Home / Política

POLÍTICA

Assalto ao Tiro de Guerra, Anapolis: a primeira tentativa de luta armada

Anápolis, Estado de Goiás, 13 de novembro de 1964. Meia noite. Com a bênção do bigodudo Ângelo Arroyo, velho comunista aliado de João Amazonas, deputado federal constituinte no ano turbulento de 1946, depois cassado, seis comunistas do recém-criado PC do B [Partido Comunista do Brasil], que nascera em 1962, tomam de assalto o Tiro de Guerra, unidade do Exército Brasileiro, e levam 61 fuzis, telefones e uma farta munição.

Trata-se da primeira ‘operação militar’, no Brasil. Uma espécie de ensaio de luta armada, que seria deflagrada a partir de 1968. Com o surgimento de ações da VPR [Vanguarda Popular Revolucionária], de Onofre Pinto, e ALN [Ação Libertadora Nacional], criada pelo dissidente do PCB, Carlos Marighella, contra a ditadura civil e militar que depôs o nacional-estatista em versão trabalhista, João Marques Belchior Goulart, o Jango.

Integravam a célula revolucionária vermelha de Goiânia, em operação na Manchester Goiana, que executou a operação, o camponês Belmiro Vieira Rezende, o vendedor ambulante Daniel Ângelo da Silva, o trabalhador José Mendes Vieira, o motorista José Valdo Costa, o estudante do segundo ano do científico, como era chamado à época, no tradicional Colégio Lyceu de Goiânia, Neso Natal. Assim como Jaime José Mendes, trabalhador.

- Horas depois, os seis foram presos.

A delação

Proprietário de um Ford preto, um veículo grande, de quatro portas, José Valdo Costa é quem delatou a aventura revolucionária comunista. O último a cair e o único sobrevivente, hoje, em 2017, da ousada ação, em Goiás, é Neso Natal. A polícia política do então governador de Goiás, Mauro Borges Teixeira, fechou o cerco. Com o Dops [GO] e a Polícia Militar [GO]. O secretário de Segurança Pública era Rivadávia Xavier Nunes.

- José Valdo da Costa, delator, acabou solto. As armas, recuperadas.

Treze dias depois do Assalto ao Tiro de Guerra, em Anápolis, o inquilino da Casa Verde, Mauro Borges Teixeira, que rompera com Jango, apoiara o golpe de Estado civil e militar de 1964, mobilizara tropas para impedir resistências em Brasília, capital da República, a 190 quilômetros de Goiânia, é deposto. O PC do B, a partir de 1966, começa a organizar a guerrilha do Araguaia, que explodiria no ano de 1972 e acabaria em 1975.

- Ângelo Arroyo morreria em 1976, na Queda da Lapa [SP].

A prisão

Neso Natal confidencia que amargou apenas quatro meses atrás das grades. O processo tramitava na justiça. Libertado, mudou-se para Ceres, interior de Goiás. A repressão política e militar o encontrou e preparou novos interrogatórios. Apesar disso, não terminou na cadeia. Com receio de nova queda, fugiu, pelo Sul do Brasil, para o Uruguai. Não conseguiu estabelecer-se nas terras onde se encontravam Jango e Leonel Brizola.

- Retornei ao Brasil e transferi-me para o Rio de Janeiro, onde tentei refúgio, frustrado, na Embaixada do México.

Com o tempo nublado no País, o dissidente do PC do B, agora no velho Partidão, do Cavaleiro da Esperança, Luiz Carlos Prestes, um revolucionário entre dois mundos, contrário à deflagração da luta armada, fugiu para Paris, França. Com contatos internacionais, migrou para Moscou, a ‘meca do comunismo internacional’. Na extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas [URSS] morou nada menos do que oito anos.

- De 1967 a 1975. Mantive contatos com Luiz Carlos Prestes, a sua filha, a historiadora Anita Prestes, e Gregório Bezerra.

