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CULTURA

Resenha do disco de Diego Mascate

Oscar Fortunato, Especial para Diário da Manhã

Do alto da montanha, um Cristo de braços abertos observa a pequena cidade. Embaixo, uma mão de aço e concreto espera que algo caia do céu. Não sei quem foi Senador Canedo. Talvez tenha sido um bom homem ou quase isso. Política não é lugar para um homem bom.

Lá, eles tratam sua própria água! Que Saneago, que nada! Exatamente aí que está o segredo de Senador Canedo ter tanta gente produzindo tanto. O mistério dessa energia que não se entrega às pauladas das avenidas. A água benta ou batizada de Senador Canedo é o elixir dos punks, dos bregas e dos poetas.

E um grande apreciador dessa água psicodélica que corre nos encanamentos da cidade é o compositor e cantor Diego de Moraes. Menino elétrico ligado nos 220. Ele canta solo, tem uma dúzia de outros projetos e ainda atua. Quando canta, vira mascate. Diego Mascate está lançando seu novo álbum com canções recentes.

Dizem que santo de casa não faz milagre. Enorme bobagem, pois conheço um monte performando milagres a “revestrés” por aí! Todo artista goiano é um milagreiro. Dentre os muitos milagres de Diego, está a enorme capacidade de surpreender. Surpreender um amigo é tarefa árdua. E estou surpreso, muito surpreso!

O CD tem 12 músicas, 11 dele e uma de Plato Divorak. Grande mérito de Diego é falar a nossa língua. Ele canta em goianês! Palavras como imbira, garupa, “pouquim” vão passando entoadas pela voz do trovador. Maravilhoso ouvir alguém cantando que “você pisou na bosta e depois sujou o meu sofá com seu tênis bege encardido” ou “daí você muntou na minha garupa e nessa bike a gente foi e foi”. Versos de uma das minhas faixas favoritas e hit lá em casa.

Gosto muito também de Antes que eu enlouqueça, onde ele desabafa que não é “pedra para ser lapidada, não senhor” e também confessa “já bati muita punheta pras pessoas tão amadas, das mais lindas às mais enfeitadas”. Quem nunca?

Diego dilui nas águas canedenses pastilhas efervecentes de Odair José, Tom Zé, Jovem Guarda e Alvarenga e Ranchinho! Bebe das fontes da tal “vanguarda paulista”. Diego não quer ser o Dylan. Ele quer ser o Itamar, o Arrigo, o Sérgio Sampaio. Ele quer ser o Diego Mascate. Ele é nossa pérola, nossa pedra bruta e doce! E, falando em pedra, ele termina o disco dizendo “quem nunca atirou a primeira pedra? Venha me apedrejar”. Apedreje ele, mas antes escute seu evangelho. Deixem um santo de casa continuar operando milagres. E, por obséquio, traga uma garrafinha da água de lá pra mim.

( Oscar Fortunato é um artista multimídia. Seja seu trabalho como cartazista ou suas serigrafias em camisetas durante o colégio, seja em canvas, linoplasto ou papel, sua experimentação parece só ter fim quando ele encontra aquilo que estava procurando: o novo.

No Jardim Europa, em Brixton ou no Setor Sul, Oscar nunca se aquietou ou se contentou com onde já havia chegado. Se sua arte pode ser encontrada nas ruas, Oscar também traz a rua para sua tela. O punk, a música e suas convicções são o prumo de sua criação, um barco que parte toda manhã e sempre traz algo novo do outro lado do oceano.

Seu trabalho pode ser encontrado na Plus Galeria e nas ruas de Goiânia)

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