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Homenagem às centenárias Nice, Goiandira e Nair

O ano de 2015 traz na esteira do tempo da AFLAG os importantes centenários de Nice Monteiro Daher, Goiandira do Couto e Nair Perillo Richter. Todas elas sócias efetivas e fundadoras; muito fizeram pela grandeza intelectual da entidade e de toda a cultura de Goiás.

Vialaboenses as três (embora nascida em Catalão, Goiandira sentia-se vilaboense) nasceram na velha cidade escondida entre as cordilheiras e cortada pelo vale do Rio Vermelho. Trouxeram a goianidade marcada nos próprios nome, como ícones de Goiás e símbolos maiores de toda a gente da terra do Anhanguera. Suas imagens são traduzidas nas cores múltiplas da Serra Dourada em seu reflexo azul-ferrete ao entardecer tristonho, nostálgico e cismarento de Vila Boa.

Elas estão traduzidas em cada telhado patinado pelo tempo e marcado das velhices da terra anciã, mas não aquela cor esmaecida dos dias chuvosos e, sim, a cor verde viva dos dias de sol sobre a Cidade de Goiás, a minha cidade!

Elas estão nas pedras cangas das ruas de Vila Boa onde os pés pisaram o cansaço dos séculos e dos muitos sonhos daqueles que pisaram, também, esse mesmo chão goiano.

Estão nas pedras musgosas dos velhos muros empenados, rebuçados de telhinhas dos becos sentimentais de tantas eras vividas no calor das emoções etéreas. Traduzem, com seus versos, crônicas e telas, os morros que circundam Goiás; nas igrejas seculares em seus sinos nos dobres eternos da alegria dos domingos de missa. Estão na cor das casas com suas janelas diferentes e abertas para a vida e que sobem e descem ladeiras como vias romanas, cochichando confidências que o tempo não foi capaz de apagar.

Assim é Goiás, assim são as três inesquecíveis mulheres da AFLAG, que, vivenciando a arte, souberam manter firme no sendal idealista de suas tão sublimes artes de colocar na tela e no papel, o encantamento das cores vivas da cidade nas areias da Serra Dourada e nas penas magistrais.

Por isso, Goiás e Goiandira, Nice e Nair fundem-se numa mesma beleza de cromo, numa mesma firmeza de verdade e numa mesma aura de sonho doce e evocativo. Goiás se traduz nelas e as mesmas são Goiás, nas suas ruas tão bonitas, subindo as ladeiras de pedras e as escadas de seus casarões seculares onde foram guardados o sonho poético de Luiz do Couto, nas suas Violetas e Lilazes , de Goyaz do Couto com suas Memórias e belezas da Cidade de Goiás e de Yoiô do Couto, com seu livro de crônicas e o sonho do jornal Cidade de Goiás; da vida política de Otávio Monteiro e da cultura jurídica de Antonio Perillo; sustentado por tantos anos na terra mãe dos goianos, nas heranças familiares de tantos valores.

Em pensamento subo as escadas das velhas casas, nas portas descomunais e pesadas; meus sonhos evocam um passado ditoso. Porta da rua, corredor e porta do meio. Dali, no barulho dos passos apressados, nos assoalhos das varandas abertas para os imensos quintais de fruteiras, vejo Goiandira, Nair e Nice, mocinhas que, sorridentes, estendem os braços para o aconchego afetivo e perenal das duas cidades, Goiás e Goiânia; irmanadas pelo mesmo ideal perene da arte e da tradição religiosa tão cara ao povo de Goiás.

Goiandira, Nice e Nair, centenárias. Vidas alicerçadas na arte, no encantamento, no trabalho emérito, no ideal de servir a terra e tornarem-se memória viva de Vila Boa, dos artistas locais, dos sonhadores de outrora e das manifestações intelectuais nos tempos idos. Todas, professoras, pintoras, acadêmicas, dançarinas dos carnavais vilaboenses, nos tempos da antiga capital do Estado e mulheres dedicadas à causa intelectual para o bem de toda a gente e de todas as gerações que sonharam doces sonhos de tempos melhores.

1915 marca o centenário dessas admiráveis mulheres que integraram, em 1969, os quadros da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, atendendo ao chamado afetivo de Rosarita Fleury, Nelly Alves de Almeida e Ana Braga. Foram brilhantes mulheres. Goiandira, ícone maior das artes plásticas goianas, com sua técnica de pintura em areia, ganhou o mundo. Professora, educadora emérita da Polícia Militar de Goiás. Faleceu solteira, quase aos cem anos de idade.

Nice Monteiro Daher escreveu sua história na literatura de Goiás com suas belas publicações e seus discursos belíssimos de improviso em raro talento. Deixou as obras: Lembranças em quatro tempos, Caminhos, Revoada e Velhos Portais. Também chegou quase aos cem anos, na sua bela chácara no caminho de Trindade. Nair Perillo viveu até os 85 anos, cronista sentimental, colaborou com a imprensa e deixou os livros de crônicas Canto de cigarra e Tempo de sonhos.

Partiram elas para outras dimensões, mas deixaram a beleza eternal de seus cantos, nas músicas de seus versos e na contemplação do belo, no brilho das areias da Serra Dourada. Que descansem em paz na glória de seus merecimentos.

mundo2

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