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Música caipira de luto

Rariana Pinheiro, Da editoria DMRevista

Os fãs e simpatizantes da música sertaneja, especialmente de raiz, ficaram com a voz embargada nos últimos meses. Pois 2015 nem bem começou e já trouxe, em curto espaço de tempo – com apenas cinco dias de diferença –, a morte de José Rico e Inezita Barroso. Mas antes as violas andavam baqueadas, já que em fevereiro também deixava este mundo o cantor e compositor Zé do Rancho.

Sempre ativo e atuante, talvez morte mais surpreendente do mundo musical deste ano tenha sido a de José Rico. Ao contrário de Inezita Barroso, que ficou hospitalizada quase 20 dias, até o final da vida o compositor de Estrada da Vida trabalhou e parecia esbanjar saúde, no auge de seus 68 anos. Ano passado se aventurou até na política, ao se lançar, sem sucesso, como candidato a deputado federal por Goiás.

Mas no mundo musical sua garganta ainda era de ouro. Ao lado do parceiro de palco Milionário, fazia em média 170 shows por ano. Foi, inclusive, em uma apresentação que sentiu as primeiras dores nas pernas, sintomas iniciais da insuficiência do miocárdio, desencadeando a parada cardíaca, que o matou, no dia 3 de março.

No entanto, antes de ir, deixou pegadas firmes na música nacional. Ao todo foram 43 anos de carreira e mais de 30 milhões de discos vendidos. Seus primeiros passos rumo ao sucesso ele começou a dar no dia 20 de junho de 1946, data em que nasceu em São José do Belmonte (PE). Com personalidade inquieta que tinha, morou no Paraná e em São Paulo, onde conheceu o companheiro de dupla Romeu Januário de Matos, ou como é mais conhecido, Milionário.

Consolidada no início da década de 1970, a dupla começou a tocar em circos no interior do País e foi ganhando popularidade. Nos anos de 1980 já era uma das duplas mais importantes da música sertaneja brasileira. Nesta década, o sucesso era tanto que eles chegaram até as telonas com os filmes Estrada da Vida e Sonhei com Você.

Ao longo da carreira venderam mais de 30 milhões de cópias. Por isso, a estrada longa da vida musical, José Rico, o final da corrida não deverá chegar ao fim com sua morte. Ao inovar e trazer influência de diversos estilos no sertanejo, como ritmos nordestinos e de outros países da América Latina, suas canções viraram praticamente hinos da música sertaneja.

Não há quem não saiba pelo menos alguns versos de Amor Dividido, O Tropeiro, A Carta e Estrada da Vida, claro.

Dama do sertanejo

Já Inezita Barroso se foi aos 90 anos, no dia 8 de março. Porém, só deixou este mundo após dar lindas e concretas contribuições na preservação da cultura popular brasileira. Nascida em uma tradicional família paulista, escolheu a linguagem simples e versos cativantes da música caipira.

Em 60 anos de carreira, gravou mais de 80 discos. E além de cantora foi instrumentista, arranjadora, folclorista e professora. Como intérprete, sua gravação mais famosa foi Moda da Pinga, em que esbravejava: “Co’a marvada pinga é que eu me atrapaio/ Eu entro na venda e já dô meu taio/ Pego no copo e dali num saio/ Ali mesmo eu bebo, ali mesmo eu caio/ Só pra carregá é queu dô trabaio, oi lá!”

Acompanhada pelo jeito, carisma e sem frescuras, ela fez carreira ainda na TV. Com intenção de preservar a música caipira, foi a primeira cantora contratada da Record. Passou ainda pela extinta TV Tupi e outras emissoras, até chegar à TV Cultura, onde comandou o programa Viola, Minha Viola, que começou a apresentar na década de 1980 e só parou no ano passado, pela saúde, já debilitada.

Sua colaboração foi tão ampla e intensa, que Inezita chegou a ganhar o título de doutora honoris causa em folclore e arte digital pela Universidade de Lisboa. Ela atuou também no cinema e teatro.

Abre a porta mariquinha!

Se no final da década de 1980 todos puderam se encantar com os filhos ainda crianças de Chororó – Sandy e Júnior – cantando Abra a Porta Mariquinha, saiba que o dono por trás deste sucesso é também outro nome da música que se foi este ano.

Zé do Rancho, que é avô materno de Sandy e Júnior, deixou este mundo, ainda mais cedo que José Rico e Inezita: ele se foi no dia 16 de fevereiro, aos 87 anos. Ele sofria da Doença de Chagas e estava há algum tempo debilitado.

Foram 71 anos dedicados à música. E no começo era comum cantar acompanhado por sua esposa, Mariazinha. E a convivência com o artista caipira não foi influência apenas para os netos Sandy e Júnior despontarem também na carreira. O contato com o músico ainda serviu como influência para seu genro, Xororó, que, com emoção, no dia do velório, prestou a última homenagem a Zé do Rancho.

“Meus filhos começaram cantando as músicas de seus avós. Eu sempre tive Zé do Rancho como um exemplo. Ele foi um dos pioneiros do sertanejo, a vida dele foi dedicada à música e hoje ele deixou seu legado.

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