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“Não sou acomodada. Tenho atitude e sei o que quero”

Nascida na cidade de Salvador, em 28 de julho de 1965, Daniela Mercury é cantora e compositora, tendo conseguido destaque por sua obra a partir do início dos anos 1990, trabalhando as possibilidades do axé music com uma roupagem mais pop. Além do ofício que a revelou nacionalmente, também obteve sucesso como dançarina, atriz e apresentadora de TV. Seu primeiro sucesso, a canção ‘O canto da cidade’, de 1992, foi responsável pela explosão de sua carreira, sendo lembrada também como um símbolo de brasilidade em um período difícil da política brasileira: os anos de Fernando Collor no cargo de presidente da república.

O jornalista cultural Helder Maldonado, em matéria especial sobre a cantora para o Portal Sucesso, faz uma avaliação sobre o cenário musical do País no início dos anos 1990, e da influência da política na cultura pop do Brasil. “À época, o Brasil vivia um momento político conturbado, com o impeachment do presidente Fernando Collor e a população repensando a brasilidade como um sentimento legítimo”, afirma. Ele comenta ainda a onda de orgulho nacionalista que invadiu as ruas, o que fez com que ritmos regionais ressurgissem em meio à cena rockeira que embalou os anos 1980.

Para Helder Maldonado, com o Poder Executivo em crise, e a população unida em prol de uma causa em comum, a valorização de símbolos nacionais passou a conseguir um novo destaque.“Esse orgulho repentino de ser brasileiro abriu as portas para o retorno de ritmos locais à mídia. Dessa forma, saía de cena o rock dos anos 80 e voltavam ao palco o samba e a música sertaneja. Daniela Mercury, com seu som étnico e embalado por percussão, encontrou espaço justamente nesse momento”. O impacto de Daniela Mercury na música abriu espaço para várias outras cantoras de axé.

No momento em que surgiu no meio artístico, sua força foi descrita pelo crítico Nelson Motta como justiceira e acolhedora. “uma Iansã vingadora, uma guerreira de espada na mão e pernas de fora, abrindo uma clareira de luz e alegria no meio das trevas ‘colloridas’ (alusão ao então presidente)”. Nos anos seguintes, a carreira de Mercury oscilou para vários estilos musicais, tendo lançado vários hits no estilo MPB ao longo da década de 2000.

No início dos anos 10, passou a ter sua imagem vinculada ao ativismo LGBT, após assumir publicamente um relacionamento homoafetivo com a jornalista Malu Viçosa, com quem casou-se em março de 2013. Antes de se relacionar com Malu, Daniela havia casado-se outras duas vezes, ambas em relacionamentos heterossexuais. Ela é mãe de cinco filhos, dois meninos, gerados por ela mesma, e três meninas que vieram até ela por meio de adoção: Márcia Vanessa, de 17, Ana Alice, de 13, e a caçula Ana Isabel, de 5 anos.

Axé

A palavra axé tem sua explicação entre os adeptos de culturas religiosas como umbanda e candomblé. Significa energia positiva, e é usada como uma saudação. A origem do axé como um estilo particular data-se de meados da década de 1980, em manifestações populares durante o carnaval de Salvador. Vários ritmos já consagrados contribuiram na receita que resultou na sonoridade que conhecemos como axé atualmente. Ao frevo de Pernambuco, foram encorporados vários ritmos afro-brasileiros e afro-latinos, além de reggae, merengue, forró e maracatu.

Os primeiros músicos a sintetizarem música rotulada de axé formaram uma banda no Estúdio WR, no bairro da Graça, em Salvador, no intuito de substituir a atual banda da casa. Dentre esses artistas estavam nomes como Toninho Lacerda, Cesinha, Alfredo Moura, Luiz Caldas, Tony Mola e Carlinhos Brown. Esses músicos deram origem à banda Acordes Verdes. A diversidade de sons foi modelada de forma que desse resultado a um produto homogêneo e bem finalizado, o que chamou a atenção das rádios e emissoras de TV. Uma característica marcante nas letras das primeiras músicas de axé era a memória do passado que levava a um posicionamento sobre o presente.

Apesar do sucesso do axé ter sido garantido na Bahia desde algum tempo antes de Daniela Mercury aparecer, a influência de seu disco “O canto da cidade” promoveu uma mudança na atitude das gravadoras com artistas do gênero,

o que levou o axé ao sucesso comercial em todo o País, como esclarece Helder Maldonado. “O canto da cidade também foi o álbum que mudou o formato da indústria. A partir de então, o axé deixou de ser um gênero sazonal e passou a estar presente em todos os casts de gravadoras e programações de rádio. Logo, Ivete Sangalo, Netinho, Araketu, Asa de Águia e tantos outros conquistariam espaço na mídia e no mercado”.

MPB

Durante sua carreira, a cantora Daniela Mercury já experimentou vários estilos musicais. Entre 2000 e 2004, com a gravadora BMG, deu forma a quatro discos que desviavam-se gradativamente do rótulo axé. Elementos da música eletrônica também foram introduzidos ao estilo de Daniela, originando uma versão da canção Mutante, de Rita Lee e Roberto de Carvalho, um de seus maiores sucessos dessa fase de sua carreira. Nesse período, a cantora foi convidada para a cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz, como representante do Brasil. Lá ela cantou ao lado de Paul McCartney, baixista e vocalista dos Beatles.

Durante sua mudança de estilo, a cantora sofreu várias críticas de fãs mais conservadores, respondendo à pressão de se manter fiel a um estilo musical ao site Nordestewe, com a afirmativa de que é direito do artista experimentar várias fontes de influência para suas canções. “Se invisto sempre no samba-reggae, dizem que sou repetitiva, “axezeira”. Se parto para a MPB como fiz no Clássica, me acusam de prepotente. Se flerto com a eletrônica, me lançam pedras, afirmando que estou perdida. Eu sou uma cantora de Música Popular Brasileira e tenho o direito de experimentar. Não sou acomodada. Tenho atitude e sei o que quero”.

Em comemoração aos seus 50 anos, a cantora prepara um trabalho inédito em sua carreira. Um disco novo, no estilo voz e violão, promete ser o novo desafio a ser superado pela cantora. “Me desafiar. Lógico que é voz e violão, com sotaque de percussão”, afirma. O projeto conta com releituras de clássicos da Música Popular Brasileira, além de resgatar outras músicas importantes que embalaram a carreira de Daniela Mercury. No repertório, canções como ‘Super-Homem – a Canção’, de Gilberto Gil; ‘Que nem Jiló’, de Luiz Gonzaga, e ‘Noturno’, do Fagner, estão confirmadas.

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