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POLÍTICA

Denúncias de Demóstenes mudam cenário político

Tudo caminhava como num roteiro pré-escrito: o senador Ronaldo Caiado (DEM) era o queridinho da Globo e da mídia anti-PT; o PMDB se acertava com o DEM e com o PTB para 2016 e 2018; o governador Marconi Perillo (PSDB) tocava o ajuste e vitaminava a candidatura do vice, José Éliton (PP), à sua sucessão e o PT, em Goiânia e em Goiás, era carta fora do baralho. Mas na terça-feira, 31, o artigo do ex-senador Demóstenes Torres (DEM) nas páginas do Diário da Manhã mexeu no scripit e pode mudar o final da história.

Na política o imponderável tem força devastadora. Em 1990, o ex-prefeito de Rio Verde Paulo Roberto Cunha (PDC) crescia nas pesquisas e, com empurrão do governador Henrique Santillo (PMDB), ameaçava a candidatura de Iris Rezende Machado ao governo. Um acidente de carro, nas proximidades da cidade de Edeia, mudou todo o quadro. Iris internado, à beira da morte, causou comoção em todo o Estado. O ódio ao cacique peemedebista transformou-se em solidariedade, e Iris venceu aquela eleição perdida.

Caiado vinha cavalgando índices crescentes de popularidade, montado no cavalo da hipocrisia, que foi arreado nas baias de um partido tomado de denúncias graves. O DEM míngua desde que o ex-governador José Roberto Arruda (DEM-DF) foi pego com a mão na grana, no mensalão do DEM. Amiudou-se mais ainda na CPI do Cachoeira, que mostrou relações não republicanas entre Carlos Cachoeira, a revista Veja, a construtora Delta, levando à cassação do mandato de Demóstenes Torres. A denúncia de propina de R$ 1 milhão ao presidente da sigla, o senador Agripino Maia (DEM-RN), foi a pá de cal, o fim da linha para o partido, que nasceu das entranhas da finada Arena (legenda de sustentação da ditadura).

Em Salvador, o prefeito ACM Neto (DEM-BA) negociava a fusão da sigla com o PTB ou com o PSDB. Qualquer destas alternativas dava a Caiado um palanque junto com o PMDB de Goiás para enfrentar o Palácio das Esmeraldas.  Agora, tudo está no ar. Caiado terá que voltar suas baterias para se defender do ex-aliado. O DEM perde seu principal nome no cenário nacional e deve acelerar a fusão, incorporação com outro partido.

Ficou bom para quem, afinal, a crise no DEM? Quem colhe com a bravata entre Caiado e Demóstenes? O governo? Certamente não.  No artigo, Demóstenes lança novas suspeitas sobre o encerramento da CPI do Cachoeira:

- “O PSDB resolveu salvar Marconi Perillo, que gastou uma fortuna dos cofres públicos para custear sua absolvição”. Mais à frente lança novas acusações: “Caiado não ousou me defender, me traiu, mas em relação a Agripino Maia, figura pouquíssimo republicana,  disse que ele merece o benefício da dúvida. Poucos sabem, mas o político potiguar e seus companheiros de chapa em 2010 foram beneficiados pelo “esquema goiano”, com intermediação de Ronaldo Caiado”.

Todo mundo está no meio do balaio cuja tampa Demóstenes Torres destampou: Caiado e o DEM, Marconi e o PSDB e de quebra, o PMDB e o PTB. Indiretamente, a briga entre ex-aliados  beneficia o PT da presidenta Dilma Rousseff e do prefeito Paulo Garcia, que saem da alça de mira da mídia.

Mas o que as palavras de Demóstenes Torres revelam é aquilo que tanto o DEM quanto o PSDB e o PMDB não querem admitir: que o sistema de financiamento empresarial de campanhas é a mãe da corrupção. Demóstenes insinua que Ronaldo Caiado, Agripino Maia e Marconi  Perillo se beneficiaram de recursos não contabilizados de empresas. Traduzindo, suas campanhas teriam recebido dinheiro do caixa dois, incluindo aí (supostamente) dinheiro dos caça-níqueis de Carlos Cachoeira.

Há muito o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff se empenham na reforma política, tendo como principal mudança o fim do financiamento empresarial de campanhas políticas e a instituição do financiamento público. E desde sempre, os partidos que fazem oposição ao Palácio do Planalto, e também o PMDB, são contra.

As denúncias de Demóstenes Torres são mais um capítulo de escândalos da política que tem como fio condutor o mesmo roteiro:  aliados que se unem pela conquista do poder, ancorados por esquemas de financiamento empresarial, e que depois rompem, jogando merda no ventilador.

Tempos difíceis para o Palácio das Esmeraldas, para o DEM e aliados se avizinham. O governo do Estado enfrenta grave crise financeira, consequência de erros do passado e das dificuldades pelas quais o País passa. O hegemonismo no qual o marconismo (herdeiro do irismo) se embrenhou cobra a conta de se manter uma base tão grande e de interesses tão variados. O lacerdismo tardio de Caiado, que postou-se como juiz da República, acima do bem e do mal, desmorona com as acusações do ex-parceiro.

Nada será como antes para Demóstenes, Caiado, Marconi e aliados. Novos atores podem despontar neste cenário onde as vestais da rua de cima comportam-se como as putas da rua debaixo.

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