Home / Política

POLÍTICA

Dilma cede a PT e se aproxima de esquerda

Sob influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff deu início a um esforço de reaproximação com centrais sindicais e movimentos sociais que apoiaram sua reeleição no ano passado. O afastamento da petista dos grupos que compõem a base social do partido vinha sendo criticado pelo comando nacional do PT, que considera estratégico o movimento para superar a crise enfrentada pelo Palácio do Planalto.

Com o propósito de restabelecer a relação, a Secretaria-Geral da Presidência da República articula, para as próximas semanas, agenda de encontros e reuniões da petista com movimentos sociais, entre eles entidades de defesa dos direitos humanos, da igualdade racial e de gênero e de combate à miséria.

A petista informou ainda ao presidente nacional do PT, Rui Falcão, que até o final deste mês marcará uma data para um encontro, no Palácio do Planalto, com centrais sindicais historicamente ligadas ao partido.

A principal delas, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) tem feito críticas públicas ao ajuste fiscal promovido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Além disso, a própria Secretaria-Geral deve passar por uma reestruturação. O governo federal pretende dar status de secretaria aos departamentos de Diálogos Sociais e de Participação Social, em uma demonstração de comprometimento do governo federal com as entidades civis.

O movimento de reaproximação da presidente teve início na semana passada, quando ela abriu espaço em sua agenda para se reunir com representantes do Conselho Nacional de Saúde e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura.

Em outro aceno para as bases sociais do partido, a petista se posicionou contra a redução da maioridade penal.

Em conversas recentes com petistas e sindicalistas, Lula se queixou da atuação da presidente diante do atual momento de turbulência.

O petista avaliou que Dilma precisa reagir, considerou que ela tem de se aproximar das bases sociais do partido e lembrou ter contado com o apoio das centrais sindicais durante a crise do mensalão, em 2005. “Dilma, se tem gente para te defender para sair dessa enrascada, é esse pessoal aqui”, discursou na última terça-feira (14), em evento na capital paulista, apontando aos sindicalistas presentes.

Michel Temer

O vice-presidente Michel Temer (PMDB) ganhou status novo no Planalto. De “conspirador” da República, como era chamado até poucos dias atrás por ministros próximos à presidente Dilma Rousseff, o peemedebista foi promovido ao posto de “resolvedor-geral” da Esplanada.

Não muito tempo atrás, ele precisava acionar o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, quando tinha algum assunto urgente para tratar com a presidente Dilma. Não era chamado para reuniões nem procurado quando o PMDB, seu partido, causava problemas em votações importantes no Congresso Nacional.

Mas a crise política e econômica, que o governo enfrenta, mudou o papel do vice na configuração da Esplanada.

Nomeado articulador político no último 7 de abril, após sucessivos fracassos de ministros petistas no comando das negociações com o Legislativo, Temer já falou mais com Dilma nas últimas duas semanas do que durante todo o primeiro mandato.

Depois de quatro anos no ostracismo, já não há um dia sequer em não fale com a petista. Sua agenda ficou pequena diante das demandas. Governadores, senadores, deputados e prefeitos passaram a disputa audiências com ele.

O assédio saltou do zero ao dez em duas semanas. “Passei mais de um mês sem conseguir falar com ela.

Hoje, já conversamos oito vezes e não é nem meio-dia ainda", relatou o vice a aliados, nitidamente surpreso com a mudança da rotina na relação com Dilma.

TESTES DE FOGO

Além de reduzir o nível de instabilidade com o PMDB e demais partidos da base, Temer tem diante dele dois testes de fogo: aprovar o pacote fiscal elaborado pelo Ministério da Fazenda para salvar a credibilidade do governo e evitar o naufrágio da economia brasileira e operar contra a deflagração de um processo de impeachment na Congresso.

O presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem reiterado publicamente não haver elementos para tanto, mas caberá ao vice-presidente a tarefa de garantir que esse posicionamento do correligionário se mantenha diante da pressão cada vez maior dos partidos de oposição, que vem aumentando o tom contra a presidente nas últimas semanas.

Trata-se de algo curioso. Até fevereiro, circulava na Casa Civil a versão de que Temer estimulava a revolta das ruas para ser o beneficiário direto de uma eventual deposição presidencial.

Possivelmente, por essa razão, ponderam auxiliares de ambos os lados, demorou tanto para que a petista colocasse na articulação política de sua gestão um nome que presidiu a Câmara por três vezes e que, apesar de não ter o mesmo poder que no passado, ainda exerce grande influência no PMDB. Entregar o cargo de embaixador político do governo era uma sugestão antiga do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas que Dilma renegava com frequência. A escolha só virou realidade quando já não havia muitas alternativas ao alcance da mão da petista.

Apesar da pouca fé palaciana, Dilma tem feito elogios nos bastidores ao vice. Sempre que o assunto aparece, diz que Temer é “habilidoso”, “fala a língua do PMDB”, e já diminuiu um pouco a temperatura da atual crise.

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias