A eleição presidencial será decidida em um segundo turno tenso e estratégico - algo inédito no Brasil. O último dia do mês será histórico por conta do drama eleitoral.
Para efeito de comparação, em 2014, Dilma Roussef (PT) virou para o segundo turno com 41,59% e Aécio Neves (PSDB), com 33,55%.
Ainda que competitiva, a disputa Dilma-Aécio foi leve se comparada com a que se anuncia. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 48,43% do total contabilizado pela Justiça Eleitoral até a madrugada. O presidente e candidato à reeleição do PL, Jair Bolsonaro, recebeu até agora 43,20%. Apenas 5% de diferença significa que os dois se engalfinharão pelos 4,2% de Simone Tebet (MDB), 3% de Ciro Gomes (PDT) e 0,5% de Soraya Thronicke (UB).
O segundo turno está marcado para 30 de outubro. Até lá, a disputa ocorrerá nos bastidores e espaços midiáticos.
Frustrado, o PT agora entra em contagem regressiva para que a campanha de segundo turno termine logo. Ele deve virar na liderança. E com outros planejamentos para defesa, já que investiu no discurso pelo voto útil na intenção de encerrar a disputa neste domingo, 2, mas sua estratégia fracassou e assustou eleitores ponderados de Tebet e Ciro, que podem ter avançado para as portas da abstenção.
Agora a retórica terá que mudar. Sem arrogância dos meados da campanha, Lula precisa dialogar com quem ele mais se digladiou - Ciro Gomes (PDT).
Ontem, logo após o resultado, Ciro foi breve em seu discurso, agradeceu os eleitores, se disse extremamente preocupado com o Brasil e pediu tempo para falar com amigos e família. Está magoado. Seu eleitorado também, uma vez que o assédio - principalmente de artistas - enfraqueceu sua candidatura.
Com o afunilamento de Lula e Bolsonaro, outro risco para o PT é deixar que a reta final da campanha seja pautada pelo debate da corrupção. Sem apresentarem ou debaterem propostas até agora [ nenhuma foi inserida na agenda de campanha], Bolsonaro e Lula caminham para deixar a campanha na vala dos temas comuns, como os escândalos e denúncias. É aqui a armadilha montada para o PT - o partido do mensalão, petrolão, Lava Jato, etc.
Por sua vez, Bolsonaro, ainda que tenha grande votação na região, vai encarar um Nordeste e estados centrais fechados - como Goiás e Minas Gerais, que já elegeram seus governadores. Sem os estados, a campanha não flui e exige maior estratégia de mídia - que pode funcionar ou sair pela culatra.
O segredo das abstenções
Os dois políticos devem lutar ainda pelas abstenções, na casa de 20,9%, uma vez que este grupo costuma mexer nas estruturas de segundo turno - na maioria das vezes, eleitores desanimados ou de baixa escolaridade. E pode ser essencial para quem não obter êxito nas alianças. Neste caso, o fundamento é primeiro identificar a espécie de eleitor que não votou e depois atuar com estratégias sensíveis, como convencimento para que ele vote no dia 30.
Existe uma anormalidade neste parâmetro: em algumas eleições aumentam as abstencões e noutros pleitos elas reduzem. É possível prever os cenários em pesquisas qualitativas. Já nesta semana os dois grupos tentarão decifrar as nuanças desta estratificação.
Pesquisas erraram
Tanto as pesquisas Brasmarket, Ipec, Quaest quanto a polêmica Datafolha erraram em seus prognósticos e prejudicaram Bolsonaro, que aparecia menor nas sondagens.
Poucas horas antes da eleição, Ipec (antigo Ibope) apontava Lula com 51% e Jair Bolsonaro com 37% - 14% de diferença entre um e outro. Datafolha foi semelhante no sábado: 50% a 36%. Quaest apontava 49% a 38%. Já o Ipespe indicava 49% a 35%. A Paraná Pesquisas se aproximou: 47% a 40%. E a Brasmarket errou feio: 51% para Bolsonaro e 34% de Lula.
No segundo turno, a tendência é de que os resultados sejam mais vigiados e questionados, uma vez que os erros saíram da própria margem de erro das sondagens. O bolsonarismo vai bombardear a manipulação das pesquisas.