembranças a silhueta daquela criança deixada na praia pelos sobreviventes do naufrágio ao fugirem da guerra na Síria, e que, sentada na areia, olhava a imensidão do mar a procura do pai, sem saber que estava sozinha no mundo. Vislumbro na figura daquele menino subnutrido, debruço ao chão africano e vigiado por um urubu, a pobreza na fome de poder das autoridades intocáveis nas prerrogativas constitucionais. Observo o governo no Executivo, Legislativo, Judiciário, estrangulado nacionalmente por transtornos estruturais insolúveis na magreza moral vitalizada no inaproveitável dos escombros no caráter. Videncia-se na antevisão a imagem da Torre de Babel no sequencial desmoronamento dos poderes nos céus da corrupção no Brasil. E enxerga-se no descortino das manifestações da percepção intuitiva os cortejos de cegos seguirem entre os caídos, esses praticando as sinecuras que aqueles cometeram, e sentindo-se salvos no meio do estrondar dos escombros.

O verdadeiro não está mais sozinho daqui para a frente no templo dos tempos. O que se garantiu legal no imoral, não se sustentará nas aprontações do indevido e será devidamente enquadrado nas sofreções até alcançar o fiel do espontâneo nas honras à vida. A honestidade é a raça, o incorruptível é a marca e o idealismo é o namoro dos que se casam com o povo no altar das liberdades públicas, porque são os filhos do sonho.

O trivial do bandalho no triunfo dos trunfos miserou-se na pompa das escórias graduadas. Bateladas de líderes vindos no acaso dos ventos errantes desgovernaram-se nos abalos da tempestade das mudanças. Punhados de mitos foram sugados nos rastejos ao chão do funil do redemunho. Nessa quadra nada é estável e tudo fica em reviravolta. Nuvens escuras e trovejantes nos temporais da corrupção escorrem enxurros em toda parte e assanham os enxames ideológicos nas colmeias políticas, onde os zangãos se dividem: uns fazem cera, outros comem o mel. Mas já está raiando em todos os horizontes a alvorada do tempo limpo e fará o estio que, pelo menos, as nuvens de mosca azul se desfazem à luz do sol.

Os favos da corrupção serão colhidos em todas as colmeias, espremidos e estocados nas apiculturas da Lava-Jato e filiais, até não restar um só dos abelhudos nos paus-brasil ocos. E assim será com a investidura do juiz Sérgio Moro como ministro plenipotenciário da Justiça.

Estamos no exato momento de se criar o novo nos velhos e nos moços, inclusive o verbo desroubar. As fortunas mostram os políticos e outras autoridades nas esferas do poder público que os enriqueceu em Goiás. Uma plêiade camufla-se nas leis às suas ordens. Embora aparentem-se tranquilos, escapa-lhes, à revel da descontração informal, a angústia reverberada na apreensão.

Em tarde recente, estive com um desses ilustres que, há anos, passa o povo para traz no encoberto em sua vida. A conversa ia boa. Súbito no de repente, ele fala-me:

— Nunca fiz corrupção!

Estranhei a veemência do enxerto de sua ressalva inoportuna ao nosso diálogo. Meditei instantâneo no reflexo rápido. Não me referira à corrupção. Intrigou-me o desvendo da intenção no propósito do seu monólogo “Eu nunca fiz corrupção”, como se o houvesse acusado. Reflexionei. Olhei-o. Estava afetivo. Parecia outro. E conclui. A razão do seu desabafo ofendido era introjetiva. Só então notei-o ansioso e retirei-me penalizado dele. Quem o interpelara foi a pessoa que está dentro de si. E fala mal dele, nele.

A corrupção dos políticos presos está neurotizando os políticos soltos. O medo distribui fantasmas nas apreensões. Muitos e muitos falam mal uns de outros para não se ouvirem em si. São consciências surdas.