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POLÍTICA

As idas e vindas de Friboi

Welliton Carlos Da editoria de Política&Justiça

A transformação de um empresário em político costuma ser traumática. E muitas vezes impossível. O inverso acontece com naturalidade: o político se enriquece e torna-se empresário. Mas o empresário político é um quebra cabeça. Que diga o fundador do Grupo JBS (hoje a holding J&F), goiano Júnior Friboi.
Há pelo menos duas décadas ele ensaia sua entrada na política. Mas não consegue sustentar nem discurso nem mandatos. Teve rápida passagem como secretário em um segundo mandato de Marconi Perillo. E nada mais. Jamais disputou uma eleição.
Nos últimos dias, Júnior Friboi tem avaliado que cenário lhe resta. A partir de conversas em reservado com a família e outros orientadores da política, regionais e nacionais, já passa pela cabeça do empresário jogar a toalha e sair com o ‘protocolo Silvio Santos de afastamento’ natural da política.
Em 1989, Silvio Santos, o apresentador, sonhou com a presidência da República. Mas percebeu que política não era fácil e que dinheiro não compra tudo. Líder das pesquisas, Silvio foi alvejado por 18 pedidos de cassações do partido que lhe restou. Caiu de joelhos e acompanhou a vitória de Collor.
A mesma dificuldade se repete com Friboi: a falta de um partido. O megaempresário passou os últimos dois anos em busca de uma sigla. Primeiro teve o PSB em suas mãos, mas depois pulou para o PMDB. Antes, esteve no PSDB. Reza a lenda que avisaram Friboi: “Teve uma reunião em que falamos abertamente: ‘Júnior, o PSB não elege nem deputado federal. Você não ganha’. Ele então falou: ‘Qual partido posso ter e ganhar e que não seja o PSDB? Se for o PMDB, vou ter ele!’ Foi aí que se aproximou da legenda de forma forçada, atropelando Iris. Ele é empresário, homem de resultados, fecha contratos de bilhões”, diz uma fonte que tentou ajudar Friboi no começo, mas que depois preferiu ficar com Iris.
Júnior Friboi chegou ao PMDB pelas mãos do vice-presidente Michel Temer e pelo então presidente nacional do partido, senador Waldir Raupp, e contra a vontade de Iris Rezende, enciumado pelo fato de que o empresário chegou de “paraquedas”, ou seja, abençoado pelos cardeais nacionais da legenda.
A sigla teria um pacto de apoio na disputa de 2014: se ele deslanchasse nas pesquisas, Iris se afastaria. Mas Iris Rezende contrariou os sonhos de Friboi; jamais se afastou plenamente. E Friboi também nunca foi páreo para Vanderlan Cardoso (PSB) e o isolado Marconi Perillo (PSDB).
Hoje, o empresário da carne é uma ‘persona non grata’ dentro da legenda, que nos próximos 70 dias deve, inclusive, decidir seu futuro dentro da agremiação. Em reservado, os peemedebistas dão certa a expulsão de Friboi – mesmo ele dizendo o contrário. Conselho de Ética já teria notificado o empresário, que deve apresentar sua defesa por escrito nos próximos dias.
Ainda hoje o empresário da carne mantém sua rede social com frases de efeito endereçadas a aniversários de cidades e dicas de sucesso. As curtidas minguaram e o que se vê é um trabalho mecânico de assessoria pronto para ser desmontado.
Todavia, a rede social é simbólica: mostra enfraquecimento do ‘político’ Júnior e esmorecimento de sua imagem pública (construída a custo de muito dinheiro) e uma opção por aguardar os ventos que sopram. Ele não saiu de campo, mas não se mexe. Aguarda os ventos.

