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Gaspar Noé lança seu quarto filme

Os limites da liberdade cinematográfica e aceitação por parte do público foram testados mais uma vez por Gaspar Noé, um dos cineastas mais ousados dos últimos 20 anos. O diretor de cinema nascido na Argentina, mas que tem suas produções realizadas na Europa, cita Stanley Kubrick (2001: Uma Odisseia no Espaço, Laranja Mecânica) como uma de suas principais fontes de inspiração. Seus filmes são conhecidos principalmente, pelas cores fortes e luzes que jogam o tempo todo com o público, e pelos temas geralmente considerados tabus sociais. Love, seu quarto filme, tem estreia mundial prevista para o dia 15 de julho, mas já vem criando reações pré-lançamento devido à repercussão de seu lançamento no festival de Cannes, em maio deste ano.

O enredo do filme traz Paris como plano de fundo. Com atores completamente desconhecidos do grande público, , Love gira em torno de Murphy, um estudante de colegial obcecado por pornografia, que demonstra interesse por sua colega Elektra. Ela, por sua vez, tem vontade de praticar sexo com outra mulher. Elektra convida uma amiga, Omi, para uma noite com os dois. Em um sexo a três, ambos os participantes deleitam-se da realização de suas fantasias. O filme é descrito como uma homenagem gráfica ao sexo a três. “De todos os meus filmes, esse é o mais próximo que pude conhecer sobre a existência, e também o mais melancólico”, comentou Gaspar Noé, em nota do diretor inserida durante a apresentação de Love.

O crítico Francisco Russo, em resenha ao site brasileiro Adoro Cinema, faz uma visão geral sobre a exibição do filme. “Nenhum outro filme do Festival de Cannes teve filas tão grandes quanto Love, novo trabalho de Gaspar Noé, exibido fora de competição. Em parte pela fama transgressora do diretor, graças especialmente a Irreversível [2002], mas também porque Noé prometera mostrar (muito) sexo explícito em seu novo trabalho. Promessa cumprida!”. O filme também é muito aguardado pelos usuários do Filmow, rede social de catálogo, avaliação e resenhas de filmes do Brasil.

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Censura

O ministro da cultura da França, Fleur Pellerin, pediu a revisão da classificação indicativa do filme, que, apesar de não ter cenas de violência, gira em torno de um conteúdo sexual bastante denso. Os produtores do filme consideram essa postura de extremo conservadorismo. O diretor Gaspar Noé também expressou sua opinião, que vai ao encontro da ideia de naturalização da sexualidade. “Quando se diz a palavra ‘pornográfico’, as pessoas assustam-se, mas o filme fala sobre pessoas apaixonadas por uma postura sexual. Para representar o sexo, é difícil não filmar a genitália”.

O sindicato dos diretores de cinema da França também reagiu à iniciativa do ministro da Cultura da França, defendendo que a poesia visual de Gaspar Noé não deve ser vista como agressora à mente de adolescentes simplesmente por exibir sexo real. “A moralização do cinema é amiga íntima da censura. É um jogo perigoso. Continuamos convencidos que a poesia, neste caso sexual, do cineasta Gaspar Noé, continuará a ser uma melhor fonte educacional do que a pornografia depravada permanentemente disponível na internet”. Apesar da crítica em defesa ao sexo poético, o sindicato parece manter-se no conservadorismo ao falar das produções da indústria pornográfica que circulam livremente e influenciam a vida de milhões de pessoas da era da internet.

Irreversível (2002)

A primeira vez que Gaspar Noé chocou os festivais de cinema da Europa foi em 2002, com o filme Irreversível, muito comentado por exibir uma cena de estupro protagonizada pela atriz italiana Monica Bellucci, que permanece na tela por cerca de 9 minutos. A cena chocou e dividiu opiniões. Outros momentos de extrema violência podem ser vistos através de assassinatos. Em um deles um homem tem a cabeça esmagada por um instintor de incêncio. O crítico de cinema Roger Ebert, dos Estados Unidos, define Irreversível como “um filme tão cruel e violento que a maioria das pessoas irá definir como inassistível”.

No site Filmow, as resenhas ao filme são em sua maioria positivas. A usuária e resenhista do site Verônica, de 22 anos, justifica as cenas consideradas difíceis de assistir durante o filme com a história dos personagens. “O posicionamento das câmeras, a iluminação, as cores, o deslocamento irregular da direção, tudo é alinhado com o estado de espírito dos personagens ou com a situação que estão vivendo na história, tendo uma estética fascinante. Até mesmo as cenas pesadas e longas não são gratuitas. Sua violência marca a transformação que ocorre com os personagens, o quanto um acontecimento afeta os envolvidos e que não existe um limite para cada reação”.

Enter The Void (2009)

Outro momento de apoteose do diretor veio em 2009 (e nos anos seguintes, devido à dificuldade de ter acesso ao filme em países fora do eixo EUA-Europa, e também por sua longa duração, o que acaba afastando parte do público). O longa-metragem Enter The Void – Viagem Alucinante, mostra a evolução e complexidade visual presente nos filmes do diretor, através da história exibida na perspectiva de primeira pessoa (o que leva o público a uma maior imersão no cenário). Drogas e prostituição estão presentes no filme, que se passa em meio à explosão de luzes coloridas da cidade de Tóquio.

Movimentos de câmera hiper-elaborados, com visões jamais exploradas no cinema, são jogados ao espectador com protagonismo de luzes durante quase três horas. O filme tem início com a experiência do protagonista, Oscar, com DMT, uma droga sintética. Os efeitos desta droga são visualizados pelo público de Enter The Void como se estivessem dentro da cabeça de Oscar. O filme ainda abrange toda uma filosofia de pós-morte, abordando o Livro dos Mortos Tibetano, que diz que no momento da morte somos transportados a um limbo de memórias, até encontrarmos uma oportunidade de nascer novamente.

O efeito alucinógeno-visual do filme é uma das qualidades mais comentadas nos comentários do site Filmow. A usuária Victória Bianchi analisa o prazer visual de contemplação que o filme proporciona a quem assiste. “Intenso, acho que não conseguiria achar outra palavra para descrever esse filme. Com certeza, foi uma das melhores experiências cinéfilas e sensoriais que eu já tive, senti cada momento do filme e estou até agora em êxtase! Não é um filme pra qualquer um, vá com paciência, mente aberta, e mergulhe no filme!”.

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