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Arte estampada na pele

Neil Neto,Especial para DMRevista

A tatuagem. Para muitos, sinônimo de rebeldia. Para outros, estilo de vida e a mais pura expressão da arte. Mas e você? O que pensa a respeito dessa milenar técnica de marcar o corpo com desenhos e símbolos?

O que se sabe é que, no contexto da sociedade contemporânea, o individualismo induz muitas pessoas a fazerem de sua pele o local do registro de ideias, valores ou da simples vaidade, mas independente do motivo, o que pode se notar claramente é que a tatuagem nunca foi tão acessível e eclética entre seus adeptos como nos dias de hoje. De acordo com o tatuador Tiago Paiva, essa popularização da tatuagem se dá devido à diminuição do preconceito, que há alguns anos era muito grande e hoje em dia já não se faz tão presente na sociedade moderna. Segundo ele, muitos de seus clientes são pessoas mais velhas e bem-sucedidas em suas profissões, mostrando que o público adepto das tattos já não é mais caracterizado por jovens rebeldes, e isso pode ser um fator que contribuiu para a diminuição da discriminação dos tatuados.

Tiago conta que começou a tatuar ainda na adolescência, e que naquela época o acesso a instrumentos e materiais de qualidade para a produção das tatuagens era muito difícil. Ele afirma que hoje em dia existem empresas nacionais especializadas em materiais para tatuagens que conseguem pôr no mercado produtos de qualidade, o que antes só se conseguia através de importação. Esse fator também pode ter facilitado o acesso de mais pessoas às tatuagens.

O tatuador conta que, além dos jovens, que ainda são maioria entre os adeptos das tattos, existem clientes com profissões que não são muito comuns entre os tatuados. Ele conta que médicos, advogados, policiais, políticos e “celebridades” fazem parte de sua extensa lista de clientes.

Tiago se diz especialista em tatuagens realista de animais e em desenhos orientais, todos com um toque surrealista, marca registrada em seus trabalhos. Ele afirma que cada artista tem um estilo próprio e domina melhor uma técnica específica, fator esse que deve ser bem analisado pelo cliente antes de procurar um profissional para a realização de uma tattoo. “Não adianta o cara chegar e me pedir pra fazer uma tatuagem no estilo new school ou um tribal maori, porque eu sei que não vou conseguir entregar um trabalho de excelência ao cliente. Procuro sempre focar nas minhas especialidades para que meu trabalho seja sempre reconhecido pela qualidade”, afirma Tiago Paiva.

Arte como trabalho

Em entrevista concedida em seu estúdio, o tatuador Tiago Paiva conta que começou a desenhar ainda criança. Segundo ele, o pai, que é médico, também desenhava e pintava, e isso o influenciou. Além dos desenhos, o pai também o influenciou em outra paixão que sãos as esculturas de cerâmica, que assim como a tatuagem é outra arte presente na vida de Tiago. Ele conta que começou a tatuar com 17 anos e que nesses mais de 15 anos como tatuador, já morou em várias cidades, até escolher Goiânia como seu local fixo de trabalho.

Tiago conta que faz em média 50 tatuagens por mês e que sua agenda está cheia até meados do segundo semestre. Ele que não quis revelar valores, afirma que hoje consegue viver bem com a renda proveniente de sua arte.

Ele conta também que existem aqueles desenhos que são sempre os mais pedidos, como as tatuagens de leão, dragão, flores, tigres, buda e muitos desenhos de mulheres como as valquírias.

Tiago ressalta que hoje trabalham em seu estúdio mais quatro artistas tatuadores, e que cada um é especialista em um tipo específico de desenho, deixando seus clientes mais à vontade e seguros na hora de escolher a tão sonhada tattoo.

A tatuagem

Um dos mais conhecidos registros que se tem sobre as tatuagens é do capitão inglês James Cook, quando o mesmo tentava entrar em contato com os nativos do Taiti.

O povo daquela região designava o hábito de pintarem definitivamente a pele de “tatau”, por conta do barulho produzido pelos instrumentos utilizados na confecção de suas tatuagens. No entanto, não podemos dizer que eles foram os primeiros a desenvolverem esse tipo de hábito. O homem de Ötzi, com cerca de mais de 5300 anos, fazia inveja a qualquer aficcionado por tatuagens dos dias de hoje. Em seu corpo foram encontradas mais de cinquenta tatuagens que, de acordo com alguns estudiosos, tinham significações religiosas.

A prática da tatuagem também foi registrada entre os egípcios e os pictos, uma civilização antiga do Norte da Europa. No Brasil, diversas tribos indígenas traziam tatuagens pelo corpo. Os waujás e os kadiwéus são alguns dos povos indígenas que utilizavam da pintura definitiva para expressarem rituais de passagem e reverência a alguns elementos da natureza. Apesar da existência da tatuagem, esse hábito não se popularizou por conta das culturas indígenas.

Foram os marinheiros ingleses, por meio do contato com os polinésios, que difundiram essa prática pelo mundo. A reprodução de feras do mar, caveiras e embarcações demonstrava as aventuras desses homens que se lançavam pelo mar. Sendo os mesmos sujeitos de pouca condição financeira ou influência social, fizeram da tatuagem algo popular entre os guetos, prostíbulos e tavernas frequentadas pela “escória”, ou seja, desocupados, lutadores de rua, criminosos e prostitutas.

Esse tom marginal dado à tatuagem também fazia com que corpos tatuados fossem presença garantida nas atrações circenses dos chamados freak shows. Foi somente na segunda metade do século XX que a tatuagem incorporou os ideais da cultura ocidental. O seu tom contestatório ultrapassou barreiras tornando-se um símbolo de ousadia e personalidade.

Motivações íntimas, delicadas e suaves também incorporaram o mundo das tatuagens. Homens e mulheres de mais idade hoje também tatuam seus corpos. Ela deixou de ser um item exclusivo de uma cultura jovem para tornar-se uma via de expressão da subjetividade.

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