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POLÍTICA

Movimento une bispos e pastores

As reformas propostas pelo Governo Federal provocaram uma união ideológica de diferentes segmentos religiosos do País. O governo Temer enfrenta agora opiniões contrárias nascidas nas igrejas evangélicas e com apoio explícito da poderosa Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que divulgaram notas oficiais contra principalmente a Reforma da Previdência e recomendam participação massiva dos fiéis na Greve Geral convocada por diversas centrais sindicais para a próxima sexta-feira, 28.
Temores diversos como o aumento do tempo de serviço efetivo para poder aspirar a uma aposentadoria, fim de direitos previstos na Constituição Federal e precarização das relações de trabalho, com o envio de inúmeros artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para o limbo provocaram uma forte reação dos movimentos religiosos. As manifestações de todas as orientações teológicas convergem no sentido de reprovar na quase totalidade as reformas trabalhista e previdenciária e exortam a população cristã a se manifestar de forma aberta contra esses processos legislativos, inclusive com a necessidade de se fazerem ouvir nas ruas.
A primeira a abrir uma cisão bem definida contra as reformas foi a CNBB, falando abertamente sobre a Reforma da Previdência e criticando duramente o que o governo pretende impor à sociedade. Em carta assinada na tarde de domingo, 23, os prelados líderes da CNBB atestaram o inconformismo com o que está desenhado na reforma proposta pelo governo Temer e aumentaram o tom. O Cardeal Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília e presidente da CNBB; o arcebispo de Salvador e vice-presidente da entidade, Dom Murilo Krieger e o bispo auxiliar de Brasília, o franciscano Leonardo Ulrich Steiner assinaram a nota oficial que foi encampada por toda a Igreja Católica do Brasil. A nota faz uma dura advertência ao presidente usando um trecho da Bíblia, do Livro de Amós que lamenta a existência de quem joga a Justiça ao chão e transformam o direito em uma amargura. Mas, o pior foi a entidade colocar sob dúvida os números e as estatísticas apresentadas pelo governo Temer quando ao suposto déficit da previdência. Muito polidos os prelados não ultrapassaram o prudente limite de sugerir que os argumentos do governo faltam com a verdade, mas falam que as informações são “inseguras, desencontradas e contraditórias”.
Para os líderes católicos as conquistas que a sociedade enumerou ao longo das últimas décadas não podem ser vilipendiados e qualquer ameaça “merece imediato repúdio”. Fazendo coro à grita aberta pela liderança da CNBB diversos bispos pregaram em suas dioceses, paróquias, capelas e comunidades de base a participação ativa junto à sociedade organizada na Greve Geral marcada para essa próxima sexta-feira. O arcebispo de Maringá, Dom Anuar Battisti, divulgou vídeo convidando expressamente a comunidade de sua prelazia para a paralisação geral do dia 28 e dizendo que “o povo de Deus eleva sua voz em um gripo por dignidade”. Dia 1º de Maio, Dia do Trabalho, a arquidiocese não fará romaria, mas na sexta-feira todo o povo foi conclamado a participar da Greve Geral.
O arcebispo da Paraíba, dom Manoel Delson Pedreira da Cruz, que foi anunciado pelo Vaticano no início do mês passado, convocou toda a comunidade católica de sua jurisdição para a manifestação. “Vamos parar o Brasil”, pregou o líder, para em seguida emendar em um tom mais duro: “Sabemos que esta reforma implica em tirar direitos adquiridos dos trabalhadores e assegurados na Constituição de 1988. Convocamos todos os trabalhadores a participarem desta grande manifestação, dizendo a palavra que o povo não aceita a reforma da Previdência nos termos que estão anunciando", frisou.
Outra importante liderança da Igreja Católica abriu o verbo contra a Reforma da Previdência e conclamou o povo de uma das mais tradicionais e antigas arquidioceses do Brasil, Olinda e Recife. Dom Fernando Saburido chamou os “homens e mulheres de boa vontade” para a Greve Geral do dia 28 e divulgou um vídeo que se viralizou. No vídeo Don Fernando é incisivo na pregação de que a classe trabalhadora não pode permitir que lhe sejam retirados direitos que foram duramente conquistados.

Injustiça


Os pastores e líderes de igrejas evangélicas batistas, luteranas, presbiterianas, metodistas e congregacionais também abriram bateria contra a Reforma da Previdência, falaram das incoerências da reforma proposta por Temer e conclamam os fiéis à vigilância e orações para que “Deus nos permita construir um país em que justiça social e cuidado com os mais necessitados sejam pauta permanente de nossas políticas públicas”.
Em Votuporanga, interior de São Paulo a Ordem dos Advogados do Brasil e o Conselho de Pastores das Igrejas Evangélicas puxaram o coro e chamaram a população para a Greve Geral, gesto copiado por lideranças de outras cidades. O apoio aberto à greve foi liderado pelos pastores sob o fundamento de estarem declarando “apoio aos trabalhadores e se comprometendo a aderir às passeatas e endossarem o grito de ‘Não às reformas: Trabalhista e Previdenciária”.
Os bispos e bispas da Igreja Metodista buscaram no Livro do Profeta Isaías a justificativa para sua manifestação contrária às reformas de Temer. “E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre”, frisaram os pastores. “É senso comum de várias vertentes de análises que o atual governo executivo, bem como o legislativo vêm tomando medidas que afetam negativamente os empobrecidos do nosso País”, assinalaram.
A legitimidade do movimento previsto para a Greve Geral de sexta-feira decorre da necessidade do povo fazer ouvir sua voz, disseram os bispos metodistas. “Quem falará pelo povo? Acreditamos que o próprio povo tem essa responsabilidade. Para isso deve se utilizar de todos os mecanismos de pressão política para exigir que Deputados/as Federais e Senadores/as e o próprio Governo parem de produzir leis e projetos de leis que tiram ou que diminuam direitos conquistados sob muita luta através de seus órgãos representativos como os Sindicatos, ou pelo próprio povo em movimentos de rua”, asseveram os líderes metodistas.

Proposta


O pastor e líder evangélico Leordino Lopes já foi presidente do Conselho de Pastores de Anápolis por quatro vezes e é uma das vozes mais respeitadas no meio. Ele vai levar o assunto da contrariedade com as reformas de Temer e a Greve Geral para a reunião do conselho nessa quarta-feira. “O que está claro é que o governo não tem compromisso com o povo, principalmente com as camadas mais necessitadas, agindo de forma a prejudicar quem trabalha e aspira uma vida digna. Como cristãos não podemos nos calar”.
Para o padre Luiz Augusto, vigário da Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, em Aparecida de Goiânia, as reformas não podem ser instrumento de comprometimento das conquistas e da dignidade do povo. “Jesus disse que veio para que todos tenham vida e a tenham plenamente, por isto não podemos permitir que o pouco que nossa gente sofrida tenha conquistado ao longo da história seja retirado de forma brutal e profunda”, frisou.
Com a responsabilidade de pastor que acolhe mais de 5.000 pessoas todos os domingos em suas celebrações padre Luiz Augusto conclama seus fiéis a se manterem em constante vigília e oração para a pacificação do Brasil. “Somente com fé, orações e a prática do bem poderemos recolocar nossa nação no rumo correto, da luz e da graça de Deus. Não podemos nos calar, mas não podemos alimentar a maldade e o conflito. Precisamos cobrar de nossos representantes e governantes, mas não podemos deixar de indicar caminhos de luz e de harmonia para todos”, finalizou.

União


Para o presidente da Confederação dos Servidores Públicos do Brasil (CSPB), João Domingos Gomes dos Santos, o momento é de união de todas as forças para impedir que “interesses escusos” retirem direitos e dignidade do povo brasileiro. “A Greve Geral dessa sexta-feira será um momento de união de todos os trabalhadores, sonhadores, sofredores, que lutaram tanto para a reconstrução da democracia e de uma justiça social no Brasil se unirem novamente. Há muito não havia uma convergência de opiniões assim e precisamos aproveitar o momento para recompormos nossas forças e fazer um pacto pela manutenção de direitos e evolução da forma de se congregar trabalhadores”, comentou.
João Domingos assevera que o grande desafio que se impõe a todos os trabalhadores é impedir a agenda política que pretende exterminar a legislação trabalhista, as aposentadorias e as demais políticas públicas de proteção social no Brasil. “Já sofremos muito para construir a democracia no Brasil, além das conquistas que os trabalhadores tivemos. Não podemos permitir que tudo isso seja retirado com base em mentiras e usurpação de direitos do povo sofrido de nosso País”, finalizou.

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