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CULTURA

Novos ares da música goiana

Rariana Pinheiro,Da editoria DMRevista

Dois talentos gerados na cena independente de Goiânia, mas que aos poucos vêm atraindo olhares do Brasil, se apresentam no mesmo palco hoje, às 20h (e garantem pontualidade). O cenário da vez não é o dos festivais locais, onde podem ser ouvidas com frequência, mas sim o Teatro Sesc Centro, que irá acolher os shows da banda Carne Doce e da cantora e compositora Bruna Mendez. Em comum, as atrações vão exibir faixas autorais carregadas de personalidade. Outro ponto de interseção é que ambas optaram navegar por um mar de influências musicais e, tais misturas já as fizeram ganhar o título genérico de a “nova MPB goiana”. As performances desta noite compõem a segunda edição da série Máxima Goiás (uma parceria entre o Sesc e a produtora Fósforo Cultural). Conheça, a seguir, um pouco mais sobre estes nomes promissores da nossa música.

CARNE DOCE

A Carne Doce foi criada em 2013 e é formada pelo casal Salma Jô e Macloys Aquino, que se uniram ainda a João Victor Santana, Ricardo Machado e Aderson Maia. O grupo lançou em 2014 o primeiro disco autointitulado e suas músicas carregadas de dualidade – ora são delicadas, ora selvagens - tem ganhado a crítica e palcos nacionais. Já ocuparam, por exemplo, a lista do jornal paulista Estadão, de bandas nacionais que estão prestes a estourar em 2015. Neste ano já apresentaram na Virada Cultural em São Paulo, cidade onde já estão escalados para novos shows. Em conversa com o DMRevista, Salma Jô falou sobre a experiência de tocar em uma “banda-casal” e da influência maior em Elis Regina, que, para ela, se tornou uma espécie de “cantora-mãe”.

BRUNA MENDEz

O que a cantora Bruna Mendez vai apresentar hoje será o derradeiro show baseado no EP  Pra Ela - o primeiro da carreira. Este disco, feito sem maiores pretensões e produzido em casa, juntamente Goiaba (Eduardo Veiga, ex-integrante da banda Gloom), ela já mostrou em grandes Festivais. Foi, inclusive, acompanhada por algumas de suas canções que abriu, no Bananada deste ano, o show de Caetano Veloso. Mas, este EP que carrega influências da bossa nova, dub reggae e das batidas eletrônicas, marca ainda o final de um ciclo. E, depois da apresentação desta noite, Bruna conta que o futuro é incerto. No entanto, uma coisa já sabe: nele terá música. “Eu sei é que vou continuar produzindo da mesma forma; sem pretensão e com calma”,  revelou em entrevista ao DMRevista. Veja abaixo um pouco mais desta conversa.

Máxima Goiás com Carne Doce e Bruna Mendez

Quando: Hoje, às 20h

Onde: Teatro Sesc Centro  (Rua 15, esquina com Rua 19, Centro).

Ingressos: R$ 10 (inteira) / R$ 5 (meia-entrada)

Informações: (62) 3933-1714

ENTREVISTA COM SALMA JÔ

DMRevista – Vocês estão em um momento bom e de reconhecimento nacional. Como definem a atual fase da banda?

Salma Jô – Estamos sim, em um momento bom de reconhecimento da crítica e de conquistar público. Fomos indicados como promessa muitas vezes e estamos nessa fase de cumprir essa expectativa, de provarmos nossa relevância.

DMRevista – Quando você e Macloys perceberam que poderia dar certo montar uma banda juntos?

Salma Jô – Depois que a gente juntou umas seis canções que compusemos juntos, começamos a mostrá-las pros nossos amigos, e como era de se esperar eles reagiram super bem, claro. Mas, mais que isso, eles gostavam mesmo das músicas, faziam elogios realmente autênticos e efusivos, ficavam com a melodia na cabeça, se intrigavam, acho que aí começamos a acreditar mesmo e a elaborar esse casal-banda. O mais legal e o mais chato de ter a banda com o marido é que dormimos e acordamos falando na banda. 

DMRevista – O seu timbre já foi comparado a Gal Costa. Ela é de fato sua maior referência?

Salma Jô – Não, Gal não é uma referência. Acho engraçado quando rola essa comparação, tampouco acho o timbre parecido. Creio que minha maior referência é Elis Regina. Foi a cantora que mais ouvi. Não que seja possível reconhecer essa influência no meu timbre e na minha interpretação, mas ela ganhou pra mim um lugar de cantora-mãe (no caso uma mãe sexy, as vezes explosiva). Eu gosto de ser explosiva porque é como me sinto mais à vontade, é como eu mais me divirto e como sinto que as pessoas mais se divertem também. Tem a influência dos lugares onde a gente se apresenta também, nós somos uma banda mais de casa de shows e festivais que de teatro – apesar de nos darmos muito bem nesse espaço. E eu quero ser ouvida, quero que escutem as letras e que cantem comigo. Mas pretendo explorar interpretações mais suaves nas próximas músicas.