Inspirado nas ideias de Karl Marx. Friedrich Engels e Vladimir Ilich Ulianov, ‘nom de guerre’ Lênin, advogado de indefectível cavanhaque, ele estudou Marxismo e Leninismo, depois fez o curso de Geologia, viveu em Moscou e Kiev, capital da Ucrânia, uma das 15 repúblicas socialistas naqueles tempos de guerra fria com os EUA, o satã capitalista para os comunistas e revolucionários da América Latina e do restante do mundo.

- Cheguei ao Brasil depois da morte do jornalista Vladimir Herzog, da TV Cultura, assassinado, sob torturas, no DOI-CODI, São Paulo, no trágico dia de 25 de outubro de 1975.

Não custa lembrar: após liquidar as organizações de luta armada no Brasil, como ALN, VPR e VAR-Palmares, a ditadura civil e militar voltou as suas atenções para destruir o PCB. Dez membros do Comitê Central, em 1974 e 1975, integraram a lista dos mortos e desaparecidos políticos. Os dados são da Comissão Nacional da Verdade [CNV] e de levantamento do Projeto Brasil Nunca Mais [BNM] e da lei oficial 9.140 de 10 de dezembro de 1995.

As torturas

- Socos, pontapés, choques elétricos, pau-de-arara, ameaças psicológicas...

Prisões em Santos, São Paulo, no DOI-CODI, Brasília. Com uma tentativa de suicídio, recorda-se. Não aguentava mais tanta porrada, lamenta. Uma violência bruta e cruel, desabafa, com os olhos cheios d´água. Depois, acabou transferido para o Cepaigo, em Goiânia, Goiás. Mais duas tentativas de suicídio, emociona-se. Não reconhecia mais ninguém, nem os integrantes do meu círculo familiar, relata ao jornal Diário da Manhã.

- A saída da cadeia ocorreu em 1977. Dois anos depois, a Anistia. Que não foi ampla, nem geral, muito menos irrestrita.

Amor e revolução

Como a revolução e o amor andam juntos, Neso Natal conheceu na URSS Maria Evguenievna Lell, nascida em Moscou, 26 de fevereiro de 1941, durante a segunda guerra mundial, onde 20 milhões de russos morreram. Ela veio com ele para o Brasil, em 1975. O casal comunista teve dois belos filhos: Maya Lell Natal, hoje psicóloga, e Daniel Lee Natal, farmacêutico. Neso Natal é de 4 de novembro de 1942. História: Carlos Marighella foi executado em 4 de novembro. De 1969. Na Alameda Casa Branca [SP]

- Tempos sombrios aqueles!

  "Ângelo Arroyo morreria em 1976, na Queda da Lapa [SP]” "José Valdo da Costa, delator, acabou solto. As armas, recuperadas”


12-4

[box title="Saiba mais  "]

Veja a relação dos participantes

1 - Belmiro Vieira Rezende, camponês

2 - Daniel Ângelo da Silva, vendedor ambulante

3 - José Valdo Costa, motorista da Ford, de cor preta, quatro portas

4 - Neso Natal, estudante do 2º ano científicodo Lyceu de Goiânia

5 - José Mendes Vieira, trabalhador;

6 - Jaime José Mendes, trabalhador. .[/box]

[box title="Saiba mais  "]

Números

1941 Nasce, em Moscou, Maria Evguenievna Lell

1942 Nasce, em Goiandira, Neso Natal

1964 1º de abril. Golpe de Estado no Brasil

13 De novembro de 1964: assalto ao Tiro de Guerra

15 De novembro. Prisões dos participantes da ação

26 De novembro de 1964: Mauro Borges é deposto

1967 Neso Natal foge para Paris. Depois, Moscou

1975 Ao retornar ao Brasil, Neso Natal é preso

1977 Comunista é libertado do Cepaigo, em Goiás

1979 26 de agosto: a lei de anistia é aprovada

1985 É instalada a Nova República, no Brasil

1988 Promulgada, em 5 de outubro, nova Constituição .[/box]

Fonte: Arquivos de Neso Natal e Diário da Manhã

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias