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POLÍTICA

‘A Nova República acabou!’

  • Pesquisador condena artigo da Constituição Federal que define as Forças Armadas como as guardiãs da Lei e da Ordem
  • Doutor em História da UFG afirma ser necessário impedir protagonismo político do Poder Judiciário e cobra controle social
  • Professor insiste que eleição indireta de presidente da República pelo Congresso Nacional é herança da ditadura civil e militar
  • Relações patrimonialistas dos donos do poder ocorrem desde época de construção de Brasília, com ação das empreiteiras, diz


A Nova República, com seus velhos atores, como José Sarney [PMDB-AP], Michel Temer [PMDB-SP], Aécio Neves [PSDB-MG], Fernando Henrique Cardoso [PSDB-MG], Aloysio Nunes [PSDB-SP], Paulo Salim Maluf [PP-SP], acabou. É o que analisa o doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Goiás, David Maciel, 51 anos de idade, bem mais magro.

 – Apesar disso, uma parte desse sistema de representação política, mesmo em grave crise, poderá manter legados da ditadura civil e militar [1964-1985] pós 2017.

Elementos autoritários, como a tutela das Forças Armadas sobre a Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988, pelo velho Senhor Diretas Já, Ulysses Guimarães, que acaba de ser invocado pelo presidente da República, Michel Temer, após as manifestações de 24 de maio, em Brasília, o decreto do Estado de Defesa, que acabou revogado, continuarão, crê.

 – Assim como é necessário impedir o protagonismo político do Poder Judiciário. Uma excrescência. Sem controle externo e social. Que escapa ao direito nuclear, que é o voto.

De Sarney a Collor

Autor do livro, celebrado pelo público e crítica, ‘De Sarney a Collor’ [2012], o professor ataca o atual inquilino do Palácio do Planalto. Um homem acuado que chama os militares, denuncia. O artigo 88 da Carta Magna determina que, para garantir a Lei e a Ordem, as Forças Armadas podem ser convocadas, explica. Uma medida antidemocrática, vocifera o pesquisador da UFG.

 – Com base no artigo, José Sarney permitiu, em 1988, o ataque aos trabalhadores, em Volta Redonda, Rio de Janeiro, ano de 1988, que deixou um saldo trágico de três operários mortos

David Maciel recorda-se que Fernando Henrique Cardoso, o Príncipe dos Sociólogos e da Privataria, teria, no ano de 1997, após a invasão de sua propriedade rural, localizada no município de Ibiúna, próximo de Sorocaba, em São Paulo, mesma cidade do Congresso da UNE que caiu no ano de 1968, também chamou as Forças Armadas para resolverem o conflito.

 – Em 24 de maio de 2017, Michel Temer. Para conter a revolta dos trabalhadores contras as reformas liberais Trabalhista e da Previdência Social. A história se repete: tragédia e farsa.

Patrimonialismo

De linhagem marxista, ele vê relação patrimonialista dos donos do poder. Desde à época de Juscelino Kubistcheck, com o Plano de Metas, 50 anos em 5, as empreiteiras estabelecem uma relação promíscua entre o público e o privado, dispara. É possível apontar conexões, durante a ditadura civil e militar, entre o Governo Federal e a iniciativa privada, insiste o historiador.

 – Emílio Odebrechet mesmo apontou a existência de relações incestuosas há décadas.

Com os áudios de Joesley Batista, que flagraram os malfeitos de Michel Temer, Aécio Neves [MG], senador da República afastado pelo Supremo Tribunal Federal [STF] e presidente nacional do PSDB, substituído no cargo por Tasso Jereissati [CE], além de Rocha Loures [PMDB-PR], suplente de deputado federal, o caminho é a aprovação da PEC das Diretas Já em 2017, frisa.

 – A eleição indireta é uma herança do Colégio Eleitoral, da ditadura civil e militar.

Estado privatizado

O Estado e o Congresso Nacional estão privatizados, ataca. Loteados por homens e mulheres financiados com recursos legais e ilegais do mercado capitalista, vocifera. Empresas, setores da economia nacional e internacional, possuem bancadas, informa. O que se constata é que a democracia no Brasil é deprimida, fuzila. Trocando em miúdos: de baixa intensidade.

 – O sociólogo Florestan Fernandes, morto em 1995, chamava – a de ‘democracia restrita’.

Mesmo essa democracia, frágil, restrita, deprimida, de baixa intensidade, é alvo de ferozes ataques, lamenta. É também uma crise de regime, explica. Já podemos classificá-lo como um ‘Estado de Exceção’, metralha. A Nova República acabou, resume. A saída é a realização de eleições gerais e diretas em 2017, sem financiamento empresarial, recomenda ele.

 – É urgente também mudar a legislação partidária, acabar com os denominados partidos de aluguel, ideologicamente frouxos, aparelhistas, eleitoreiros.

Prisões

O doutor do departamento de História da UFG, David Maciel, acredita existirem elementos comprobatórios para as prisões imediatas de Michel Temer, Aécio Neves e Rocha Loures: por formação de quadrilha, organização criminosa, corrupção ativa e obstrução da justiça. Motivos existem, sim, e o ministro do STF, Edson Fachin, e a PGR deverão examinar os autos, afirma.

 – Já a esquerda brasileira precisa voltar a subir o morro, como dizia o velho Plínio Arruda Sampaio [morto em 2015].

Eleição é vitrine para a apresentação de programa, concepções, táticas e estratégias, explica. Mas não deve ser o único e exclusivo motor de um partido genuinamente de esquerda, observa. O estudioso da história do tempo presente diz que Michel Temer entrará para a história republicana como um traidor, um conspirador, um golpista fracassado, analisa.

 – Michel Temer cairá!

Já Dilma Rousseff entrará para a história como uma presidente da República que abdicou do programa que a elegeu, no segundo turno das eleições de 2014, onde recebeu 54,5 milhões de votos, de corte antineoliberal, destaca. Ela cometeu um estelionato eleitoral, insiste. Na sessão de agosto de 2016, poderia ter denunciado um por um dos senadores envolvidos na lama, diz.

 – O seu julgamento foi uma farsa. Uma pantomima. Ela abdicou de protagonizar uma reação espetacular. O PT acabou contribuindo para fritá-la.

Cálculo mesquinho

O PT errou ao basear-se no fracasso de Michel Temer, para a suposta volta redentora, nas urnas de 2018, de Lula, por eleições diretas, e deixou a democracia, no Brasil, derreter, desabafa. Em nome de um cálculo político imediatista, critica. Mesquinho, pontua. De curto prazo, sublinha ele. O escritor pretende lançar pelo menos três livros até o mês de dezembro de 2017.

 – Integram a relação: ‘PT – De Lula a Dilma Rousseff e ao impeachment’; ‘Coletânea de Textos da ditadura civil e militar à Nova República’; ‘Marxismo, História e Política’, em dois volumes.

É necessário impedir o protagonismo político do Poder Judiciário. Uma excrescência. Sem controle externo e social. Que escapa ao direito nuclear, que é o voto   Velhos atores da Nova República: José Sarney, Michel Temer, Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso, Aloysio Nunes, José Serra, Paulo Salim Maluf

David Maciel, doutor em História

Perfil

Nome: David Maciel

Formação: Doutor em História

Instituição: Universidade Federal de Goiás [UFG]

Idade: 51 anos

Linhagem: Marxista

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