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Carlos Gomes, o mestre da ópera

O compositor Antônio Carlos Gomes, também conhecido como Nhô Tonico (nome que inclusive utilizava em suas dedicatórias), nasceu na cidade de Campinas, São Paulo. Seu pai, Manoel José Gomes. Sua obra mais conhecida, O Guarani, já foi refeita em inúmeras versões, e é tema do programa radiofônico A Voz do Brasil, que passa obrigatoriamente em todas as rádios nacionais às 19h. Ele também foi o primeiro compositor brasileiro a ter sua obra executada no Teatro alla Scala, localizado em Milão, na Itália, e considerado um dos palcos mais importantes da ópera mundial.

O maestro obteve destaque com composições no estilo romântico, e consolidou sua carreira com várias apresentações na Europa. Carlos perdeu sua mãe muito jovem. Ela foi assassinada com apenas 28 anos. Seu pai passava por muitas dificuldades financeiras, diante da obrigação de sustentar os filhos. Sua primeira relação prática com a música se deu em uma banda criada por seu pai, e que contava com seus irmãos como membros. O artista via em seu irmão, José Pedro de Sant’Ana Gomes, um grande companheiro para os momentos de dificuldade.

José Pedro também foi um dos principais incentivadores de Carlos na música.

Seu aprimoramento musical na banda faminiar dividia o tempo do músico com uma segunda profissão, a alfaiataria, onde encontrava sustento costurando sapatos e ternos. Suas primeiras valsas passaram a ganhar forma quando ele tinha apenas 15 anos. A Missa de São Sebastião, sua primeira missa, foi composta aos 18 anos. Era uma homenagem ao pai, e até hoje guarda uma áurea mística em sua sonoridade. Alguns anos mais tarde, já lecionava canto e piano.

O Guarani

Na dissertação Il Guarany de Antônio Carlos Gomes: A história da ópera nacional, escrita por Olga Sofia Freitas Silva em 2011, é possível compreender o contexto histórico da consagrada composição, bem como sua importância até os dias atuais. “O Guarani, ópera escrita por Antônio Carlos Gomes, foi o primeiro drama lírico brasileiro a atingir reconhecimento internacional, e um dos poucos a permanecer no repertório operístico atual.

Tanto a ópera quanto a própria imagem do compositor estão atreladas às representações de uma determinada geração de intelectuais românticos brasileiros (1850-60) sobre o que era a arte nacional, a ópera nacional, e qual a sua importância para o progresso da sociedade”, escreve Olga.

Nesta mesma dissertação, podemos entender um pouco do que se passava na cabeça de Carlos Gomes quando compôs O guarani. O título da canção é inspirado em uma obra de José de Alencar, e tem fortes influências de um chamado ‘movimento indianista’. “O libreto da ópera Il Guarany é uma adaptação do romance de folhetim Guarani, de José de Alencar. Temas retirados da literatura romântica (Byron, Scott, Hugo, Schiller) eram praticamente a norma na ópera do século XIX. Além disso, a temática indianista se encaixa em uma grande tendência da literatura européia do período”, descreve a autora.

Era bastante comum que na época d’O Guarani, as artes usassem temas exotéricos, que colocassem o índio como personagem central. Segundo Olga Sofia, o tema fascinava os europeus, que tinham curiosidade em descobrir o ‘novo mundo’, como era conhecida a América. “Embora um ‘orientalismo’ ou um ‘americanismo’ tenham existido na literatura européia desde que se descobriu a existência de um Oriente ou de uma América, foi a partir do século XVIII, com o colonialismo expansivo da Inglaterra e da França, que essas temáticas se multiplicaram na literatura, desde os famosos relatos de viagem aos romances de aventura em terras distantes”.

Itália

O período que gerou mais visibilidade à figura de Carlos Gomes foi sua passagem pela Itália, em Milão.

No artigo científico Exoticismo e orientalismo em Antônio Carlos Gomes, os autores Marcos da Cunha Lopes Virmond, Lenita Waldige Mendes Mogueira e Rosa Maria Tolón Marin fazem uma visão geral sobre a passagem de Gomes pelas terras antigas, e relatam inclusive impasses envolvendo o músico, que se volta contra com o esquema empresarial operístico italiano.

Na introdução do artigo, podemos ler que “a carreira italiana de Carlos Gomes também foi bem-sucedida, dentro do contexto do contrato de risco que era uma carreira de compositor de óperas na Milão da segunda metade do século XIX. As dificuldades mais patentes, como era de se esperar, apareceram quando Gomes se insurge contra o status quo empresarial”. O comportamento do compositor diante desses assuntos acabou por gerar um status de rebeldia e inconformismo. Tal status se traduz em boa parte de suas obras, e o artigo acima citado nos coloca em contato com essa característica de Gomes, no que os autores definem como uma espécie de dualidade comportamental. “Essa situação de dualidade, de rebeldia ao establishment e de submissão às convenções, se reflete constantemente ao longo da obra de Carlos Gomes. Um exemplo dessa submissão é Salvator Rosa. Entretanto, poucos compositores do período de transição compuseram uma ópera, dentro dos quadros da estética vigente do melodrama italiano, tão personalística e com tanta coesão temática como Gomes em Salvator Rosa”.

Morte

Ainda na Itália, Carlos Gomes foi diagnosticado com um tumor malígno na língua e na garganta. Em 14 de maio de 1895, Carlos Gomes retorna ao Brasil. Ele é recebido pelo povo Paraense, após convite do então governador do Estado, Lauro Sodré. Ele foi encarregado do cargo de direção do Conservatório daquele Estado. Carlos Gomes morreria no ano seguinte, por complicações com os tumores. Seu corpo não foi enterrado em Belém, mas em Campinas, sua cidade natal. Muitos monumentos ao artista foram erguidos em homenagem ao músico, em vários locais do Brasil.

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