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POLÍTICA

Para agremiações que nada têm a dizer de novo ao eleitor brasileiro, os partidos brasileiros saem muito caro à cidadania

Manoel Marcondes Neto, Especial para o Diário da Manhã

Sabe-se que a democracia é um regime caro. Mas que pelo menos funcione!

O Congresso Nacional deu sinais controversos em matéria eleitoral. Ao mesmo tempo em que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou o voto distrital para cidades com mais de 200 mil habitantes, seu plenário aprovou a triplicação do Fundo Partidário, elevando-o a quase R$ 900 milhões.

Para se ter uma ideia do montante, basta saber que tal quantia é aproximadamente o que o Ministério da Cultura executa de gastos em um ano inteiro no País todo!

Ou a Cultura é “desimportante”, ou alimentar as máquinas partidárias ficou importante “demais”. E isto por quê? Por causa da Lava Jato? Por causa das decorrentes dificuldades de caixa das “empresas-mãe” das doações eleitorais? Por que “na marra” alguns partidos querem impor o tal do “financiamento público de campanhas”?

Nada disso. Os parlamentares brasileiros vivem em palácios. Em Brasília e nas capitais, são como nababos sempre cercados de “aspones” para abrir-lhes as portas, digitarem (se não redigirem) seus discursos e levarem envelopes, mochilas e malas daqui para lá e de lá para cá.

O Observatório da Comunicação Institucional (OCI), ONG focada na análise do discurso organizacional, fez um levantamento sobre o que dizem "de si mesmos" os partidos políticos brasileiros. O levantamento aconteceu no período compreendido entre 19 de agosto e 10 de setembro do ano passado, a tempo , portanto, de oferecer resultados ao eleitor, antes do pleito de 5 de outubro.

O OCI constatou que está difícil para o cidadão brasileiro perceber diferenças entre os 32 partidos que compõem o espectro eleitoral e fizeram parte das eleições de 2014. Há siglas “prontas” esperando registro no TSE, como é o caso da Rede. E mais outras em processo de formação.

Tipicamente, o cidadão – obrigado a comparecer às urnas, pela legislação eleitoral – deixa a decisão para a última hora, e fixa-se em nomes de pessoas. Além disso, no máximo, guarda o número da legenda do candidato – porque é assim que se vota. Depois das eleições, se esquece em quem votou... e que dirá do partido ou coligação?

E o eleitor fica completamente perdido para escolher em qual candidato votar se quiser achá-lo a partir de um partido. O que o cidadão deve fazer? Procurar um diretório de partido em sua cidade ou bairro? Telefonar? Entrar no “website” da agremiação política? Buscar no Google?

Na pesquisa, o OCI preparou "fichas" individuais de tudo o que os partidos políticos falam sobre si mesmos, ou seja, sua comunicação institucional, tanto em seu próprio domínio como, também, o que aparece na Wikipédia – primeira e, para muitos, única parada para obter informação na internet, o ambiente escolhido para o levantamento.

O relatório final da pesquisa OCI não mostra qualquer viés, escolha ou crítica da Babel, a qual iguala a todos que, ao prometerem tudo, nada dizem de claro sobre suas reais propostas – aquelas nas quais o eleitor depositará seu voto, para além de um nome e um número, que pela legislação atual basta, uma vez que o partido é que definirá quem assume os cargos nas eleições proporcionais. Ou seja, você vota em “A” e o partido indica “Z” para a vaga legislativa.

O infográfico ilustrado neste material ajuda a entender porque nada bate com coisa alguma no cipoal das 32 siglas, e foi produzido a partir da elaboração de 32 "fichas" individuais dos partidos políticos brasileiros. Em nota técnica, emitida pela doutora em Comunicação Carol Terra – e especialista em mídias sociais – se dá conta de que os partidos não atribuem importância à sua própria institucionalidade, mesmo sendo as instituições mais importantes nas democracias representativas, ao lado da Justiça Eleitoral, e, por conseguinte, menosprezam a sua comunicação institucional – o que constitui, em minha opinião, desserviço grave à democracia e à cidadania brasileiras.

(Manoel Marcondes Machado Neto, doutor em Ciências da Comunicação pela USP, pesquisador e professor associado da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. É cofundador do Observatório da Comunicação Institucional e líder do grupo de pesquisa "Gestão e Marketing na Cultura” junto ao CNPq. É autor de quatro títulos de referência na área comunicacional e coautor de outros três títulos. Secretário-geral do Conrerp1 entre 2010 e 2012, foi eleito “relações-públicas do ano” em 2013. Edita o portal www.marketing-e-cultura.com.br)

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