LEI FRIBOI
O ex-governador Iris Rezende tem pensado muito sobre Friboi. Acha imperdoável o que ele trouxe à tona na disputa eleitoral, caso das cartas em tom agressivo e a declaração de apoio a Marconi Perillo (que retribuiu o empresário com a ‘Lei Friboi’).
Nos bastidores, Iris disse que é para o “PMDB decidir, pois não quer mais se envolver com essa história”. Ou seja, os políticos uma linha abaixo da hierarquia não sabem que rumo tomar.
Dois grupos estimulam a quebra de braço hoje na legenda: Maguito Vilela, prefeito de Aparecida de Goiânia, não quer o afastamento do empresário do PMDB. Por sua vez, o grupo que reacendeu dentro da legenda, caso de José Nelto (PMDB), está pronto para fechar o ciclo do empresário dentro da sigla. Iris Rezende não fala nada abertamente. Daí que cada grupo faz sua interpretação. Maguito Vilela afirma que o PMDB terá, então, que expulsar metade da legenda, já que tantos outros marcharam com o adversário de Iris. Mais enfático, Nelto diz que só existe uma possibilidade para “os traidores”: “Expulsão”.
Diante do dilema, Friboi teria encomendado a um emissário que levasse até Iris Rezende a informação de que deseja saber antecipadamente o resultado do Conselho de Ética: para ele, a expulsão representará a ‘morte política e civil’, pois fecha o ciclo com a estipulação de um estigma.
Friboi teme, portanto, uma morte na política – o que ele não quer de jeito nenhum. Afinal, foi justamente seu pleito eleitoral que devolveu para o grupo empresarial a quantia de R$ 1 bi, um agrado avalizado pela gestão de Perillo. Sem a disputa, Marconi não teria acenado com o perdão bilionário de impostos. A expulsão, portanto, seria o fim de carreira e a estipulação oficial de que Friboi é um traidor ou um ‘vendido’ politicamente. Este poderá ser, portanto, seu estigma.
O sociólogo canadense Erving Goffman diz que não existe nada mais temível do que um estigma: “O termo estigma é usado em referência a um atributo profundamente depreciativo, mas o que é preciso, na realidade, é uma linguagem de relações e não de atributos”.
Ou seja, não será Friboi que se sentirá estigmatizado, mas a legenda que propagará e atribuirá a imagem dele como de traidor e homem não confiável na política. Essa imagem, que ainda está apenas em formação, pode ocupar o espaço daquela que vinha se formando: o do empresário realizador.
Daí que resta a Friboi duas alternativas: se humilhar e pedir desculpas ao cacique que ele destratou ou sair da legenda. Ficar não significa muito. Enquanto Friboi oferece energia e disposição para reconstruir o PMDB, de olho na disputa de 2018, Iris quer o comando da Prefeitura de Goiânia e uma aliança exógena com Ronaldo Caiado – hoje, o pré-candidato da legenda ao Governo de Goiás.

Empresário terá turbulências pela frente 

A aprovação da Lei Friboi pode causar dor de cabeça para Júnior Friboi e também governo de Goiás. A promotora de Justiça Leila Maria de Oliveira instaurou inquérito para apurar a aprovação da lei por parte do Legislativo e Executivo estadual que beneficia a empresa JBS S/A.
Conforme a promotora, a Lei n° 18.709/14 precisa informar quantas empresas foram beneficiadas pela norma. Ela quer saber a discriminação de valores.
O que mais chama atenção do MP é o prazo de validade da lei: apenas uma semana, justamente a última de 2014. Contando feriados e fim de semana, as empresas tiveram uma janela de quatro dias para obter o benefício.
Outra pendenga refere-se aos boatos de que um dos filhos do ex-presidente Lula seria o efetivo proprietário da JBS. Em contato com o Diário da Manhã, a empresa, via assessoria, negou todas as acusações e alega que o assunto cabe ao setor jurídico.

BNDES
Após a crise da Petrobras, setores da oposição apontam que o BNDES pode ser o próximo a ir para o olho do furacão. E se ocorrer, a empresa de Friboi pode ser envolvida, já que existem diversas denúncias e investigações em curso a respeito das transações entre a empresa e o banco de desenvolvimento do Governo Federal.
Por mais de seis meses, o banco estatal se negou a revelar informações sobre negócios que tem com a JBS, sob a alegação de que as operações de crédito, que segundo o TCU somam R$ 7,5 bilhões, são protegidas por sigilo bancário.

Júnior ainda tem capital político e pode migrar para base 

O empresário José Batista Júnior tem um capital político considerável: pelo menos 50 prefeitos de Goiás são hoje gratos à ajuda do peemedebista durante as eleições de 2012. Friboi efetivamente ajudou na eleição, com visitas, encontros e o suporte sempre necessário para mover a máquina da campanha.
Sem carisma político, contudo, resta ao empresário o poder que resta: faturas a receber e mais dinheiro. Dentre os planos políticos, se inclui o de permanecer no PMDB e procurar as prefeituras para descontar a fatura no próximo ano. Com a reeleição dos gestores, ele teria uma organização antecipada de campanha para 2018.
Com o aparecimento de Ronaldo Caiado (DEM), contudo, a situação está delicada. A ala irista se reúne semanalmente com o senador democrata, que é hoje, já com pesquisas qualitativas, o favorito para comandar Goiás a partir de 2018.
Mas se engana quem pensa que a base aliada não articula. Um deputado tucano consultado pela reportagem, contudo, diz que o “jogo está aberto”: “E quem garante que Friboi não seja o candidato da base? Ele e Vanderlan podem criar um novo polo, já que perceberam que não existe espaço para uma terceira via”.

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