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CULTURA

A TORRE NEGRA

CAPÍTULOS: 1. O Pistoleiro; 2. A Escolha dos Três; 3. As Terras Devastadas; 4. Mago e Vidro; 5. Lobos de Calla; 6. Canção de Susannah; 7. A Torre Negra; adicional: O Vento pela Fechadura — Autor: Stephen King (Estadunidense) — 1947

1ª publicação: 1982-2004 (desconsiderando O Vento pela Fechadura, que saiu em 2012) (entre 1978 e 1981 o primeiro livro, O Pistoleiro, foi publicado na forma de cinco contos na revista The Magazine of Fantasy and Science Fiction)

Ian Caetano,Especial para Diário da Manhã

A frase que entre aspas compõe o título desta resenha é exatamente a frase que inicia umas das mais épicas sagas já escritas, considerada a Magnum Opus do autor que hoje é consagrado como o mestre do terror; esta grande obra (tanto qualitativa quanto quantitativamente) pende mais para a aventura e para a ação do que propriamente para o gênero do medo. E como o autor mesmo diz, é uma de suas obras menos lidas (vis-à-vis, por exemplo, A Coisa ou Dança da morte)

Os que me conhecem mais intimamente sabem que não sou dado a livros de fantasia. Não vejo nada de especialmente criticável, apenas não me afeiçoo ao estilo. A única exceção, até o presente momento, foi esta obra. Li-a em um período de pouco menos de seis meses. A saga de Roland Deschain e seu Ka-tetpela terra media (apesar do nome, claramente referenciando uma de suas inspirações, a terra média de A Torre Negra tem pouco em comum com aquela do universo de Tolkien) embalou-me de maneira especial. Vale dizer que o livro tem muito de fantasia, mas não é estritamente deste gênero; contém diversos elementos do épico, da ficção científica, evidentemente do terror e também de romance.

CÂNCER

Foi um dos primeiros escritos de fôlego do autor. O primeiro livro, O pistoleiro, o autor começara a escrever ainda aos dezanove anos. Inspirado principalmente nos Livros de J.R.R. Tolkien O Senhor dos Anéis, nas lendas arturianas e em um poema épico de 1855 chamado Childe Roland to the Dark Tower Came (Childe Roland à Torre Negra Chegou). O autor demorou tempo considerável para findar a obra (há até o caso, não me traia a memória, no epílogo do quinto livro, em que o autor conta ter recebido uma carta de uma idosa à beira da morte por doença – câncer – dizendo-se fã da série e clamando ao autor que não a deixasse morrer sem saber o final), mas não me admira, pois pôr fim a uma saga que foi acumulando tantos elementos complexos não é uma tarefa fácil e, por vezes, sequer desejável.

Já foi adaptada para os quadrinhos e tem um arrastado dilema para ser levada às telas (sites especializados sempre soltam rumores aqui e alhures, mas nunca algo de efetivo ou consistente)

A história começa no “deserto que só pode ser definido como a apoteose de todos os desertos”, onde nos deparamos com Roland Deschain, um pistoleiro das terras de Gilead. Neste deserto de terra batida Roland segue a trilha de um homem que, ele acredita, o fará mais próximo de seu objetivo: chegar à Torre Negra. Este homem é o Homem de Preto. Roland é talvez o último dos seus (um pistoleiro), então as discussões não são mais necessárias, mas fato é que ninguém tem certeza da existência da Torre Negra. O que leva Roland a buscá-la, então? O mundo é um mundo “que seguiu adiante”, tomado por pestes, desolado em muitos lugares, ruindo de todas as formas. De uma maneira, que não será revelada na release, chega a Roland a sugestão de que alcançar a Torre Negra (que é o “eixo do mundo”) é, ato contínuo, ter acesso aos meios para frear este processo ou mesmo revertê-lo.

Roland, que carrega consigo um par de revólveres poderosíssimos, tem um código de honra admirável, mas é também irredutível quanto ao seu objetivo, e por isso já fez coisas que outros condenariam e já sacrificou alguns que estiveram ao seu lado.

Passando por cidades com pastoras protestantes loucas; lugares com líderes tirânicos; terras que, dada a exposição a altas doses de componentes tóxicos, são habitadas por seres com horrendas deformidades; para depois dar alguns pulos no nosso mundo – em Nova York, e até mesmo no Maine. E vale perguntar se ele sai do próprio mundo para visitar o nosso ou se ele apenas viaja no tempo…

Tudo isso em um universo tão rico que nem personagens de outras histórias de King são deixados de fora (como o misterioso Padre Callahan, personagem originalmente d’A Hora do Vampiro) e até mesmo o próprio autor vira um personagem.

ADMIRAÇÃO

Não haverá como não achar piegas, mas depois passar a admirar Eddie Dean (um dependente químico a quem escolhas erradas eram a tônica de vida); sofrer para depois felicitar, e talvez sofrer de novo, com o jovem Jake (um jovem que tinha uma relação autista com os pais e que juraria ter morrido embora continuasse vivo); temer, de certa maneira, para depois compreender, Susannah (uma mulher com múltiplas personalidades e que não sem pernas) e apegar-se sobremaneira ao bicho zé-trapalhão Oi. E tratar como se os tivesse realmente conhecido e perdido: o bonachão Cuthbert Allgood e o sóbrio Alain Johns (ambos aprendizes de pistoleiro e amigos de infância de Roland) e a triste sonhadora Susan Delgado (o grande amor de Roland).

Um livro repleto de referências à cultura dos anos entre 60 e 90 (em especial à musica e ao western), com grandes momentos de agonia, apreensão, de genuíno, embora escasso, reconforto; grandes momentos sobre o que é fazer escolhas quando sabe-se ao que elas levam e o que elas tomam.

Estes sete volumes (e um oitavo publicado em 2012 que, cronologicamente, encaixa-se entre o quarto e o quinto volumes da série; mas que não precisa ser necessariamente lido para o fluxo histórico desta); são de fato a obra prima de King, e realmente deixam um apego profundo pelos personagens e pelo universo. E a pergunta que fica para todos os que leram, ao menos os com quem falei, é: e o que vou fazer agora que acabei de ler A Torre Negra?

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