DMRevista – Suas letras, além de amor, tratam questões coletivas, como o racismo, sexismo, vida urbana. Qual a sua pretensão enquanto letrista?

Salma Jô – Acho que eu mais faço colagens de reflexões poéticas que estão fluindo por aí na sociedade. E essas questões políticas sempre nos interessaram, a mim e ao Mac, essa perspectiva de tentar reconhecer nosso lugar no mundo e o porquê dos nossos comportamentos.

DMRevista – E como vocês veem o atual cenário musical brasileiro, tanto o meio alternativo como o mainstream?

Salma Jô – Não faço ideia do que dizer sobre o mainstream. O cenário alternativo é inspirador porque têm muitas bandas e artistas interessantes, excelentes, bonitos. O que você quiser tem; e é também desafiante, é uma ralação sem fim que estamos começando a descobrir.

DMRevista – Pode nos contar quais são os próximos projetos da Carne Doce?

Salma Jô – Ampliar nossa agenda, tocar mais. Faremos mais uma temporada de shows em São Paulo e estamos acertando uma temporada no Nordeste. Também queremos lançar pelo menos dois clipes. 

““Estamos na fase de provar nossa relevância”

Salma Jô

ENTREVISTA COM BRUNA MENDEZ

DMRevista – O que preparou para o show de hoje?

Bruna Mendez – Para hoje temos o show do EP completo (seis músicas) mais outras quatro que fazemos em shows e que não foram lançadas. Este será o último show do EP e, apesar de ter pouco mais de um ano, acabou ficando velho para nós, que o produzimos por quase três anos. Não preparamos nada juntos com a Carne Doce, mas temos um remix, que será lançado em breve. Basicamente: eu fiz um remix de uma música deles e eles fizeram um remix de uma música minha.

DMRevista – Como definiria a cantora Bruna Mendez? Como começou na música?

Bruna Mendez – Eu já não me definiria como cantora. Cantar é só uma consequência do meu processo de produção (letra, música e arranjo). Cheguei há pouco tempo, em 2009. Sempre tive um contato normal com a música, nunca estudei. Fazer música é um processo instintivo para mim, mas sempre ouvi música atenta aos elementos, atenta aos timbres, instrumentos e forma de produção.  Comecei produzindo coisas em casa e mandando para alguns amigos, depois conheci algumas pessoas e montei uma banda (Coletivo Musical), fizemos alguns shows em festivais grandes da cidade, até perceber que ninguém ali tava preparando pra assumir os compromissos de uma banda. Ela acabou durando pouco tempo, uns dois anos. Continuei produzindo sozinha, mas dessa vez já existia um esboço do EP Pra Ela. Produzi esse EP sozinha por dois anos até conhecer o Goiaba , depois, nós o produzimos por mais um ano até ser lançado em maio de 2014, no Bananada. Gostaria de viver em função disso (da música), mas não, o tempo que tenho dedicado a ela (à música) hoje é curto. Talvez até por isso o show de hoje seja o último.

DMRevista – O Ep Pra Ela, vi em algumas entrevistas, que produziu em casa, e este trabalho teve boa aceitação - inclusive fora do País. Como analisa a repercussão deste álbum? Ele surpreendeu suas expectativas?

Bruna Mendez – A repercussão foi boa. Poderia ter sido melhor se tivéssemos feito mais shows dele. O Pra Ela foi o que dava para ser com os recursos que tínhamos naquele momento. Ele não é nem de longe o que esperei, mas é o retrato do que eu era naquele momento e eu até consigo sentir orgulho dessa produção. Ele acabou indo um pouco além porque eu não tinha muitas expectativas.

DMRevista – É notório que a bossa nova te influência bastante. Pode nos contar um pouco sobre as suas referências como cantora e compositora?

Bruna Mendez – Na época em que o EP foi produzido a influência harmônica da bossa nova era realmente um pouco mais presente, mas não era só. Durante o processo ouvi bastante dub e reggae, o que acabou influenciando na forma de estruturar alguns backing vocals. Não tenho referências musicais fortes e muito menos referências literárias. Música pra mim é bem mais simples e leve do que as referências poderiam sugerir. Ultimamente o que tem mexido comigo é Badbadnotgood, Flying Lotus, Grimes, Diogo Strauzs, Rafael Castro e Alabama Shakes.

DMRevista – Me parece que agora você está enveredando para um caminho mais voltado à música eletrônica. Quais serão as "cenas do próximo capítulo" de Bruna Mendez?

Bruna Mendez – Eu sempre fiz arranjos com timbres eletrônicos, mas ao vivo e no EP isso soou um pouco mais orgânico porque no final das contas, a bateria eletrônica foi substituída por uma bateria acústica. Mas nas minhas produções atuais resolvi assumir esses beats. Não tenho pressa pra lançar algo novo e também não sei se algo novo pode surgir com o meu nome. A única coisa que eu sei é que continuo produzindo da mesma forma; sem pretensão e com calma.

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