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O breve eterno Noel Rosa

Uma das canções que mais marcaram época no samba, "Com que roupa?", de 1930, vem sendo reproduzida há mais de 70 anos em rádios, programas de TV, rodas de samba, repaginada em propagandas publicitárias, refeita em paródias, entre outras formas. Apesar do ritmo alegre e contagiante, a música autobiográfica conta um pedaço da história dramática do cantor, compositor, instrumentista e boêmio Noel Rosa (1910-1937), que, vitimado pela tuberculose, viveu apenas 26 anos, deixando um extenso trabalho de 257 músicas, sendo vários grandes sucessos, em 7 anos de carreira.

Noel tinha saúde bastante debilitada, e escreveu a canção baseando-se numa estratégia de sua mãe para afastá-lo das noites regadas a cerveja e cigarro, como conta a revista Rolling Stone, em 2008: "Como tantas canções que faria, era autobiográfica por causa de sua saúde frágil, a mãe escondia suas roupas para que não saísse à noite". A importância dessa canção para o samba não se resume ao seu sucesso. Ela faz parte de uma mudança estrutural na forma de se fazer samba que se afastava do ritmo maxixe e baseava-se numa maneira considerada pura do gênero, desenvolvido por compositores do Estácio.

Em artigo científico de 2011 nomeado Noel Rosa: uma poética do samba, a doutora em Educação Mayra Pinto faz uma análise mais aprofundada da quebra que o artista promoveu na década de 1930. Quanto às letras, foi definida uma espécie de forma que é utilizada até os dias atuais. "Nesse momento emblemático da canção (década de 30 do século XX), vários padrões foram estabelecidos. Dentre eles, no que concerne às letras, criou-se o formato da canção composta de um estribilho [refrão] e uma segunda parte, que pode se desmembrar em várias estrofes", escreve.

A forma de escrever de Noel também apelava para jeito popular de se falar, criando uma grande identificação com o público, feito pouco realizado até então no meio do samba. "No caso da obra de Noel Rosa, os traços prosaicos presentes na canção, não só na letra, constituem uma contribuição importante para a criação desse efeito de sentido. Esses traços vão desde expressões populares e marcas de oralidade na letra, passando pela entoação da interpretação", explica Mayra. O trabalho de Noel pode ser apreciado no álbum Noel por Noel, coletânea de canções gravadas pelo próprio nos anos 30.

Redefinições do Samba

Um dos gêneros mais conhecidos da Música Popular Brasileira, nacional e internacionalmente, veio se firmando nas décadas posteriores a Noel Rosa e os sambistas do Estácio, que ajudaram a redefinir o estilo. Inúmeras obras que mesclam o samba aos mais variados estilos musicais foram e ainda vêm sendo lançados. O ritmo é tão marcante que tem influenciado, inclusive, artistas internacionais de várias partes do mundo.

Entre uma imensuravel lista de subgêneros nos quais as águas do rio principal do samba foram desaguadas, alguns foram responsáveis por alavancar artistas nacionais reconhecidos universalmente. O samba-rock e o samba-soul, que movimentaram principalmente a década de 1970, colocaram artistas como Jorge Ben (os discos Tábiua de Esmeralda e Africa Brasil, principalmente) e Marcos Valle em um nível de reconhecimento estrondoso. Até Tim Maia bebeu dessa fonte em Racional Vol 2. O samba-choro trouxe artistas importantes ao cenário nacional na década de 1950, como Nelson Gonçalves, um dos recordistas de vendas do País.

O samba-de-roda, bastante associado a religiões africanas, invadiu as casas brasileiras através do sucesso da cantora Clara Nunes, bastante lembrada até a atualidade. A bossa nova surgiu de uma mistura do samba com o jazz e encantou o mundo através do canto de João Gilberto, e também revelou compositores importantes como Tom Jobim e Vinicius de Moraes. O pagode, gênero criado nos anos 1970, também tomou conta do País nos anos 90 com grupos como o Só Pra Contrariar. Acidentes experimentais também podem ser vistos na história do samba, como é o caso do sombrio Satanique Samba Trio, que em 2007 lançou o álbum Sangrou, obra mais conhecida do grupo.

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