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O domínio sonoro de My Bloody Valentine

Kevin Shields, principal compositor da banda, completa hoje 52 anos

por Leon Carelli.


Considerado um dos músicos mais perfeccionistas dos últimos tempos, Kevin Shields, que nasceu na área de Queens, na cidade de Nova Iorque, filho de imigrantes irlandeses, já contribuiu com várias bandas consagradas do rock alternativo. Como engenheiro de som, produziu para Yo La Tengo, Dinosaur Jr., Mogwai, Experimental Audio Research, entre outros. Ele também já tocou com Primal Scream, e ainda hoje segue na ativa com o My Bloody Valentine, lançando em 2013 o primeiro disco inédito desde o aclamado Loveless, de 1991.

Os pais de Shields se mudaram para Nova Iorque quando adolescentes. Lá tiveram cinco filhos, sendo Kevin o irmão mais velho. O músico viveu em solos americanos até os 10 anos, quando sua família decidiu voltar para Dublin, na Irlanda, por questões financeiras e para poderem ficar mais próximos do resto da família. Sobre o choque cultural que sentiu ao cruzar o oceano atlântico, Kevin comentou que a sensação era de “ir para um lugar mais longe do que poderia imaginar, do mundo moderno para um passado distante”.

A banda

My Bloody Valentine foi formada no ano de 1983, por Kevin Shields, guitarrista vocalista e Colm Ó Cíosóig, bateirista, na cidade de Dublin. A formação clássica da banda, que inclui a baixista Debbye Googe, e a co-vocalista e guitarrista Bilinda Butcher só se concretizaria quatro anos depois, em 1987. A vocalista foi escolhida depois de um árduo processo de audiências e anúncios em jornal, quando todos já estavam perdendo a paciência com Kevin Shields por seu perfeccionismo. Butcher tocava guitarra desde a infância, e despretensiosa, afirmava que cantava e tocava tamborim “com algumas namoradas, só por diversão”.

Após lançarem uma sequência de EPs, o primeiro disco, Isn’t Anything, estreou em 1988. O álbum trouxe grandes sucessos da banda, como Soft as Snow (But Warm Inside), Cupid Come e You Made Me Realise e atingiu o primeiro lugar da categoria indie no Reino Unido. A amplitude alcançada pelo disco também possibilitou a definição de estilo e formação de muitas bandas locais. No ano seguinte teve inicio o longo processo de concepção e gravação de Loveless, que durou quase três anos e marcou profundamente a vida dos membros da banda.

Loveless

No início, a gravadora Creation Records acreditou que Loveless poderia ser gravado em no máximo cinco dias, crença que logo foi se esvaindo devido a vários meses de improdução. A banda perambulou por cerca de 20 estúdios de gravação e contratou mais de três engenheiros de som para conseguir o aspecto preciso que Kevin procurava. Durante o processo de produção, a banda lançou outros dois EPs, que também fizeram estrondoso sucesso.

Em novembro de 1991 o disco finalmente ficou pronto, com orçamento estimado em 250 mil euros. O alto custo de produção teria influenciado na falência da Creation Records, alegação que Kevin Shields nega até hoje. A crítica da época era quase unânime em relação à genialidade do trabalho recém-lançado, mas ele não se consolidou como o sucesso mundial de vendas que a gravadora esperava. A banda foi afastada da gravadora pela demora e custo na produção do álbum e por dificuldades com o temperamento de Kevin.

A sonoridade homogênea de Loveless, um disco pesado de forma não-agressiva, até hoje vem acumulando novos admiradores com canções como Only Shallow, When You Sleep, Sometimes (trilha sonora do filme Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola), entre outras. No ranking da comunidade virtual Rate Your Music, o álbum é considerado um dos 15 melhores de todos os tempos, ao lado de clássicos como Ok Computer, do Radiohead, The Velvet Underground & Nico (1967), Revolver, dos Beatles e Dark Side of The Moon, do Pink Floyd.

O My Bloody Valentine terminaria em 1997, depois de muita exaustão, relacionamento amoroso conturbado entre Shields e Bilinda Butcher, problemas de audição de todos os membros da banda e manias do “líder” Kevin, que ficava dias sem sair do estúdio. Butcher afirma que Shields conseguiu descartar com seu perfeccionismo canções suficientes para preencher dois álbuns quando o grupo ruiu. A banda só voltou a se reunir 10 anos depois para realizar turnês, e o tão esperado sucessor de Loveless, intitulado ‘m b v’, foi lançado em 2013, chamando ainda mais atenção para a banda, que ainda tem como carro chefe o clássico insuperável lançado em 1991.

Shoegaze

A palavra se dá de uma justaposição entre as palavras inglesas shoe (sapato) e gazing (olhando-para, contemplando). Os críticos musicais da imprensa britânica começaram a utilizar essa definição para os artistas do estilo devido à postura deles em palco. Esses músicos tinham, normalmente, o comportamento introspectivo, individual, e mantinham-se em um estado de não-confronto com o público, olhando para baixo, como se estivessem a observar seus próprios sapatos.

A principal característica sonora dessas bandas baseia-se na forma que elas lidam com os efeitos da guitarra, geralmente reverberadas e gasosas, mais preocupadas com o conjunto atmosférico da obra, combinando com outros instrumentos e vocais, do que a nitidez de bases e solos. O gênero é considerado uma ramificação do rock alternativo, e tem ligação com o trabalho de muitos artistas da segunda metade dos anos 80. Além do MBV, bandas como The Jesus and Mary Chain, Cocteau Twins, AR. Kane, Spaceman 3, Ride e Slowdive tem seus nomes associados ao shoegaze.

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